The Challenger (O Desastre do Challenger) é um filme/documentário de 2013, que mostra como se descobriu a verdade sobre a explosão do vaivém/ônibus espacial Challenger em 1986.
Em parte, faz-me lembrar o filme Apollo 13, porque também é um docudrama histórico. Ou seja, é um documentário que narra um acontecimento histórico e que inclui alguma dramatização dos eventos para efeitos cinemáticos.
O filme segue a investigação do acidente do Challenger, feita por Richard Feynman.
Basicamente, o filme mostra os obstáculos que Feynman teve que ultrapassar para, primeiro compreender o que aconteceu, e depois para expor a verdade.
Quando o vaivém espacial Challenger explodiu a 28 de Janeiro de 1986, somente 73 segundos após o seu lançamento, tornou-se no acontecimento mais chocante da história de exploração espacial americana.
Milhões assistiram em direto na televisão (eu fui um deles 🙁 ) à morte de 7 astronautas, incluindo Christa McAuliffe, que iria ser a primeira professora no espaço.
Uma Comissão Presidencial foi imediatamente criada após o desastre. O objetivo era investigar o que tinha corrido mal.
Mas no meio de tantos lobbies, tantos interesses obscuros, e com tanta gente a resguardar-se, era praticamente impossível saber a verdade.
O objetivo era não se chegar a conclusão nenhuma.
No entanto, o membro independente da comissão (todos os outros estavam ligados a posições políticas ou militares), o bastante famoso Richard Feynman, utilizou as suas ferramentas científicas (o pensamento científico) para “procurar o culpado”.
E conseguiu descobrir a causa da tragédia… contra tudo e contra todos… incluindo contra a burocracia de Washington.
Aliás, ele conseguiu este feito extraordinário de detetive científico, enquanto ele próprio definhava devido a duas formas diferentes de cancro.
O conhecimento, a determinação e a integridade deste incrível cientista tornaram o programa espacial americano mais seguro a partir desse momento.
O filme é brilhante. Retrata bastante bem o que aconteceu. Toda a gente devia vê-lo.
Os jogos de bastidores, os jogos de interesses, são muito bem apresentados.
Não têm nada a ver com as conspirações fantásticas que alguns creem, mas são apresentados de uma forma bem realista e verdadeira.
Também é preciso ter presente que o vaivém/ônibus espacial foi a máquina/veículo mais complexo alguma vez construído pela Humanidade…. com milhões de pequenas peças criadas independentemente por inúmeras entidades.
Por isso, não chegar à causa real do acidente não seria extraordinário.
Ninguém queria se sentir culpado pela tragédia, por isso algumas pessoas tentaram se esconder atrás de termos técnicos que ninguém percebesse. Mas é óbvio que Feynman não se deixou manipular…
Todo o filme mostra também que a investigação científica se faz no terreno, e não sentado ao computador a ler coisas de internet (ao contrário do que pensam os pseudos).
Também se vê um pouco dos pensamentos de Feynman sobre a sua participação no Projeto Manhattan (da bomba atómica).
Logo no início do filme, na sala de aula, Feynman é brilhante e mostra claramente que dizer “palavras bonitas” ou “escrever umas equações”, não é entender as coisas.
Isso serve somente para dar um “ar de entendido” para os mais crédulos, quando na verdade, o entendimento das situações/fenómenos vai muito para além disso.
Feynman era bastante crítico dos manipuladores da informação.
Também achei curiosa a forma de vestir descontraída de Feynman. E de como ele viu o facto de ter que ir para Washington, um problema porque teria que usar gravata.
Não é uma situação surpreendente, porque vejo inúmeros professores universitários nos EUA que dão aulas de t’shirt, calções e chinelos.
Obviamente que o que conta é o mérito académico e intelectual da pessoa, e não a forma de se vestir.
Isto tem toda a lógica, obviamente. No entanto, infelizmente, é um tipo de mentalidade que não se vê, por exemplo, em Portugal, em que se a pessoa “usar fato” é porque é o “senhor doutor”, mas se usar t’shirt então é assumido que “deve trabalhar nas obras”. Dá-se mais valor ao supérfluo do que à substância; dá-se mais valor ao que nada vale e é fácil de enganar, do que ao mérito pessoal e profissional. E depois, em Portugal, recompensa-se esta pobreza de espírito, baseada nas aparências.
Feynman era obviamente contra isto. Qualquer pessoa inteligente o é.
Adorei também a personalidade de Feynman (que já conhecia).
Feynman, como muitos outros génios da ciência, não tinham qualquer problema em colocar sempre a verdade acima de quaisquer sentimentos pessoais, e não tolerava o erro ou o que percebia que era a manipulação feita por outros. Por isso, Feynman era mordaz, sarcástico, rude. Ele deitava completamente abaixo o que os outros diziam, quer fossem chefes, pares, ou assistentes. Ele mostrava claramente como eles estavam errados e como o que eles diziam era estúpido. Ele dizimava qualquer bullshit que lhe davam. Porque o interesse dele era a verdade. Sempre.
(será estranho eu identificar-me com Feynman? 😉 )
No entanto, obviamente, o que mais sobressai no filme é a procura de Feynman pela verdade. A sua “obsessão” por descobrir a causa da tragédia, mesmo com todos os obstáculos que lhe colocavam à frente.
Feynman foi “o único que nunca se conformou com o que lhe diziam. Questionou, estudou, perguntou” (palavras da nossa Vera Gomes).
O filme é assim uma celebração do espírito científico.
4 comentários
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: ))) Um dos filmes mais fabulosos que vi nos ùltimos tempos.
Adorei sobretudo o realismo e a aproximação com a realidade (sim, nos bastidores há muita coisa que se decide….).
E a postura do Feynman: fabulosa! Pena não haver mais pessoas assim! Tenho a certeza que o mundo seria um local bem mais interessante!
Falando em desastre…mais uma notícia de fim do mundo
http://noticias.terra.com.br/ciencia/espaco/asteroide-com-forca-nunca-antes-vista-pode-atingir-a-terra,149006215fad7410VgnVCM10000098cceb0aRCRD.html
Author
notícia de 2011… 😉
http://www.astropt.org/2011/10/14/fim-do-mundo-em-2880/
Republicada em 2014…isso sim que arqueologia na NET…
[…] acidente foi há 30 anos, e muitas explicações foram, entretanto avançadas. No entanto recordo aqui a explicação de Richard P. Feynman (já falamos dele aqui). Richard P. Feynman levou ao congresso […]