Melhor imagem de sempre de galáxias em fusão no Universo longínquo – ALMA aplica métodos de Sherlock Holmes

Galáxias em fusão no Universo longínquo observadas através de uma lente gravitacional. Crédito: ESO/NASA/ESA/W. M. Keck Observatory

Galáxias em fusão no Universo longínquo observadas através de uma lente gravitacional. Crédito: ESO/NASA/ESA/W. M. Keck Observatory

Com o auxílio do Atacama Large Millimeter/submillimeter Array (ALMA), e de outros telescópios instalados no solo e no espaço, uma equipa internacional de astrónomos obteve a melhor imagem de sempre de uma colisão entre duas galáxias quando o Universo tinha apenas metade da sua idade atual.
A equipa usou uma lupa do tamanho de uma galáxia para ver detalhes que de outro modo seriam impossíveis de detectar.
Este novo estudo da galáxia H-ATLAS J142935.3-002836 mostrou que este objeto complexo e distante se parece com as Galáxias Antena, um sistema local em colisão bem conhecido.

Galáxias em fusão no Universo longínquo observadas através de uma lente gravitacional. ALMA (ESO/NAOJ/NRAO)/NASA/ESA/W. M. Keck Observatory

Galáxias em fusão no Universo longínquo observadas através de uma lente gravitacional. ALMA (ESO/NAOJ/NRAO)/NASA/ESA/W. M. Keck Observatory

O famoso detective Sherlock Holmes usava uma lupa para descobrir as pistas quase invisíveis mas importantes dos seus casos. Do mesmo modo, os astrónomos combinaram o poder de muitos telescópios na Terra e no espaço com uma enorme lupa cósmica para estudar um caso de formação estelar vigorosa no Universo primordial.

“Embora os astrónomos se encontrem normalmente limitados pelo poder dos seus telescópios, em alguns casos a nossa capacidade de observar detalhes é aumentada por lentes naturais criadas pelo Universo,” explica o autor principal do estudo Hugo Messias da Universidad de Concepción (Chile) e do Centro de Astronomia e Astrofísica da Universidade de Lisboa (Portugal). “Einstein previu na sua teoria da relatividade geral que, dada bastante massa, a luz não viaja em linha recta mas curvará, da mesma maneira que é refractada por uma lente normal.”

Estas lentes cósmicas são criadas por estruturas massivas como galáxias ou enxames de galáxias, as quais defletem a luz dos objetos que se encontram por trás, devido à sua forte gravidade – um efeito chamado lente gravitacional. As propriedades de ampliação deste efeito permitem aos astrónomos estudar objetos que, de outro modo, não seriam visíveis e comparar diretamente galáxias locais com outras muito mais remotas, observadas quando o Universo era significativamente mais novo.

No entanto, para que estas lentes gravitacionais funcionem, a galáxia lente e a que se encontra por trás dela devem estar precisamente alinhadas.

“Estes alinhamentos ocasionais são bastante raros e tendem a ser difíceis de identificar,” acrescenta Hugo Messias, “no entanto, estudos recentes mostraram que observando nos comprimentos de onda do infravermelho longínquo e do milímetro conseguimos encontrar estes casos de forma mais eficaz.”

Como as lentes gravitacionais funcionam como uma lupa. Crédito: ESO/M. Kornmesser

Como as lentes gravitacionais funcionam como uma lupa. Crédito: ESO/M. Kornmesser

A H-ATLAS J142935.3-002836 (ou apenas H1429-0028, para simplificar) trata-se de uma destas fontes e foi encontrada pelo rastreio H-ATLAS (sigla inglesa para Herschel Astrophysical Terahertz Large Area). Apesar de muito ténue em imagens no visível, esta galáxia encontra-se entre as mais brilhantes encontradas até à data ampliadas gravitacionalmente no infravermelho longínquo, embora a estejamos a observar numa altura em que o Universo tinha apenas metade da sua idade atual.

(…)

Em particular, o ALMA observou a radiação da molécula de monóxido de carbono, a qual permite fazer estudos detalhados dos mecanismos de formação estelar nas galáxias. As observações ALMA permitiram também fazer a medição do movimento do material no sistema de fundo, verificando-se assim que o objeto estava realmente a sofrer colisão galáctica e a formar centenas de novas estrelas por ano. Uma das galáxias em colisão mostra ainda sinais de rotação: uma indicação de que se tratava de uma galáxia de disco antes do encontro.

O sistema destas duas galáxias em colisão assemelha-se a um objeto que se encontra muito mais perto de nós: as Galáxias Antena. Trata-se de uma colisão espetacular entre duas galáxias, que se pensa que teriam estrutura de disco no passado. Enquanto o sistema Antena forma estrelas a uma taxa de apenas algumas dezenas de massas solares por ano, o sistema H1429-0028 transforma mais de 400 vezes da massa do Sol de gás em novas estrelas todos os anos.

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Leia o artigo completo, na página do ESO, aqui.

5 comentários

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    • Leonardo Collins on 03/10/2014 at 00:49
    • Responder

    Como o Universo se expande a velocidades cada vez maiores e como, actualmente, já se expande a velocidades muito superiores à da luz, quando essa velocidade atingir os 3×10^6 Km/s o Universo entrará numa nova fase inflaccionária. A pergunta a por será se a inflacção será permanente ou transitória.

    • Leonardo Collins on 29/08/2014 at 01:24
    • Responder

    Então isso quererá dizer que estamos no início de uma nova fase inflaccionária do Universo?

    1. Porquê?

  1. Carlos, estou com uma dúvida conceitual.

    Vamos supor que esta galáxia está a 10 bilhões de anos luz de distância. Quando a luz que estamos vendo dessa galáxia saiu da fonte, a região onde estamos hoje já existia? Sei que a Terra não existia mas estou falando do universo ter se expandido até o local que estamos recebendo a luz hoje, pois na minha cabeça, se o universo não tivesse se expandido até aqui ele teria que se expandir mais rápido que a luz certo?

    Não sei se minha pergunta foi clara, mas vou tentar exemplificar. Suponha que estamos no limite do universo e ele é uma esfera de 5 bilhões de anos luz de diâmetro. No cento é emitido uma luz e pela teoria só verei essa luz daqui a 5 bilhões de anos. Só que o universo se expande e vamos supor que depois de 6 bilhões de anos a luz chegue até mim. A minha distância em relação ao objeto é de 5 bilhões de anos ou 6? Estou confuso…LOL

    Abraço!

    1. O Universo está-se a expandir a velocidades superiores à da luz 😉

      Penso que este artigo responde à sua pergunta, certo?
      http://www.astropt.org/2009/12/15/tamanho-do-universo/

      abraços

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