Ao que parece, o termo biologia foi cunhado por Karl Burdarch, mas, com o significado que atualmente lhe atribuímos, o termo só foi usado pela primeira vez por Jean Baptiste de Monet, o nosso famoso Lamarck. Todo mundo deve saber que biologia é um composto de βίος (bíos) e λόγος (lógos), onde bíos significaria “vida”. Na verdade, bíos significa também “existência”, a “duração da vida”, os recursos necessários para a vida e, principalmente, o “modo de vida”, o estilo de vida.
Porém, poucas pessoas sabem que há outra palavra em grego para vida: ζωή (dzoé), que vem do verbo ζάω (dzó), que significa viver, passar a vida, estar vivo. Daí vem a palavra ζώιον (dzóion… a grafia em grego está errada, não consegui achar os símbolos, pois o acento no omega é circunflexo e o iota é subscrito, mas quem ligará pra isso?) que significa não apenas animal, como comumente pensamos, mas também “ser vivo”, “coisa viva”. Aqui há um ponto bastante interessante: os animais são considerados os seres vivos par excellence, pois se movem, se mexem, têm animação, têm alma (“animus”, em latim; relacionada a “animus” temos “anima”, que significa sopro, brisa, como em “ad spiratum”, expirado, soprado, que nos dá a palavra espírito. Daí, por sinal, a palavra “animal” em latim – “animalia” é um plural – que significa “animal” mas, também, “ser vivo”). Nada mais natural que a associação entre animais e seres vivos. As plantas, os fungos, com sua imobilidade, não seriam o que se compreende propriamente como “seres vivos”, ou seja, seres com ânimo, movimento; da mesma forma, uma esponja não seria um animal, pelo menos não mais quanto uma árvore o é. Não estou aqui afirmando, devo deixar isso plenamente claro, que os gregos clássicos achavam que as plantas não eram seres vivos, certamente eles sabiam que elas eram. Estou apenas evidenciando uma associação (consciente ou inconsciente) muito mais antiga, entre “seres vivos” e “animais”.
Dessa maneira, o que chamamos hoje de biologia poderia muito bem se chamar zoologia, ou seja, o estudo da vida. Não há nenhum problema com essa denominação. Para evitar a confusão e a polissemia, a atual zoologia, ou seja, o estudo dos animais, deveria ter um nome diferente, e poderia ser denominada, por exemplo, de terologia (de θήρ, thér, que significa “fera”, “animal”… os nomes Eutheria, Metatheria etc., por exemplo, vêm daí).
Mas, além de zoologia, a biologia poderia muito bem ter tido, por acidente, outro nome, se esse nome já não viesse sendo usado há alguns séculos com outras acepções, muitas, por sinal: Física! Em grego, φύσις (phísis) significa natureza, natureza das coisas, maneira de ser. Vem do verbo φύω (phío), que significa nascer, brotar, surgir, crescer. Biologia só não poderia ser chamada física porque, historicamente, o nome já estava sendo usado, mas novamente não há problema algum em sermos físicos, ou seja, aqueles que estudam a natureza. Curiosamente, há a raiz φύσις em biologia, na palavra “fisiologia”, que significa portanto “estudo das coisas naturais”, mas que atualmente, como todos sabem, é usada apenas para designar os mecanismos dinâmicos dos seres vivos.
E, para findar, além de zoologia ou física, a biologia bem poderia ser chamada de… matemática! Esse é um termo mais complicado, que merece uma explicação mais detalhada. Em grego, μανθάνω (mantháno) significa aprender, estudar, instruir-se. O aoristo desse verbo (não nos interessa aqui explicar o que é isso…) é έμαθον, do qual retiramos a raiz μαθ (math). A partir dessa raiz temos palavras como μάθημα (máthema), a “lição”, e μαθητής (mathetés), “discípulo”, “estudante”. Finalmente, μαθηματικός (mathematikós) é um adjetivo, e significa “relativo aos estudos”, “do estudo”. Portanto, toda atividade de estudo é matemática. Logo, não apenas a biologia, mas a química, a física, a geologia, a engenharia, a medicina, a história… Tudo isso é matemática! A razão pela qual apenas a matemática ganhou o nome “matemática” pode ser assunto para uma investigação posterior.
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Conclusão minha. Todo o conhecimento tem por base a Física e a Matemática.
[…] pensado numa postagem passada, é chegado o momento de eu deixar uma ou duas linhas sobre o prejuízo que (alguns) religiosos […]