Ciência versus Religião

god-and-scientist

 

Já aqui falei sobre ciência e religião (ver os Mal-entendidos sobre Ciência e Religião), mas ficou muito por dizer. Irei aqui continuar essa divagação. Assim, este artigo terá também um cunho bastante pessoal. Mais uma vez convido o leitor a comentar, principalmente se encontrar incoerências ou algo com que não possa concordar. (Neste texto, as religiões em foco serão principalmente o cristianismo, judaísmo e islamismo.)

A curiosidade é uma característica intrínseca ao ser humano que se manifesta nas questões em que pensamos. As questões são em geral sempre as mesmas, o que difere são as respostas. Uma questão sem resposta representa algo que desconhecemos, que não controlamos e que por isso tememos. Torna-se então necessário inventar uma resposta para que nos possamos iludir que temos controlo sobre aquilo que receávamos. Este é o papel da religião; ou melhor, das religiões, porque é sempre possível inventar várias respostas diferentes. Em contraste, se apenas aceitarmos como verdade aquilo que podemos provar e verificar com base na lógica e na natureza, descobrimos a ciência (que é necessariamente única).

Um teísta que tenha lido o que escrevi em cima pensará que sou um ateu que ainda não encontrou a “verdade”. Mas o que é a “verdade”? Quem é que o decide? Em quem acreditar?

 

Os representantes das religiões apontam para livros “sagrados” e para a fé. De facto, trata-se apenas de fé: a fé de que os livros sejam mesmo “sagrados”. Para mim é difícil conceber o porquê de se acreditar cegamente e sem espírito crítico num livro. No caso dos cristãos, como explicar que a história de Cristo é uma réplica de outras anteriores? (Em termos históricos é fácil de explicar: os romanos precisaram de unificar os vários povos pagãos do seu império e para isso acataram alguns dos seus cultos pagãos: o Natal é apenas um exemplo.) Como explicar que se tenha decidido que Maria subiu aos céus seis séculos depois da sua morte, sem que haja qualquer evidência disso? Como explicar que Deus é misericordioso, quando no velho testamento nos é desenhado como o Deus interventivo que manda violar, assassinar e até fazer genocídios? Como explicar que no novo testamento envie ao mundo o seu filho personificado, para que este seja torturado e morto?

Para quem olha de fora, este Deus parece mais um psicopata, do que um ser que nos ama. O subterfúgio normalmente usado é que Deus nos transcende e por isso não o podemos compreender. Curioso que tenhamos sido agraciados com um intelecto que nos faz pensar o pior do nosso criador. “Felizes daqueles que acreditam sem ver”? Porque havemos de rejeitar os nossos sentidos? Porque é que a fé tem que ser cega? Porque a natureza e a História nos contam algo diferente.

 

Regra geral, um teísta acredita no poder da ciência sempre que esta não põe em causa a história que a sua religião conta. O contrário é impraticável, porque é indubitável que os carros andam, os aviões voam, e que as lâmpadas iluminam. O problema surge quando as histórias se defrontam.

Os criacionistas defendem que o universo foi criado há alguns milhares de anos atrás, uma visão que vem de uma interpretação literal do livro do Génesis. No entanto, a ciência afirma que a Terra tem cerca de 4,6 mil milhões de anos. Este é um facto que é suportado por inúmeras e independentes evidências experimentais! Rejeitar estas evidências é equivalente a rejeitar tecnologia que usamos todos os dias. A datação radiométrica é apenas um exemplo. O Carbono 14 permite a datação de materiais que o contenham até uma idade de cerca de 60 mil anos: e sim, já foram estudados muitos materiais com essa idade (outras substâncias radioactivas permitem medir noutras escalas de tempo; o Urânio, por exemplo, consegue medir numa escala de tempo equivalente à idade da própria Terra). Notem que em muitos casos é possível confirmar a datação radiométrica através de outras evidências! Alegar que este método está errado seria afirmar que não conhecemos o decaimento radioactivo, e consequentemente um reactor de fissão nuclear funcionava porque sim…

Muitas vezes, quando os criacionistas querem parecer minimamente credíveis, convocam um cientista para os suportar. De facto, não se pode dizer que 100% dos cientistas rejeitam o criacionismo, apenas a esmagadora maioria. Por outras palavras, é sempre possível encontrar alguém que apoie uma idiotice, independentemente da idiotice e do grau académico do idiota em causa. Faço aqui esta nota para que o leitor nunca deixe de ser céptico apenas porque lhe foi apresentado um diploma. Em cima disse que a ciência é una, porém os cientistas não o são.

Enquanto algumas religiões mantiveram o criacionismo literal, outros salvaguardaram-no como sendo apenas uma alegoria. Admitindo que a ciência deveria estar certa na maioria do que afirma, colocaram Deus “apenas” como o criador do universo. Esta atitude, apesar de sensata, não deixa de ser algo cínica. Aquilo que era literal passa a ser uma parábola para impedir que a ciência coloque em causa os escritos sagrados. Quem decide o que é retórica e o que não é? Qual o critério? Se tudo pode ser reinterpretado, parece que nesse caso a religião apenas oferece uma resposta temporária, isto é, enquanto a ciência não se apodera da questão em causa. Este é o chamado Deus das lacunas, ou seja, uma assunção teológica que preenche a ignorância científica. Este é um Deus que perde dimensão à medida que a ciência se desenvolve. Sim, a ciência ainda não é capaz de responder a muitas questões, porém já responde a muitas que tinham sido inicialmente atribuídas ao domínio religioso.

Uma outra questão onde a ciência se tem debatido com a religião é sobre o papel do Homem na natureza. Seremos nós especiais? É agradável pensar que sim. Para quem rejeita a teoria da evolução, é certamente difícil explicar como é que o nosso ADN é 99% coincidente com o dos chimpanzés. Pode até parecer estranho ao leitor que a nossa informação genética seja tão semelhante à desses animais, ainda que o intelecto pareça tão diferente. Mas será que é assim tão diferente? Nós estamos simplesmente habituados a valorizar aquilo que nos diferencia dos outros animais e não aquilo que nos aproxima. A “grande” diferença é que temos um cérebro maior, o que nos permite um pensamento abstracto superior ao dos chimpanzés; tudo o resto é bastante parecido. Não querendo entrar em detalhes, a teoria da evolução é esmagadoramente confirmada por inúmeras evidências. Para os defensores do Deus das lacunas (que é fácil de reconhecer, por exemplo, no catolicismo), a dificuldade está, por exemplo, em definir quando apareceu o “primeiro” Homem, já que os hominídeos anteriores à nossa espécie não são considerados “especiais” como nós.

 

Um leigo poderá argumentar que de um lado temos a ciência que nos oferece tecnologias e do outro temos a religião que nos agracia com milagres, sendo que as tecnologias não diferem muitos dos milagres, pois ambos lhe são incompreensíveis. Em relação aos supostos milagres, convém referir que muitos dos locais onde estes alegadamente já ocorreram são anualmente visitados por milhões de pessoas que também procuram um milagre para elas próprias (normalmente a cura de uma doença). Existem efectivamente relatos de pessoas que dizem terem tido curas milagrosas, porém são em número tão diminuto que, em termos estatísticos, é difícil dar-lhes qualquer valor. Normalmente trata-se de “milagres” que podem ser entendidos como efeito placebo, ou que se justificam de outra forma racional. Em suma, não existem evidências para que se possa afirmar que já tenham ocorrido milagres na história da humanidade. Note-se que se um milagre for entendido como um evento inexplicável aos olhos da razão e da ciência, então sim, já ocorreram muitos milagres no passado: a ciência teve que evoluir para os entender. Como determinar que um “milagre” não é apenas uma manifestação da natureza que a ciência ainda não explicou?

O outro aspecto referido não tem uma resposta fácil. Quando um leigo acredita numa resposta científica está a ter uma atitude de fé, porque não tem nem a formação académica para compreender devidamente a teoria científica, nem tem acesso a um laboratório para que possa comprovar o resultado. Assim, quando um cientista diz que X é X ao leigo, este não tem realmente forma de contestar e de pensar de forma crítica sobre X. A resposta inconveniente é que em última instância o leigo só tem duas opções: ou acredita, ou terá que cultivar o seu conhecimento sobre o assunto, tentando compreender todas as evidências que levaram o cientista a concluir que X é X. A grande diferença entre a fé confiada na ciência e na fé depositada na religião está nesta segunda opção, que no caso da religião não existe. À medida que um teísta se instrui nos ensinamentos da sua religião, obtém cada vez mais respostas. Na ciência sucede o contrário: à medida que o indivíduo enxerga por entre as evidências, novas questões se tornam aparentes. Saber mais é sinónimo de uma melhor consciencialização da nossa ignorância.

 

A religião é muitas vezes defendida pela sua qualidade de definir a moral pela qual a sociedade se deve orientar. Se a existência de pecado for posta em causa, argumentam, o Homem deixará de pensar duas vezes antes de cometer uma qualquer atrocidade. Este é sem dúvida um grande disparate. Primeiro convenhamos que existem muitos países europeus onde a religião tem actualmente uma incidência muito baixa, no entanto, isso não implica que os índices de violência sejam maiores do que noutros países mais religiosos. Eu, como não crente, acho que é triste assumir que o ser humano só se consegue comportar em sociedade se tiver medo de um Deus, e de um tribunal divino que o irá ajuizar depois de morto. Eu acredito que somos capazes de ser altruístas sem termos interesses ulteriores focados no pós-morte. Independentemente daquilo em que acredito, é falso que a moralidade venha de Deus, pois a mesma pode ser encontrada nos animais dos quais evoluímos (obviamente, para diferentes espécies será possível encontrar diferentes “tipos” de “moral”, mas que têm sempre o objectivo de favorecer o bom funcionamento da “comunidade”). De facto, tendo em conta a Teoria dos Jogos, é fácil de perceber o porquê de as espécies terem criado códigos de conduta: estes são necessários para que possam coexistir em sociedade. A sociedade, por seu lado, é crucial para a sobrevivência das espécies, pois em muitos casos só uma organização conjunta permite uma protecção efectiva do grupo, bem como a captura de presas. Neste caso, pode-se afirmar que o todo (sociedade) é “mais” do que a soma das partes (indivíduos).

Aliás, até nem é difícil reconhecer que actualmente a generalidade das sociedades menos religiosas se guiam por uma moral superior àquelas mais religiosas, pelo menos no que diz respeito à concessão de igualdade às minorias e às mulheres (o exemplo da homossexualidade é eventualmente o de maior relevo). De facto, a moral parece evoluir de acordo com a educação que o país consegue providenciar à maioria dos seus cidadãos, o que está em claro contraste com a alegação de que a moral provém de Deus (a não ser que Deus condene a moral defendida pelas religiões que o exaltam; uma ironia que não tenho dificuldade em aceitar caso assuma que Deus de facto existe e é “bom”). Curiosamente, o que se tem verificado no caso do catolicismo é o contrário: uma reforma sucessiva que procura copiar os bons costumes das sociedades não religiosas.

Uma pessoa religiosa poderá admitir que até tenho alguma razão, mas de seguida poderá questionar-me: “Mas qual o mal de eu acreditar em Deus? Que te interessa o que os outros acreditam? Porque haveríamos todos de acreditar no mesmo?”

Não tem mal nenhum, cada um acredita no que quer, porém convém ter cuidado com a “bagagem” que a religião trás consigo (algo que não se aplica aos deístas). Não só a religião tem os problemas morais indicados em cima, que influenciam negativamente a sociedade, como tem sido também um dos grandes motivos de guerra nos últimos milénios, sendo-o ainda no presente. Como disse o Steven Weinberg (prémio Nobel da Física em 1979): “With or without it [religion] you would have good people doing good things and evil people doing evil things. But for good people to do evil things, that takes religion.” (Tradução: “Com ou sem ela [religião], teríamos pessoas boas a fazer boas acções e pessoas más a cometer actos malévolos. Mas para ter pessoas boas a fazer coisas más, é necessária a religião.”) Mesmo em religiões que hoje em dia tentam evitar guerras, continua a ser possível encontrar seguidores que interpretam os textos “sagrados” de forma a justificar a violência que praticam contra outros indivíduos. Este não é um problema que deva ser desprezado atribuindo-o simplesmente a fanáticos. É necessário compreender que esses extremistas são um produto da religião.

Tem-se ainda que referir o papel da religião nas crianças. Do meu ponto de vista existem três problemas principais a considerar. Primeiro é preciso ter cuidado na forma como a religião é apresentada às crianças, visto que estas ainda não têm espírito crítico para a compreender devidamente. De preferência seria óptimo apresentar todas as religiões, contando a história e a moral defendida por cada uma, dando à criança a possibilidade de decidir a sua forma de pensar assim que tivesse uma compreensão razoável do que lhe tinha sido apresentado. Os religiosos poderão argumentar, e bem, que os pais e o meio em que a criança está cingida acabam sempre por ter uma grande influência sobre esta, independentemente do que lhe é apresentado. De facto, não espero que a “tradição” se dissolva de um dia para o outro, contudo tal só irá acontecer se houver um esforço nesse sentido. Por outro lado, também é verdade que os pais que oferecem o poder de escolha ao filho estão, na verdade, com essa atitude a influenciá-lo de forma quase similar à forma como, por exemplo, outros pais religiosos influenciam os seus filhos ao lhes propor que os acompanhem à igreja. Naturalmente, este é um problema extremamente complexo, porque os pais que acreditam na sua religião, crêem que o melhor para os seus filhos é que estes acreditem no mesmo que eles. Em suma, gostaria que cada criança fosse induzida a pensar por si, ao invés de lhe ser imputada uma crença.

O segundo aspecto que quero referir está relacionado com o acima exposto, e tem a ver com a distinção de ciência e religião na educação de uma criança. É absolutamente necessário que as crianças compreendam que a ciência estuda o mundo físico, isto é, o universo que percepcionamos. No nosso conhecimento científico não há espaço para a religião e nenhuma das concepções religiosas deve ser imiscuída nos livros e nas aulas de ciência. O criacionismo, por exemplo, não é uma “teoria” alternativa ao evolucionismo! Isso seria semelhante a assumir que a teoria geocêntrica deveria ainda ser considerada como uma teoria alternativa à heliocêntrica: não o é porque todas as evidências científicas apoiam apenas num só sentido! Quem achar que este não é um problema actual desengane-se, porque faz parte da actualidade do Reino Unido e Estados Unidos, por exemplo, onde existem fortes movimentos a tentar que o criacionismo volte às salas de aula (de ciências). Isto não só é um atentado contra a verdade científica, como também coloca em causa a evolução da ciência e da tecnologia. Note-se que isto nem é apenas uma questão idealista, pois uma pessoa pragmática certamente que reconhecerá que o futuro económico de qualquer nação depende de forma crucial na capacidade desta para acompanhar o desenvolvimento tecnológico mundial.

Finalmente, o terceiro aspecto refere-se ao castigo divino, normalmente representado por um inferno em chamas (como é óbvio, aludo apenas às religiões que o continuam a pregar). Este inferno é visto como uma necessidade nestas religiões para obrigar o Homem a não pecar (como discutido em cima). Enquanto um adulto consegue aceitar e lidar com esta ameaça, uma criança tem muito maior dificuldade. De facto, é reconhecido por psicólogos que não se deve expor uma criança a este prenúncio demoníaco, pois tal é considerado abusivo e pode resultar em traumas severos para a criança. Este é um problema real, ainda que só se verifique de forma significativa numa minoria. (Note-se que a “forma significativa” é algo subjectivo, pois o “normal” é somente aquilo que identificamos como mais comum…)

Para concluir, deixo a questão trivial: “Podes provar que Deus não existe?” Não, não posso, e por isso sou agnóstico. De forma semelhante, também não posso provar que os fantasmas, as fadas, e os unicórnios não existem, isso, porém, não me leva a concluir que eles existem.

Como é evidente, esta reflexão não esgota o tema. Espero não ter ofendido ninguém, porque não era esse o objectivo. Por outro lado, espero que o leitor compreenda que não era minha intenção fazer generalizações injustas, nem usar de forma desadequada as excepções. A realidade é bastante diversa consoante a região e a religião em consideração, portanto nem todas as “carapuças” se adequam a todas as cabeças, obviamente. Deixei também muitas questões importantes por discutir (como o não uso de métodos contraceptivos por motivos religiosos, por exemplo), para não tornar o texto demasiado extenso. Se o leitor assim o desejar, poderemos discuti-las nos comentários.

science-v-religion

O método científico: “Aqui estão os factos. Quais as conclusões que podemos retirar deles?”

O método criacionista: “Aqui está a conclusão. Quais os factos que podemos encontrar para a suportar?”

 

32 comentários

Passar directamente para o formulário dos comentários,

  1. Eu concordo com Carlos e a ciência só aceita a verdade por isso é a fonte mais credível da humanidade e a religião não tem base racional ou seja base nenhuma e a religião não aceita a racionalidade aceita simplesmente que um ser mágico onipresente, oniciente e onipotente controla tudo, meus colegas da escola me perguntao “se deus não existe quem você acha que criou tudo” eu normalmente respondo que não é necessário alguem pára criar o universo as coisas simplesmente acontecem como a futura morte do sol e a anterior criação da terra e temos tudo isso graças á pessoas que procuravao saber e não crer como Carl Sagan.

  2. Boa tarde Marinho Lopes

    “…….comento apenas que se eu lançar duas vezes uma moeda ao ar, pode sair duas vezes coroa. Havia um propósito para tal?”

    Considero que sim, o simples facto de lançar a moeda ao ar foi com o intuito de sair alguma coisa, não? Ou cara ou coroa, i.e., a génese da questão está no atirar a moeda, não propriamente no seu resultado, que probabilisticamente sairá algumas vezes coroa e algumas vezes cara.

    “As leis da Física descrevem o processo como aleatório, pelo que havia uma igual probabilidade de sair cara-cara, coroa-cara, e cara-coroa. ”

    Posso argumentar que devido a essa aleatoriedade temos um “Universo imenso”, provavelmente estamos numa zona de cara, enquanto por exemplo Marte estará numa zona de coroa. Esse argumento serve também para os que dizem “ha e tal….um universo gigante só para nós…para quê?”.

    Uma coisa é certa, vivemos num Universo cheio de regras, numa máquina perfeita – elas acontecem a todo o momento. Esse é o maior fóssil encontrado pelo Homem, e este, é incapaz de o entender (ou é).

    Carlos Oliveira

    “Continua a ser antropocentrico, porque está a pegar em algo que o Nuno, como Humano, dá valor, para achar que o Universo tem que ter isso…”

    Eu não dou valor a nada, a não ser ao meu sentimento. Eu até posso estar a ser antropocêntrico – mas pensando bem, ainda não conheci nenhum Ser mais evoluído do que os Seres Humanos, por essa razão e cientificamente falando, deixe-me Ser antropocêntrico.

    Resumindo, cumprimentos para todos e sim Marinho, vamos-nos contentar com o fascínio da questão.

    Nuno

    1. ” ainda não conheci nenhum Ser mais evoluído do que os Seres Humanos”

      Nuno, nem vai conhecer.
      Com essa forma de pensar, nunca vai conhecer qualquer ser mais evoluído que o Ser Humano.
      Nem na Terra, nem fora da Terra, alguma vez algum ser será, para si, mais evoluído que o ser humano, já que o Nuno dá mais valor às características humanas que qualquer outra. Daí todas as suas premissas se basearem no antropocentrismo.

      O facto de neste seu comentário, logo no início, ter tentado “virar” uma simples questão de probabilidades de resultado, para os intuitos iniciais com lançar a moeda… é mais uma evidência disso. Para si, o Universo não pode existir, as “moedas” (coisas com “dois lados”) não podem existir, as “moedas” não podem cair naturalmente, a gravidade não pode existir naturalmente… sem existirem humanos. O Universo, para si, depende dos Humanos.
      Infelizmente, é assim que vê o Universo…

      abraços!

    2. Boa tarde Nuno,

      Ninguém lhe rejeita a sua fé antropocêntrica, simplesmente não a conseguirá “validar” pela lógica e conhecimento científico. Curioso, além disso, que essa fé implique ainda a existência de um ser superior, de um “deus”, que também não pode provar (o “tal” que lança os dados, leis da física, com um dado intuito, e que espera os diferentes padrões, de entre os quais alguns correspondem ao aparecimento de vida “inteligente”).

      Cumprimentos,
      Marinho

        • Nuno on 30/09/2014 at 17:54

        Carlos Oliveira

        Eu virei a conversa para o impulso inicial propositadamente, porque é do que aqui estamos a dialogar – O impulso inicial, que de duas uma, ou foi criado com propósito ou com qualquer coisa parecida com o “nada” que não faz qualquer sentido (para mim).

        Marinho Lopes

        Eu não me considero antropocêntrico. Eu nunca disse que este Universo foi criado para o Ser Humano, apenas. Factualmente fazemos parte dele, inegavelmente – somos o seu produto mais evoluído – isto que digo está provado, uma vez que até ao momento a ciência não encontrou outra espécie tão evoluída.

        Eu preferia não lhe chamar Fé, acho que quanto a religiões estamos conversados. Algo como hipótese seria mais adequado.
        Claro que nunca a irei validar Marinho, mas o contrário também não, no entanto, espiritualmente falando a minha hipótese explica tudo, enquanto que a outra (não espiritual), não explica nada – dizendo apenas, porque sim.

        A mim não me interessa neste capítulo o como (mais eletrão menos eletrão) – a mim, complementa-me mais os porquês. Quando a resposta de um porquê é o “nada” eu prefiro que seja o Tudo. E esse é exatamente a minha definição de (vamos lhe chamar de Deus).

        Cumprimentos

        Nuno

      1. Nuno,

        Quem está a falar do impulso inicial? O Nuno…

        Isto é a mesma coisa que no caso da chuva.
        Os primitivos viam a chuva. Podiam utilizar o pensamento racional/científico e perceber pelos resultados, indo ver onde fazia mais chuva, como era essa chuva, que correlação teria com as nuvens e quais tipo de nuvens… etc.
        Infelizmente, existiram alguns, que na sua ânsia de fazerem os outros acreditarem que o Universo só existe devido a eles, e que todos os fenómenos naturais no Universo são devido a intuitos de alguém sobre eles, aos impulsos iniciais de alguém… esses inventaram o deus da chuva, para darem um “intuito” à chuva que os pusesse a eles, humanos, no pedestal.
        Os deuses estavam muito preocupados com eles, até lhes dando água do céu, porque eles eram tão importantes e tão evoluídos…

        Essa é uma forma primitiva de pensar, sem quaisquer evidências, e que só levam ao atraso da Humanidade.
        A ignorância com a invenção de tretas para se colocar o Homem sempre no centro de tudo… só levou à rejeição da procura do conhecimento baseado na natureza.

        “Claro que nunca a irei validar Marinho, mas o contrário também não, no entanto, espiritualmente falando a minha hipótese explica tudo, enquanto que a outra (não espiritual), não explica nada – dizendo apenas, porque sim.”

        Curioso que é precisamente ao contrário.
        Primeiro, o ónus da prova é seu, e não tem sequer evidências para o que afirma.
        Segundo, o facto de nunca a validar já nos diz que é somente uma crença, nunca uma hipótese.
        Terceiro, e mais importante, quem explica o que é a chuva (ou qualquer outro fenómeno natural) é a ciência, nunca crenças primitivas de que os fenómenos naturais só existem para nós.

        Em pleno século XXI, parece-me um disparate de crença. Há quase meio milénio que Galileu já provou, com um telescópio, que existem muitas mais estrelas no Universo do que aquelas que conseguimos ver. Elas não existem para nós nem devido a nós.

        Nuno, tem direito a crer em tudo o que quiser.
        Mas por favor, note que está num local científico… aqui respeita-se o conhecimento e as evidências 😉

        abraços!

        P.S.: está confundido com o “nada”. A chuva não aparece do “nada”. O facto de tribos primitivas não conseguirem, na altura, explicarem a chuva, não quer dizer nem que ela veio do “nada” nem quer dizer que foi criada pelo intuito do deus da chuva. O facto de não se saber algo, não quer dizer que foi criado por intuitos de alguém sobre o qual não há quaisquer evidências. Por favor, não utilize uma forma falaciosa/pseudo de pensar.

    • Rogério Gonçalves on 30/09/2014 at 00:27
    • Responder

    Boa noite,

    O meu aplauso pelo excelente artigo analítico sobre o tema e a meu ver correto e claro.
    Ainda assim porque não menciona algo muito relevante no contexto que eu pessoalmente tenho em consideração nas minhas análises e conclusões quero lembrar ou introduzir do tema, o fato da vastíssima vulnerabilidade do cérebro e da mente à hipnose e cargas traumáticas cujo conhecimento ainda hoje não é muito comum e pouco referenciado.

    Se nos nossos dias este conhecimento apenas se concentra em algumas elites profissionais e o seu uso não autorizado e bem, imagine-se há dois mil anos quando a palavra tinha força de lei, e os livros quando apareceram eram mesmo sagrados.
    Estudar qualquer que seja a religião ou sociedade humana pelos seus livros de referência tendo em conta as faculdades e características do cérebro e da mente podemos concluir que a maioria da humanidade vive numa ilusão permanente de um “grande amor” do seu Deus criador, que se estende para a eternidade e que por este amor, o “psicopata” pratica os atos mais monstruosos que constatamos todos os dias nas notícias.
    Só a ciência nos traz a realidade que precisamos para a vida seja ou não boa notícia, mas também só com a ciência podemos viver melhor.

    Abraços,

    Rogério

    1. Boa tarde.

      Obrigado pelos elogios.

      É curioso constatar que mesmo por entre tribos que quase não tiveram contacto com a nossa cultura, ou olhando para a História que conseguimos decifrar através de diversos achados arqueológicos, vemos “um” Homem que tem sempre tendência a idolatrar algo sagrado, que o transcende e, não satisfeito com isso, tem ainda a tendência de cometer crueldades como forma de sacrifícios e penitências para “acalmar” os “deuses”. A minha opinião pessoal é que tais factos são consequências da nossa razão. Pode parecer implausível que a mesma razão possa dar origem ao conhecimento científico e aos dogmas religiosos, mas a mim parece-me simplesmente lógico. O Homem pensa, logo procura respostas. Não as encontrando, inventa-as. É a forma que o Homem tem de lidar com o medo. Tal como um animal dito irracional não se atira de um precipício, também o Homem criou formas de se afastar dos seus abismos abstractos criados pela sua própria razão.

      Cumprimentos,
      Marinho

        • Rogério Gonçalves on 01/10/2014 at 02:21

        Boa noite,
        Obrigado pelo seu tempo e diálogo,
        Sobre o tema em questão, é aceite normalmente que não existem certos absolutos, e a verdade tem sempre alguma subjetividade consoante a perspetiva do observador. Também os conceitos e os significados das palavras têm de ser precisos e claros para que o que se pretende afirmar, seja também o que é entendido no destino, concorde-se ou não.
        Assim gostaria de expressar no meu ponto de vista e formação que o ser humano pensa, com método ou sem ele e a eficácia ou a assertividade são obviamente condicionados pelo método usado.
        Quando um animal dito irracional não se atira de um precipício, não o faz com a consciência plena do que lhe acontecerá se o fizer; ao contrário o ser humano esclarecido sabe exatamente o que lhe acontecerá e se sobreviver nem se recordará de nada.
        As tribos que tendencionalmente idolatram algo sagrado que os transcende e cometem crueldades para acalmar seus deuses tem padrões de método de pensamento e ação de natureza traumática e hipnótica de que falei no comentário anterior. A razão que os leva a tal procedimento não tem nada de racional, apenas um curto segmento de lógica de razão “emprestada” .
        O conhecimento científico e os dogmas religiosos são a meu ver processos de construção com rumos e objetivos diferentes e divergentes. No conhecimento científico a nossa razão pouco ou nada interfere, apenas observa estuda evidências, combina, conhecimento e tecnologia a avança sempre para mais conhecimento. Nos dogmas religiosos pelo contrário as estratégias teocráticas ao longo da história humana muitas delas com direitos constitucionais evoluem muito lentamente e servem globalmente poderes e interesses instalados. Também usam curtos segmentos de lógica de razão “emprestada”
        Isto são excertos do que penso sobre o tema, e para quem me lê e não concordar não pretendo causar confusão, as posturas pessoais nestas matérias são demasiado importantes para o equilíbrio psíquico próprio.
        Todavia no percurso intelectual e da vida é enriquecedor considerar todas as perspetivas de pensamento quando honestas que ajude a discernir a realidade do imaginário.

        Cumprimentos,
        Rogério Gonçalves,

      1. Sim, eu concordo com o seu ponto de vista, como aliás se deverá depreender do artigo acima.

        Só um detalhe:
        “Quando um animal dito irracional não se atira de um precipício, não o faz com a consciência plena do que lhe acontecerá se o fizer; ao contrário o ser humano esclarecido sabe exatamente o que lhe acontecerá e se sobreviver nem se recordará de nada.”
        Eu usei a comparação para me referir ao instinto que o animal tem e que lhe permite evitar o perigo. De forma semelhante, o humano também tem iguais instintos para evitar os perigos (ainda que, como refere, os humanos não sejam apenas dominados pelos seus instintos). A morte não é um perigo, mas uma certeza ameaçadora constante com que temos que lidar. Não podemos fugir fisicamente dela, mas também não é aí que reside o problema. Aquilo que nos atormenta é uma ideia, pelo que a solução a encontrar tem que ser naturalmente do domínio das ideias. Daí eu ter invocado a razão, ainda que, evidentemente, o conceito de razão possa ser discutido neste contexto. (Mas, como em qualquer discussão, e como referiu no seu comentário, o importante é definir-se à partida um determinado dicionário para ambos os intervenientes, para que se possam discutir ideias e não conceitos.)

        Cumprimentos,
        Marinho

        • Rogério Gonçalves on 02/10/2014 at 01:24

        Boa noite
        Marinho Lopes

        Sim entendi de imediato a comparação das reações instintivas quer no animal quer no homem em situações de perigo e medo. Pretendi contudo salientar que existem metodologias de pensamento que permitem controlar as reações por instinto e o medo e sobretudo quando estas são do imaginário próprio ou alheio.
        Porém se as ameaças são com real evidência supressora que imobilize todas as alternativas racionais será o instinto que comanda a ação seguinte neste ponto tudo é imprevisível. No caso do ser humano está no ponto vulnerável à sugestão hipnótica ou de uma reação de valência semelhante.
        A morte é uma certeza ameaçadora para todo o ser vivo. É compreensível que o homem consciente dessa inevitabilidade procure “adiar” esse acontecimento e licito por direito próprio e natural . Afinal nasceu. Para morrer sim, mas só depois de viver o que por direito conquistou ao se capacitar como ser vivo e racional.
        Não é qualquer problema aceitar um dia adormecer para não mais acordar, descansar enfim sem “anjos “ou “demónios “a atormentá-lo porque nesse lado já não se inventa essas coisas e à escala cósmica a mesma matéria que lhe deu a vida e a morte passado algum tempo todos os registos desaparecem.
        Então para quê tanto ruído e discussões que se desfazem numa mesma energia cósmica? A resposta está no meu entender no uso e da liberdade que cada ser vivo pretende para si próprio e para a sua comunidade, raça espécie etc. Para isto os entendimentos e acordos são essenciais mesmo em temas divergentes como este.
        Tive imenso gosto em partilhar este diálogo e acrescido do apreço que tenho pelo trabalho da equipa AstroPT o meu obrigado.

        Cumprimentos,
        Rogério

  3. Um artigo excelente, Marinho. Parabéns.

      • Marinho Lopes on 27/09/2014 at 10:08
      • Responder

      Obrigado, Rui. 😉

      Cumprimentos,
      Marinho

  4. Boa noite

    Gostei do que li. As religiões prendem a liberdade de qualquer Ser Humano.

    No entanto, sim, acredito piamente que neste Universo tudo obedece a um propósito.

    Seria muito antipático um Universo materializar uma consciência, para que esta, contemplasse o seu próprio desaparecimento. Não faz sentido, não existe lógica.

    O Universo consciencializou um animal……..só porque sim???!!!

    Cumprimentos e obrigado pelo texto.

    Nuno Silva

    1. Isso assume que o Universo tem uma consciência e que tem um objetivo: criar humanos.
      Essa é uma imagem totalmente antropocentrica (e geocentrica) do Universo…

    2. Bom dia Nuno,

      Conhece alguma lei da natureza que seja simpática? Ou que tenha um propósito?

      Não se conhecem evidências que refutem aquilo em que acredita, mas também não conhecemos nenhuma que as suporte.

      Alega que não tem lógica a possibilidade de não existir um propósito, mas na verdade, se pensar bem, não se pode qualificar de lógico qualquer uma das hipóteses. É lógico que o universo existe para nós? É lógico o contrário? É lógico a existência de um Deus? É lógico o contrário? Para mim estas questões não fazem qualquer sentido, porque as mesmas ultrapassam o nosso sentido lógico empírico e mesmo matemático. Portanto, o que não faz sentido é discutir lógica neste contexto. (E mesmo que fizesse, nada nos garantia que a nossa lógica se aplicasse a estas questões.)

      Eu prefiro manter apenas a certeza de que nós existimos porque as leis físicas do universo o permitem. Por que é que as leis são como são? Por que razão o permitem? Existe uma razão? Não fazemos ideia da resposta, ou se sequer existe resposta. Para já nem é claro avaliar se algum dia no futuro teremos capacidades para avaliar estas questões ou não.

      Cumprimentos,
      Marinho

        • Nuno on 26/09/2014 at 20:05

        Boa tarde

        Carlos Oliveira

        Se o “Universo” possuí ou não consciência – não sei.

        Tive o cuidado de não me centrar nos Seres Humanos – quando digo consciência, digo “sobre a capacidade de perceber a relação entre si e um ambiente”, portanto, aplica-se a quem tenha essa capacidade…seja um Humano, uma planta, um extraterrestre ou uma pedra, desde que possua, consciência.

        Marinho Lopes

        Posso admitir que a gravidade tem um propósito, sem essa Lei Fundamental, o Universo não seria como é e com isso não estaríamos aqui a opinar sobre este assunto (não pode ser de outra maneira, nós não nos adaptamos de repente a este ambiente, nós somos o produto deste ambiente). Se a considero simpática? sim, considero. Ela não impõe um equilíbrio dinâmico ao espaço?

        Todas as Leis Fundamentais possuem, em determinada medida, um propósito. Seja de criação, destruição ou de equilíbrio – e veja-se só, levou ao desenvolvimento de um Ser consciente.

        Cada vez mais me convenço que neste capítulo, estamos a falar da mesma coisa, mas com intervenientes e perspetivas diferentes.

        Por último, tem razão Marinho, estas questões não são fáceis – entender que as Leis Fundamentais existem e a ciência está aí a prová-la todos os dias – e não saber quem as escreveu é de facto algo que sai da nossa capacidade cognitiva, infelizmente.

        Obrigado pelo vosso feedback.

        Cps

        Nuno

      1. Nuno, se não sabe, é a única coisa que pode dizer: não sabe 😉

        Continua a ser antropocentrico, porque está a pegar em algo que o Nuno, como Humano, dá valor, para achar que o Universo tem que ter isso…

        É a mesma coisa que um macaco entrar aqui a dizer que o Universo tem que ser peludo… só porque o pêlo é importante para ele.
        Ou uma formiga dizer que o Universo tem que ter antenas, só porque elas são importantes para essa formiga 😉

        abraços

        P.S: “Todas as Leis Fundamentais possuem, em determinada medida, um propósito. Seja de criação, destruição ou de equilíbrio – e veja-se só, levou ao desenvolvimento de um Ser consciente.”
        Não, não têm qualquer propósito. Esse é você que o dá. Destruição ou criação na sua perspetiva. Novamente, está a ser antropocentrico…
        E o final, então é completamente antropocentrico: o Nuno pensa que o propósito do Universo é a consciência, só porque você a tem e pensa que é o topo no pedestal do Universo.

        • Marinho Lopes on 27/09/2014 at 10:07

        Não querendo estar a repetir o que o Carlos Oliveira disse, comento apenas que se eu lançar duas vezes uma moeda ao ar, pode sair duas vezes coroa. Havia um propósito para tal? As leis da Física descrevem o processo como aleatório, pelo que havia uma igual probabilidade de sair cara-cara, coroa-cara, e cara-coroa. Porque razão saiu aquela em particular? Tudo o que podemos dizer é que era uma das hipóteses possíveis permitidas pelas leis da natureza. Irá você argumentar que as leis da Física são tais que tiveram o propósito de permitir tal ocorrência? Atribuir propósitos implica basicamente que “alguém” as escolheu, o que conduz a algum tipo de criador. Não temos, porém, nenhuma evidência que suporte essa “teoria”.

        Ao invés de olharmos para o desconhecido como uma oportunidade de inventarmos uma qualquer resposta, porque não contentarmo-nos com o fascínio da questão?

        Cumprimentos,
        Marinho

  5. Admiro muito o seu trabalho. Sou um leigo no seu saber. pelo que tenho lido nas suas publicações, adivinho quantas perguntas a si mesmo coloca para continuar as suas investigações que são imprescindíveis para o desenvolvimento da humanidade. Os porquês que a si coloca e que outro lhe colocam merecem sempre uma resposta, mesmo aquela muito simples: não sei! Por vezes na comunidade científica acontece que os seus membros constroem barreiras à sua volta e ao seu saber, que os impedem de ouvir com atenção os porquês de fora e quando os ouvem e não forem do seu agrado porque vão bulir com convicções pessoais, manifestam de imediato uma “oposição instintiva” que minimiza a racionalidade. E a razão deve sempre imperar, mormente quando se abordam temas da “scientia rerum omnia per altissimas causas”.
    Parabéns e felicidades pelo e no seu aturado trabalho.

    1. Obrigado, pelas felicitações. 😉

      Em relação à interacção dos cientistas com os leigos, deixo aqui referência a um outro artigo que já aqui publiquei que lhe poderá interessar:
      http://www.astropt.org/2014/07/02/criar-ciencia/

      De facto, muitas vezes os cientistas simplesmente não sabem comunicar com os leigos. Primeiro, o leigo pergunta “X”, mas na verdade quer dizer “Y”. Logo neste momento pode surgir o problema, porque o cientista pode pensar que o leigo queria mesmo dizer “X”, ou uma outra coisa entre “X” e “Y”. Assumindo que o cientista tem o discernimento para compreender devidamente a questão, surge a dificuldade de transmitir a resposta “Z”, isto porque “Z” é completamente incompreensível ao leigo. Assim, o cientista pode ou não ser capaz de transmitir convenientemente a sua resposta. Mesmo que a transmita de uma forma supostamente razoável e compreensível, isto não implica que o leigo a vá compreender… Se a discussão continuar, todas estas dificuldades poderão entrar em jogo, e teremos ambos os indivíduos a sentir uma frustração cada vez maior por não compreenderem o que o outro diz, nem se conseguirem fazer entender. No fim da discussão, o leigo irá obviamente atribuir as culpas à incompetência do cientista em comunicar, pois se ele é que tem o maior conhecimento, então ele é que tinha o dever de saber coordenar a conversa de modo a que ambos se compreendessem.

      Como creio ter referido no artigo de cima: o que falta é jornalismo científico de qualidade que crie a ponte entre cientistas e leigos. Não quero com isto dizer que o cientista deve limpar as mãos e esquecer o leigo, pois na verdade acredito que o cientista tem o dever moral de comunicar com o leigo (quanto mais não seja porque na maioria dos casos é pago indirectamente pelos impostos pagos pelo leigo). Ainda assim, tendo em conta a minha experiência pessoal, posso assegurar que em muitos casos mais vale o cientista nem tentar comunicar dada a sua incompetência verbal em comunicação de ciência para o público em geral.

      Cumprimentos,
      Marinho

  6. Apreciei o seu texto embora sobre ele ache que o aforismo latino tenha cabal aplicação: – “Aquila non capit muscas”. “A águia não se entretém com moscas”. Com isto quero dizer, em minha opinião, que dissertou muito sobre minudências religiosas e muito pouco sobre o essencial. É terrivelmente difícil abordarem-se com um cuidado desapaixonado tão transcendentes assuntos, porque são campos distintos, embora, no meu entender, complementares na globalidade do ser, daquilo que está no campo do empírico, da experimentação, enfim do físico e daquilo que está para além disso, que queremos encontrar na proveniência dos princípios da ordem cósmica que são questões fundamentais cuja origem angustia a alma humana.
    Termino este meu comentário, recorrendo a Blaise Pascal que – ao pretender clarificar que, na questão da existência ou não de Deus, não se pede um juízo da razão pura, mas uma decisão do homem que não é comprovável pela razão, mas que pode ser responsabilizada perante ela – apresenta a seguinte alternativa:”Deus é, ou não é”
    As duas possibilidades são incertas. «A razão nada pode determinar aqui…Sobre que base erguer? Pelos fundamentos da razão, não pode fazer uma coisa nem a outra. Mas, pelos fundamentos desta mesma razão não pode proibir nem uma nem outra. Por isso, não acuse de erro aqueles que fizeram uma escolha, pois que, sobre isso, nada pode saber.»
    A escolha, de uma ou outra, é, pois, a questão – se bem que não escolher também é uma escolha a considerar-se, embora seja a pior de todas, como os “nim” o são. A natureza de tal escolha , a descrença vs crença, são de zero contra o infinito. Como diz Hans Küng: em todo o caso nada se perde se acreditarmos em Deus, mas poderemos tudo ganhar,

    1. A referência a Hans Kung vai de encontro à bem conhecida aposta de Pascal: mais vale apostar que Deus existe e com isso ganhar a chance de ir para o paraíso, do que apostar no contrário, que não lhe oferece qualquer garantia. Naturalmente, este tipo de raciocínio reveste-se de grande cinismo.

      Acusa-me de apenas divagar sobre os detalhes, no entanto, faço notar que pretendia discutir religião e não divindades. Em relação a Deus, por mais que queiramos embelezar a questão com divagações filosóficas sobre a sua natureza, tudo se resume à questão: “É possível provar a sua existência ou não existência?” Não sabemos. Para já, pelo menos, não temos os meios para tentar responder à questão. Sendo assim, tudo o resto acaba por ser inconsequente. Como você diz e bem: são questões transcendentes, o que literalmente significa que não estamos aptos para as discutir. (Não implica que as não possamos discutir na mesma, mas não foi esse o objectivo do meu texto.)

      Cumprimentos,
      Marinho

    • Atamar Chalub on 25/09/2014 at 01:38
    • Responder

    A vida é apenas uma visão momentânea das maravilhas deste assombroso universo, e é triste que tantos se desgastem sonhando com fantasias espirituais.

    “Carl Sagan”

    1. Carl Sagan, neste contexto, não tem um juízo imparcial., ou como dizia Charles Townes, padecia de uma “oposição instintiva”, uma “irracionalidade” que existe por parte de quem deve dar primazia à razão.

      1. Eu diria que ninguém consegue ser completamente imparcial em questões deste género que dependem fortemente na nossa cultura, meio social, contexto histórico, etc..

        Naturalmente, uns cientistas mostram-se mais extremistas que outros. O mesmo acontece entre pessoas religiosas. Infelizmente, o extremismo conduz muitas vezes a acções ou menções pouco ponderadas.

        Sagan provavelmente referia-se aos ermitas que vivem grande parte das suas vidas em reclusão. Na verdade, a mesma acusação poderia ser usada contra certos matemáticos… (Não está aqui em causa a utilidade de cada uma das actividades.)

        Cumprimentos,
        Marinho

  7. Ola! Marinho, li o seu texto e nesta parte final parece que temos o mesmo interesse:como é que o universo funciona. E como funciona o cérebro humano.
    No meu caso, eu consegui através do uso de leis básicas da Física explicar e prever o que acontecerá com o universo e associar isto à sua atualmente considerada expansão acelerada utilizando matemática simples (derivadas).O texto tem 50 páginas e o resultado encontrado permite associar o universo com conceitos básicos de comportamento humano e religioso. Talvez, se você interessar, você pode comentar a parte Física do texto ( universo) e talvez você possa aprimorar a parte filosófica do texto ( aproximação da ciência e religião ) uma vez que você parece ter ideias aprimoradas sobre a reação cerebral aos estímulos do meio.Este texto já foi lido por alguns e todos que leram gostaram , se quiser o envio daqui algum tempo.
    Abraços!

    1. Olá Sócrates,

      Obrigado pelo voto de confiança, mas de momento não tenho qualquer disponibilidade para esse tipo de trabalho. Dependendo do seu objectivo com o texto, o melhor seria submetê-lo a uma revista científica com revisão por pares – a própria revista encarregar-se-á de encontrar alguém que reveja o seu trabalho, o qual também lhe poderá dar sugestões. Caso se sinta desconfortável com essa abordagem, poderá tentar falar com professores universitários da especialidade que tenham tempo disponível para discutir consigo.

      De qualquer forma, aconselho-o a antes de mais verificar se a sua teoria obedece aos seguintes critérios:
      1) Está de acordo com as teorias que já foram verificadas experimentalmente nos seus domínios (tanto a mecânica clássica, como a relatividade geral, a mecânica quântica, e o modelo standard de partículas funcionam muito bem nos seus domínios, simplesmente são incompatíveis ou incompletas noutros);

      2) Uma teoria científica física tem que necessariamente fazer previsões mensuráveis. O comportamento qualitativo é importante numa primeira abordagem, mas é crucial ter uma descrição quantitativa para comparar a teoria com a natureza até aos limites de precisão que temos nos instrumentos de medida;

      3) Responder a questões que actualmente não têm resposta. Mais uma vez, as respostas têm que dar resultados quantitativos.

      Se o seu manuscrito tem em consideração todos estes pontos, então sugiro que siga a dica que lhe dei em cima. Repare que uma discussão por estes meios informais acaba por ser inconsequente.

      Cumprimentos,
      Marinho

  8. Favoritei esse texto. Parabéns.

    1. Ainda bem que gostou. Obrigado. 😉

      Cumprimentos,
      Marinho

  9. 5 estrelas. não poderia estar mais de acordo com o que escreveu

    1. Obrigado. 😉

      Cumprimentos,
      Marinho

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado.

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Fica a saber como são processados os dados dos comentários.