A cratera Massilia (a vermelho) e uma das crateras do aglomerado do polo norte de Lutécia (a roxo), numa imagem obtida pela sonda Rosetta, a 10 de julho de 2010. Estão evidenciados diversos sulcos associados a estas duas estruturas de impacto (cores respetivas). Os sulcos azuis estão associados a uma estrutura desconhecida localizada no hemisfério sul de Lutécia. A amarelo estão assinalados outros sulcos.
Crédito: ESA/Rosetta/MPS para a equipa OSIRIS/UPD/LAM/IAA/SSO/INTA/UPM/DASP/IDA.
Cientistas descobriram evidências da presença de uma grande cratera no lado oculto de (21) Lutécia, um dos maiores objetos da Cintura de Asteroides. Usando imagens obtidas pela sonda Rosetta, a equipa liderada por Sebastien Besse, do Centro Europeu de Investigação e Tecnologia Espaciais (ESTEC) da ESA, na Holanda, analisou a distribuição e orientação de cerca de duas centenas de sulcos na superfície do asteroide. Os resultados foram divulgados num artigo que será publicado na próxima semana na revista Planetary and Space Science, e sugerem que estas formações tiveram origem em três impactos – um deles ocorrido no hemisfério sul de Lutécia, numa região não observada pela sonda europeia durante o seu breve encontro com o asteroide, a 10 de julho de 2010.
Os sulcos são estruturas lineares encontradas numa parte significativa dos asteroides visitados por sondas espaciais. Fotografadas pela primeira vez na superfície da lua Fobos, estas formações foram posteriormente identificadas nos asteroides (243) Ida, (951) Gaspra, (433) Eros e (4) Vesta. Os mecanismos envolvidos na sua formação são, ainda, alvo de intenso debate; no entanto, estão aparentemente relacionados com as ondas de choque geradas por violentos impactos no interior destes objetos.
“Assumindo que os sulcos foram formados em padrões concêntricos em redor de uma cratera de impacto de origem, identificámos, no caso de Lutécia, duzentas destas estruturas organizadas em famílias distintas, que se correlacionam com três crateras de impacto diferentes”, explicou Besse, primeiro autor deste trabalho. Duas destas famílias parecem estar associadas, respetivamente, a duas estruturas localizadas no hemisfério norte de Lutécia: a cratera Massilia e o aglomerado de crateras do polo norte, um grupo que inclui diversas crateras sobrepostas. O terceiro sistema converge para um local no lado oculto do asteroide, uma cratera putativa, à qual os investigadores deram o nome de Suspicio.
Modelo tridimensional de Lutécia com a localização de Suspicio no hemisfério sul. A cratera deverá ter entre 15 a 45 quilómetros de diâmetro.
Crédito: ESA/Rosetta/MPS para a equipa OSIRIS/UPD/LAM/IAA/SSO/INTA/UPM/DASP/IDA.
Os sulcos associados a Suspicio cobrem uma área significativa da superfície do asteroide, o que sugere que a cratera tem provavelmente algumas dezenas de quilómetros de diâmetro. Em comparação, Massilia tem cerca de 55 quilómetros de diâmetro, enquanto que a maior cratera do aglomerado do polo norte tem aproximadamente 34 quilómetros de diâmetro. “Estes três grandes impactos deformaram de forma significativa a superfície de Lutécia”, afirmou Besse.
A partir da análise da densidade de pequenas crateras formadas sobre os sulcos, os investigadores puderam calcular a idade relativa dos três impactos. Aparentemente, Massilia é a mais antiga das três crateras, seguida de Suspicio e do aglomerado de crateras do polo norte.
Modelos tridimensionais de Lutécia gerados a partir de dados obtidos pelos observatórios espaciais Herschel e Spitzer tinham já previsto a presença de uma grande depressão no local onde agora foi identificada a cratera Suspicio. Observações realizadas pelo telescópio de infravermelhos IRTF, no Hawaii, sugerem a existência de diferenças significativas na composição da superfície, entre o hemisfério norte e o hemisfério sul do asteroide. Besse e colegas propõem que tais diferenças possam ter origem em materiais escavados do interior de Lutécia pelo impacto que criou Suspicio.
“O nosso estudo liga diversas análises independentes numa única história coerente, que é consistente com a presença de uma grande cratera de impacto no lado oposto [ao das observações] do asteroide”, concluiu Michael Küppers, investigador do Centro de Astronomia Espacial da ESA, em Espanha, e coautor deste trabalho.
Podem encontrar mais detalhes aqui.
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