Nesse exercício de imaginação, me concentro numa versão alternativa do Mundo, em que a Humanidade divide a face da Terra com outra espécie inteligente.
Será que haveria paz? Conflito? Comércio? Extinção? Será que eles influenciariam nossa sociedade? E como poderiam ser esses co-dominadores do Mundo, se existissem?
Várias obras e ficções já imaginaram um mundo assim. O primeiro a lembrar é Tolkien – autor dos aclamados “Senhor dos Anéis” e “O Hobbit”, obras que se passam num mundo místico com várias espécies inteligentes – quase todas humanoides, mas alguns bem diferentes, como os dragões.
Primeiramente, devo lembrar algo muito importante: isso já aconteceu no passado.
No Passado, Homo-Sapiens e Homo-Neanderthalensis foram duas espécies inteligentes que co-existiram sobre a Terra, ambas do gênero Homo. O homo-sapiens-sapiens somos nós, seres humanos, a única espécie do gênero homo ainda viva, que se desenvolveu no continente Africano há 200.000 anos atrás, enquanto os Neandertais se desenvolveram na Europa de 300.000 até 30.000 anos atrás, quando se deu sua extinção.
Muitas dúvidas ainda permanecem sobre como se deu o encontro entre as duas espécies, em locais como no sul da Península Ibérica ou na Dalmácia. Estudos do genoma revelam que a nossa espécie cruzou com neandertais após deixar a África em direção à Eurásia, cerca de 65 mil anos atrás. Alguns citam que houve segregação e conflitos, outros que, assim como houve cruzamento entre as espécies, elas coexistiram mais pacificamente. O fato é que estudos indicam que temos genes neandertais, e entre 2% e 4% do código genético de não-africanos atuais teria vindo de neandertais.
A extinção dos Neandertais também é um mistério: alguns pesquisadores consideram que se deu devido à competição com os humanos, que eram mais adaptados, ou numerosos, ou organizados, ou um conjunto dessas características; outros sugerem que por características próprias da espécie, como uma inteligência prática baixa, apesar do cérebro ligeiramente maior que o nosso, ou por pouca capacidade em adaptar-se às mudanças.
Como Seriam?
A imaginação pode correr livre nesse mundo hipotético. Poderíamos imaginar algumas criaturas que eventualmente teriam evoluído para uma espécie consciente e inteligente, capaz de pensar sobre si e desenvolver domínio sobre o meio em que vive. Polvos? Eles possuem cérebros avantajados (os maiores entre os invertebrados) e capacidade de “manipulação” com seus tentáculos. O interessante seria haver uma espécie dominante sobre a terra-firme e outra nas profundezas dos oceanos.
Dale Russel, paleontólogo canadense que foi um dos primeiros a considerar uma causa extraterrestre para a extinção dos dinossauros há 65 milhões de anos (uma supernova, cometa, asteroide…), chegou a imaginar como um dinossauro particularmente esperto, o Troodon, poderia vir a evoluir para espécies inteligentes – e seus modelos imaginados tornaram-se relativamente populares principalmente pela semelhança à clássica imagem de E.T., sendo porém muito criticada no meio acadêmico por sua forma desnecessariamente muito humanoide.
No entanto, prefiro uma abordagem mais conservadora para escolher nossos colegas pensantes de berço planetário. Vamos supor então que um grupo de Hominídeos análogos aos neandertais, adaptados ao frio, conseguiu sobreviver e se desenvolver em regiões mais frias e isoladas do mundo; vivendo a maior parte do tempo histórico longe da gente e nos evitando sempre que possível, sobrevivendo em alguns sítios orientais dos Himalaias, como a Região Motuo na China e países vizinhos. Muito bem, vamos lá:
Nossos irmãos de Planeta: Os Abomináveis Homens das Neves
No século XX, os relatos sobre o Yeti se revelaram “reais”. O que a princípio foi pensado como um urso ou gorila das neves extremamente arredio e agressivo, acaba revelando uma espécie inteligente e organizada, que sabia mais sobre nós do que nós sobre eles. Apenas após dois anos de tentativas frustradas, os humanos conseguem um contato pacífico com seus irmãos de planeta. No entanto, antes de vermos um mundo com duas inteligências co-existentes, vemos um mundo de uma só inteligência em grave crise existencial.
Reações da Humanidade
- Ciência: os especialistas ficam em êxtase por décadas; os Yetis além da grande curiosidade sobre sua própria evolução, origens e natureza, trazem respostas inclusivé sobre nossa própria evolução.
- Ambientalistas: várias ONGs e protestos surgem em defesa dos Yetis; o fato de sabermos que eles existem atrairá muitos especuladores, gananciosos e caçadores. Além disso, o histórico agressivo dos Yetis será um atrativo ainda maior.
- Religiosos: religiões e doutrinas mais ligadas a seres fantásticos, como vampiros e lobisomens, têm um relativo crescimento com a confirmação da existência do mais famoso dos animais míticos. Já os conservadores, especialmente os criacionistas, ficam atordoados: a explicação que apresentam é que os Yetis são demônios que se valem da teoria da evolução para se apresentarem como seres naturais – mesma descrição que dão sobre os extraterrestres que supostamente visitam a Terra.
- Nações Unidas: a ONU sanciona várias diretrizes especiais sobre os Yetis, com viéses de preservação, contato e pesquisa. Um núcleo especializado se dedica a aprender a linguagem dos gigantes do gelo: um misto de gestos e sons diversos, mesmo assim complexa.
O que descobrimos
De alguma forma, os Yetis descobriram que, de fato, somos uma espécie perigosa. Por causa disso, foi extremamente custoso o contato com eles, quanto mais poder conviver em seus domínios tempo o suficiente para pesquisas avançadas. Um Yeti macho chega a três metros de altura, pesa 280 kg e tem a força de dez homens, são totalmente carnívoros e podem ser antropófagos, vivem em cavernas profundas aumentadas por eles mesmos durante gerações, o que lhes permitiu manter-se tanto tempo em segredo. Existem como civilização há uns 40.000 anos, mas sua evolução intelectual foi um pouco mais lenta. No entanto, já têm tecnologia a vapor, fabricam cordas e tecidos, criaram armas de pressão que atiram lanças a distâncias consideráveis, e têm comércio e moeda própria. Sua tecnologia é comparável às nossas do século XV até o XVIII e sua visão de mundo também. Descobriram por si mesmos que a Terra é redonda e para eles o Sol é o centro do Universo, descrevendo que o mundo procura o calor. Também já imaginavam que as estrelas são como o Sol, mas pensavam serem sóis em miniatura. Criaram telescópios surpreendentes usando uma tecnologia de lentes feitas de gelo, que deixou os pesquisadores perplexos. O mito de criação dos Yetis manteve divindades como elementos da Natureza e um princípio muito semelhante ao taoísmo, tendo como dualidade suprema o Calor (o Sol e as terras inacessíveis – onde o Himalaia termina), e o Frio (o gelo onde vivem).
Os Yetis, numa comparação com humanos, tiveram menos opções para dispersão, restringindo-se ao Himalaia. Em vista disso, são uma espécie muito intacta, e uma população de apenas 20 milhões de indivíduos. A diversidade genética também é pequena, o que indica uma descendência a partir de poucos indivíduos, assim como nós.
Coexistência
Com o passar do tempo, Yetis foram se acostumando mais com a presença humana. O isolamento se manteve com os esforços da ONU e cooperação ativa dos países locais, que viram nos Yetis a forte valorização de suas terras. Doutro lado, a humanidade também passou o choque de tal descoberta.
No entanto, nem tudo é paz quando se trata de espécies beligerantes, como a nossa. Yetis foram raptados para servir de experiência em laboratórios clandestinos, troféus de caçadores milionários, macacos de circos e até feitos escravos por radicais extremistas. Em contrapartida Yetis massacraram e até devoraram exploradores nas montanhas, bombardearam bases chinesas e saquearam tecnologia humana, se afeiçoando rapidamente a ela. Fomos descobrindo a duras penas que o mais perigoso sobre os Yetis, é que são muito parecidos conosco.
Mas o mais perigoso também é o maior potencial para o equilíbrio: sociedades alternativas pacíficas em que humanos e yetis convivem também foram surgindo, junto com relatos de nascimento de híbridos – algo que não se confirmou e de acordo com especialistas, é inviável.
O Futuro?
Muito já pensamos sobre o futuro de nossa civilização, mas como seria o futuro desse mundo com homens das terras e homens das neves? Será que inevitavelmente levaríamos os Yetis à extinção – ou por conflito ou por efeitos do aquecimento global? Ou será que vamos conviver e prosperar juntos como irmãos de planeta?
Aguardo opiniões nos comentários. 🙂
Agradecimento: Núrya Ramos – pela revisão gramatical
6 comentários
Passar directamente para o formulário dos comentários,
Eu sou de opinião que podemos ter uma boa ideia de como seria ter duas raças inteligentes compartilhando este planeta olhando a maneira que lidamos com pessoas de outros países e de outras etnias. Por vezes, os tratamos como seres de outra espécie, e isto significa “tratamos eles muito mal”. Se são mais fracos, o encontro resulta em subjugação. Se são fortes o suficiente para suportar o confronto, o resultado é comércio e aliança política, mas a aceitação é muito lenta e incompleta.
Ou mesmo um filme…
“Iron Sky trata-se de uma nova era de produções, incluindo The Cosmonaut, A Swarm of Angels e RIP! A Remix Manifesto, produzido em colaboração com uma comunidade online de entusiastas do cinema, que estão criando um novo tipo de cinema participativo.
http://en.wikipedia.org/wiki/Participatory_cinema
http://en.wikipedia.org/wiki/Iron_Sky
Following a nuclear fallout in Washington, D.C., the President of the United States is evacuated to Antarctica, which houses the “Hollow Earth” – a vast subterranean civilization. http://en.wikipedia.org/wiki/Iron_Sky:_The_Coming_Race
Um exemplo dos nossos vizinhos:
The Cosmonaut (El Cosmonauta) is a Spanish science-fiction film, directed by Nicolas Alcala and produced by Carola Rodriguez and Bruno Teixidor. It premiered in May 2013.
The first feature-length project of Riot Cinema Collective is notable for its use of crowdfunding and Creative Commons license in its production.
http://en.wikipedia.org/wiki/The_Cosmonaut
http://es.wikipedia.org/wiki/El_cosmonauta
Tendo em conta a ideia de “E se dividíssemos o mundo com outra espécie Inteligente?” até poderíamos pensar num caso em que este tratadohttp://en.wikipedia.org/wiki/Treaty_of_Tordesillas ainda estivesse em vigor, e ambos os impérios Ibéricos ainda existissem no séc XXI…
Nesta obra, ( http://en.wikipedia.org/wiki/Anti-Ice ) um escritor Inglês imagina um destino muito diferente para o Império Britânico, num exemplo paradigmático de “História Alternativa”.
http://pt.wikipedia.org/wiki/Hist%C3%B3ria_alternativa
Este livro é bastante conhecido: http://pt.wikipedia.org/wiki/The_Man_in_the_High_Castle
Em inglês: http://en.wikipedia.org/wiki/Alternate_history
Citando do “anti-ice”:
The novel begins with the text of a letter dated July, 1855 from the Crimean War front of Sevastopol. The writer, Hedley Vicars, tells from his perspective as a soldier in the 90 Light Infantry about the visit to his commanders of one Josiah Traveller, an inventor and millionaire industrialist whose discovery in the South Pole of anti-ice, a substance which releases incredible energies when warmed, is being considered for military use.
Soon after that meeting, a mushroom cloud erupts in the midst of Sevastopol and, with its attendant human and structural devastation, quickly ends the war.
Using the latest in 1870 technology, Vicars actually mines ice from the surface of the Moon, while encountering simple, massive creatures on its dark side.
Converting the water into enough power to take off, the explorers—along with the saboteur, a Frenchman named Bourne—return to Britain as the Franco-Prussian War breaks out on the continent.
Gladstone meets Traveller personally and orders him forthwith to prepare anti-ice weapons for use to end the war. At first he does so, but Vicars persuades him that such a course of action is unconscionable. Too late, the two arrive in the Phaeton to see the destruction of Orléans by an anti-ice rocket.
Peace is immediately declared, and the United Kingdom sets up its hegemony over Europe—a development not without price, which Vicars notes in a 1910 letter to his son.
Acredito que em algum momento isso se tornara realidade, acredito piamente que um dia iremos conseguir construir uma “máquina” que se assemelha a nos humanos, seremos os pais e “deuses criadores” deles, porém eles serão melhores que a gente (pelo menos essa é a intenção da maioria das maquinas que construímos) e ai vamos ver o que de fato vai ocorrer.
Isso daria um belo livro.
Gosto da ideia dos Yetis usarem lentes feitas de gelo…. 😉
Se a utilização de ferramentas é tomada em consideração como sinal de inteligência… então podemos pensar nestes exemplos:
Link: http://pt.wikipedia.org/wiki/Intelig%C3%AAncia_em_corvos
Citação:
Os estudos da inteligência em corvos têm demonstrado que tais animais são dotados de um aparato cognitivo capaz de lhes propiciar diversas ações que podem ser compreendidas como sinais de inteligência.
Como exemplo disso, tem-se a descoberta de cientistas da Universidade de Auckland de que os corvos têm a capacidade de usar três ferramentas em sucessão para conseguir chegar até os alimentos.
De acordo com uma pesquisa realizada por cientista da Universidade de Washington, em Seattle, os corvos seriam ainda capazes de identificar o rosto de uma pessoa que possa representar perigo, além de alertar os demais sobre a ameaça
Ver também; http://pt.wikipedia.org/wiki/Intelig%C3%AAncia_em_cet%C3%A1ceos
Durante um mergulho a cerca de 20 metros de profundidade, tive um dia a sensação nítida de que (de facto) estava mesmo em presença duma inteligência não-terrestre, que não era assim tão rudimentar como isso, pois a interacção que tive com esse polvo deixou-me surpreendido com a estranha subtileza dessa criatura, pela maneira que interagiu comigo, que senti que foi bastante mais complexa do que um cão ou um gato que são animais muito mais emocionais/felpudos e muito menos “frios” e sobretudo muito mais previsíveis…
http://pt.wikipedia.org/wiki/Intelig%C3%AAncia_em_cefal%C3%B3podes
Este tema tem (mesmo) muito que se lhe diga….
In 1947, funds from the Marshall Plan – the US program to help rebuild Europe after the Second World War – were allocated to researchers at Naples Zoological Station to study the brain of the octopus.
The results of this work, it was hoped, might help US Air Force engineers design better computers.
To this day, however, cephalopod brains remain a mystery (see intelligence, nature of). Although unusually large, they seem to work along fundamentally different lines from those of primates, like ourselves.
Much processing in the cephalopod nervous system appears to be done in ganglia distributed around the body.
Part of the reason for this is that these creatures communicate via fast-changing patterns of body color for which a distributed processing network is essential.
Fonte: http://www.daviddarling.info/encyclopedia/C/cephalopodintel.html
Saliento que este outro link é de 2001, e que entretanto têm ocorrido muito mais esforços para estudar estes temas:
Link: http://news.bbc.co.uk/2/hi/science/nature/1529397.stm
Citação:
Octopus arms do the thinking… The octopus, it seems, has some of its intelligence actually inside in its arms.
Sugestão: http://en.wikipedia.org/wiki/The_Swarm_(novel)
Penso que ainda não está traduzido para o Português, embora tenha sido um best-seller…
Uma vizualização possível:
http://www.fotocommunity.de/pc/pc/display/6621792
Uma das críticas no site da Amazon:
http://www.amazon.com/The-Swarm-Novel-Frank-Schatzing/dp/0060859806
Frank Schaetzing’s “Der Schwarm” has been so immensely popular in Europe because it combines technological (science) fiction with characters who think (and don’t constantly just act) and thought provoking passages between the action pages.
If you forgive me this comparison, this novel is not for the fast food pizza consumer, but a delicate feast that requires deliberate tasting and chewing.
I was disappointed, yet not suprised by some reviews that complain about volume, style and scarcity of heavy action.
Sorry my friends, this ain’t AVP or StarWars.
I recommend this novel only for the ones among you who still like to use the brain they have. You’ll love it.
Aparentemente irá ser feito um filme:
http://usatoday30.usatoday.com/life/movies/news/2006-05-16-uma-thurman_x.htm
The ecological thriller dominated Germany’s best-seller lists for nearly a year and was translated into 18 languages.
http://variety.com/2007/film/news/schatzing-s-swarm-takes-film-form-2-1117964516/
Curiosamente, o filme ainda não aparece nesta lista:
http://en.wikipedia.org/wiki/List_of_science_fiction_films_of_the_2010s#2014
Nem aqui:
http://en.wikipedia.org/wiki/List_of_eco-horror_films
Aqui também não:
http://en.wikipedia.org/wiki/List_of_natural_horror_films
E nada nesta lista:
http://en.wikipedia.org/wiki/List_of_disaster_films
Comento que os filmes da série Terminator estão classificados como “Monstros” (concordo) e não como “Computadores”… http://en.wikipedia.org/wiki/List_of_disaster_films#Computers
Por último, gosto desta música: http://www.derschwarm.com/index1.html
Ola!
Este é um tema interessante apesar de nada do abordado existir vale sempre bem pelo sentimento que se ergue com o tema. Bem para mim e muito sinceramente e não estou com paranoias depressivas mas penso que a humanidade a conviver com uma outra espécie dominadora? Não iria simplesmente resultar já que na sua grande maioria a humanidade e assim se fez a história da humanidade em que impera a ansia de poder, a de dominar com a forma tão humana que se manifesta em forma de ganancia, o orgulho que jamais se alterará por muito que se diga que já se mudou? Entre estes e tantos outros defeitos por muita experiencia pelos 10.000 anos de civilização salvo erro que a humanidade sobreviveu ainda e nem tampouco aprendeu a conviver com a sua própria espécie o que faria com uma outra espécie concorrente ou dominadora! Extinção! Absolutamente.