O robot britânico Beagle-2 na superfície de Marte. Imagem captada pela câmara HiRISE da sonda Mars Reconnaissance Orbiter, a 15 de dezembro de 2014.
Crédito: NASA/JPL-Caltech/Univ. of Arizona/University of Leicester.
Cientistas da agência espacial britânica, a UKSA, anunciaram esta semana a descoberta do pequeno robot britânico Beagle-2 em imagens da superfície de Marte captadas pela sonda Mars Reconnaissance Orbiter. Esta descoberta põe um ponto final num mistério que atormentou os responsáveis da missão durante pouco mais de uma década.
O robot britânico era parte importante da missão europeia Mars Express, e foi concebido com o objetivo de procurar evidências de vida primitiva no interior de Isidis Planitia, uma gigantesca bacia de impacto com 1225 km de diâmetro. O Beagle-2 separou-se da sua sonda-mãe a 19 de dezembro de 2003, dando início a uma curta viagem de 6 dias, que deveria ter culminado com a sua chegada à superfície do planeta vermelho.
Infelizmente, nem tudo correu de acordo com o previsto. O robot tentou pousar no local programado, mas nunca enviou um sinal para a Terra confirmando o sucesso da manobra. As tentativas para restabelecer o contacto revelaram-se infrutíferas, pelo que o Beagle-2 foi dado como oficialmente perdido a 11 de fevereiro de 2004.
Modelo do robot Beagle-2 com o seu braço robótico em primeiro plano.
Crédito: missão Beagle-2.
Agora, mais de uma década depois, o pequeno robot britânico foi identificado em imagens de alta resolução captadas pela câmara HiRISE da Mars Reconnaissance Orbiter. O Beagle-2 aparenta estar parcialmente desdobrado na superfície marciana, o que sugere que o robot alcançou com sucesso o seu destino no dia 25 de dezembro de 2003.
“Estamos muito felizes por saber que o Beagle-2 poisou em Marte”, afirmou Alvaro Giménez, diretor do Departamento de Ciência e Exploração Robótica da ESA. “É inspiradora a dedicação das várias equipas no estudo das imagens de alta resolução, com o objetivo de encontrarem o robot.”
A missão Mars Reconnaissance Orbiter tem colaborado com a UKSA e a ESA na procura do pequeno robot britânico, desde que a sonda da NASA alcançou a órbita marciana em 2006. O Beagle-2 deveria ter pousado no interior de uma elipse com cerca de 170 km de comprimento por 100 de largura, na região leste de Isidis Planitia. A câmara HiRISE tem fotografado o local de forma ocasional, mas as pequenas dimensões do robot (menos de 2 metros de diâmetro) têm tornado a sua deteção bastante complicada.
As imagens que permitiram a sua identificação foram captadas a 28 de fevereiro de 2013 e a 29 de junho de 2014, a cerca de 5 km de distância do centro da elipse onde o robot britânico deveria ter pousado, e foram inicialmente escrutinadas por Michael Croon, um antigo membro da missão Mars Express. “Ele descobriu algo que poderia ser um bom candidato”, explicou Alfred McEwen, investigador principal da HiRISE. “Mas a primeira imagem tinha um baixo contraste, e era difícil de nos convencermos de que estaria ali algo especial.”
Animação mostrando o Beagle-2 junto a dois objectos interpretados com sendo o paraquedas e a cobertura traseira da sonda britânica. Imagens captadas pela câmara HiRISE da sonda Mars Reconnaissance Orbiter.
Crédito: NASA/JPL-Caltech/Univ. of Arizona/University of Leicester.
Depois da descoberta deste potencial candidato, a equipa captou imagens adicionais, que revelaram um ponto brilhante que parecia mover-se ligeiramente de acordo com o ângulo de iluminação. “Isso era consistente com o Beagle-2“, disse McEwen. “Como os seus painéis solares estavam organizados como [se fossem] pétalas, cada um refletiria a luz de forma diferente, dependendo do ângulo do Sol e da Mars Reconnaissance Orbiter, especialmente se o robot estivesse pousado numa área inclinada.”
Nas imagens agora divulgadas, o Beagle-2 aparenta repousar numa configuração parcialmente desdobrada, com apenas dois ou três painéis completamente abertos, o que explica o silêncio do robot logo após a sua chegada à superfície de Marte. Uma falha na abertura dos painéis solares teria impossibilitado a exposição da antena de rádio, o que por sua vez tornaria impossível a transmissão de dados para a Terra, e a recepção de comandos através da sonda Mars Express. Infelizmente, isto significa que não há qualquer possibilidade de reativar o pequeno robot, e recuperar os dados que possam eventualmente ter sido armazenados durante o curto período em que o robot esteve operacional.
“Estou muito feliz pelo Beagle-2 ter sido finalmente encontrado na superfície de Marte”, afirmou Mark Sims, antigo responsável da missão Beagle-2. “As imagens mostram que estivemos muito perto de alcançar o nosso objetivo científico em Marte. (…) A sequência extremamente complexa de entrada, descida e pouso, parece ter funcionado de forma perfeita, e o Beagle-2 parece ter-se debatido com problemas, apenas durante as últimas fases do desdobramento. Vejo como uma grande conquista o facto da equipa ter construído o Beagle-2 em pouco mais de 4 anos, e tê-lo pousado com sucesso na superfície de Marte.”
Estão planeadas imagens e análises adicionais para determinar com rigor o que se passou com o robot britânico, e confirmar a identidade de outros objetos entretanto identificados, como, por exemplo, o paraquedas, os airbags, a cobertura traseira e a escudo térmico.
1 comentário
O Curiosity ou o Oportunity podiam lá ir dar uma mãozinha ao primo inglês. 🙂