Toda a força do Sol

veleiroNasa

Merton sorriu de viés, recordando suas tentativas de explicar a navegação solar ao público que lhe ouvia as conferências lá na Terra. Esse fora o único meio de levantar dinheiro naqueles tempos iniciais. Embora fosse o projetista-chefe da Cosmodyne Corporation, com uma série de espaçonaves bem-sucedidas a seu crédito, não se podia dizer que a companhia olhasse com muito entusiasmo esse passatempo.
— Estendam as mãos para o Sol — dizia ele. — Que é que os senhores sentem? Calor, é claro. Mas também há pressão, embora nunca a tenham sentido, por ser tão diminuta. Sobre a superfície das suas mãos, ela não é maior do que vinte e oito milésimos de miligrama.
“Mas lá fora, no espaço, até uma pressão tão pequena como essa pode ser importante, porque atua ininterruptamente, hora após hora e dia após dia. Ao contrário do combustível que move os foguetes, ela é gratuita e ilimitada. Se quisermos, poderemos utilizá-la. Poderemos construir velas para captar as radiações emitidas pelo Sol.”
Neste ponto Merton sacava do bolso alguns metros quadrados de material para vela e arremessava-o na direção do público. A película prateada enroscava-se e torcia-se como fumaça, depois subia lentamente para o teto nas correntes de ar quente.
— Estão vendo como é leve? — continuava ele. — Uma milha quadrada pesa apenas uma tonelada e pode captar dois quilos e meio de pressão de irradiação. Portanto, começará a mover-se… e podemos fazer com que nos leve a reboque, se a provirmos de cordame.
“Naturalmente, a sua aceleração seria diminuta, cerca de um milésimo de gravidade. Isso não parece ser grande coisa, mas vejamos o que significa.
“Significa que no primeiro segundo nos deslocaremos cerca de meio centímetro. Suponho que um caracol sadio possa fazer melhor do que isso. Mas ao cabo de um minuto teremos percorrido dezoito metros e estaremos fazendo uma milha e pouco por hora. Já não é nada mau, para uma coisa impelida unicamente pela luz do Sol! Depois de uma hora nos acharemos a sessenta e quatro quilômetros do nosso ponto de partida e estaremos nos movendo a cento e vinte e oito quilômetros por hora. Lembrem-se, por favor, de que no espaço não há atrito, de modo que, quando se põe uma coisa em movimento, ela continuará a mover-se eternamente. Os senhores e as senhoras ficarão surpreendidos quando eu lhes disser a velocidade que terá adquirido o nosso barco de um milésimo de gravidade no fim de um dia de corrida: quase três mil e duzentos quilômetros por hora! Se ele partir de órbita — como terá de fazer, é claro — atingirá a velocidade de escape em dois dias. E tudo isso sem ter queimado uma só gota de combustível!”

Arthur Clarke : O vento Solar

A “The Planetary Society” retomou em julho de 2014 o seu projeto de um Veleiro Solar com o lançamento do LightSail previsto para 2016. O projeto foi financiado pelos sócios da TPS, e testará conceitos como aqueles propostos pelo escritor e visionário Arthur C. Clarke já em 1963.

A navegação à base de veleiros ao sabor do vento, usando a força da natureza, desbravaram os oceanos, e descobriram novos mundos ao longo de nossa história. Agora, veleiros usando a energia do vento do Sol, podem explorar os mundos do Sistema Solar, e mais além, aos ventos de outros sóis.

Ref.:

Fronteiras da Ciência

Podcast Episódio 21

Projeto LighSail

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