Vesta em cores naturais. Este mosaico foi construído com 17 imagens obtidas pela sonda Dawn, a 20 de agosto de 2011.
Crédito: NASA/JPL-Caltech/UCLA/MPS/DLR/IDA/Björn Jónsson.
A Dawn encontra-se agora muito próxima do seu novo destino, o planeta anão Ceres, mas foi a sua anterior visita a outro distinto membro da Cintura de Asteroides a merecer o pleno destaque no final desta semana. Num artigo recentemente publicado na revista Earth and Planetary Science Letters, cientistas anunciaram a descoberta de evidências geomorfológicas de que pequenas quantidades de água líquida poderão ter fluído na superfície de Vesta, sob a forma de detritos ricos em água.
“Ninguém esperava encontrar evidências de água em Vesta”, afirmou Jennifer Scully, investigadora da Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos, e primeira autora deste trabalho. “A superfície é muito fria e não existe atmosfera, pelo que toda a água presente na superfície evapora. No entanto, Vesta tem demonstrado ser um corpo planetário muito interessante e complexo.”
A equipa liderada por Scully identificou um pequeno número de crateras na superfície vestiana, exibindo barrancos sinuosos e depósitos lobados semelhantes a leques aluviais. As crateras parecem ter sido formadas há apenas algumas centenas de milhões de anos – uma época relativamente recente quando comparada com a idade de Vesta (aproximadamente 4,6 mil milhões de anos). Se for confirmada, esta descoberta terá fortes implicações na compreensão da distribuição da água no interior da Cintura de Asteroides.
Cornelia, uma jovem cratera com cerca de 15 km de diâmetro. Este mosaico foi construído com 5 imagens captadas pela sonda Dawn, entre 11 de janeiro e 13 de março de 2012.
Crédito: NASA/JPL-Caltech/UCLA/MPS/DLR/IDA/Emily Lakdawalla.
“Estes resultados, e muitos outros da missão Dawn, mostram que Vesta alberga processos que se pensava serem exclusivos dos planetas”, disse Christopher Russell, investigador principal da missão Dawn, e coautor do trabalho. “Estamos ansiosos por desvendar ainda mais descobertas e mistérios quando a Dawn estudar Ceres.”
Os barrancos vestianos são semelhantes aos criados na superfície terrestre pelo movimento de areia molhada ou de aglomerados de rocha e lama. “Estas estruturas de Vesta partilham muitas características com as formadas pelo fluxo de detritos na Terra e em Marte”, explicou Scully.
A sua morfologia difere consideravelmente da morfologia dos barrancos lineares fotografados, por exemplo, na Lua – estruturas sulcadas pelo fluxo de detritos compostos por aglomerados de rocha e regolito isentos de materiais voláteis – o que levou os investigadores a sugerir a água como elemento mobilizador. A sua presença deverá estar, no entanto, limitada a pequenas quantidades e a breves períodos de tempo, uma vez que a água se volatiza muito rapidamente nas condições ambientais da superfície de Vesta.
Os barrancos têm cerca de 30 metros de diâmetro e, em média, pouco mais de 900 metros de comprimento, e encontram-se organizados em pequenas redes, que convergem na direção de depósitos lobados, possivelmente abandonados após a completa evaporação da água. A cratera Cornelia contém alguns dos mais impressionantes exemplos destas estruturas.
A cratera Cornelia vista pela sonda Dawn. Podemos observar na imagem da direita um exemplo de um barranco sinuoso (setas brancas curtas) e de um depósito lobado (setas brancas compridas) numa das vertentes interiores da cratera.
Crédito: NASA/JPL-Caltech/UCLA/MPS/DLR/IDA.
Scully e colegas sugerem que a água terá tido origem em pequenos depósitos de gelo localizados abaixo da superfície de Vesta. Impactos de meteoroides ou de outros asteroides poderão ter derretido o gelo, provocando o fluxo temporário de água líquida no interior da cratera recém-formada.
“Se o gelo estivesse hoje presente, estaria enterrado a uma profundidade demasiado elevada para ser detetado por qualquer um dos instrumentos da Dawn“, disse Scully. “Contudo, as crateras com barrancos sinuosos estão associadas a terrenos com sumidouros, que foram independentemente identificados como uma evidência da perda de gases voláteis [pela superfície] de Vesta.” Foram ainda detetados pela sonda Dawn materiais hidratados em algumas das rochas da superfície vestiana, o que sugere que Vesta não é um objeto completamente desprovido de água.
Experiências realizadas pelos investigadores, no Laboratório de Propulsão a Jato, sugerem que a água teria tido tempo suficiente para sulcar os barrancos antes de se evaporar. “As partículas rochosas ajudam a diminuir a taxa de evaporação”, explicou Scully.
A Dawn tornar-se-á em breve na primeira sonda a orbitar dois mundos. Depois de estudar Vesta, entre 2011 e 2012, a sonda da NASA aproxima-se agora de Ceres, o maior objeto da Cintura de Asteroides, e deverá atingir a sua órbita no próximo dia 6 de março.
Podem encontrar todos os pormenores deste trabalho aqui.
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