Vantagem do sexo
Quem responder “a vantagem do sexo é aumentar a variedade genética da população” mostrará que não é da área da biologia evolutiva: vantagens futuras não justificam processos seletivos atuais.
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Gerardo Furtado
Gerardo Furtado é professor de biologia no ensino secundário, e autor do blog Biologia Evolutiva. Escreve ficção e não ficção, especialmente divulgação científica. Interessa-se não só pelas ciências da vida mas pelos mais diversos ramos da ciência, e é encantado por tudo que tenha a ver com a exploração do espaço, desde o projeto Mercury até a Estação Espacial Internacional.
1 comentário
Não posso concordar.
“vantagens futuras não justificam processos selectivos actuais”.
Acho que a frase resulta de algum preciosismo, talvez activismo. No objectivo louvável de tentar combater algumas ideias populares sobre o facto de a evolução ter um rumo, e obviamente não tem, cai-se em afirmação destas.
Sejamos racionais. Se não são vantagens futuras vantagens passadas é que não são de certeza e o presente dura muito, muito pouco, para justificar alguma coisa. Palisse não diria melhor. Existem conceitos que são demasiado complicadas para se exprimirem numa frase.
Processos futuros claros que não justificam a variação genética, isso sim está correcto. Muito menos justificam a variação genética num certo sentido. A variação genética é fortuita e ocorre permanentemente independentemente de qualquer pressão selectiva. Podem no entanto existir processos que aumentem a sua ocorrência.
No entanto eventuais vantagens, que são futuras quando uma dada variação acorre, justificam que a variação genética se espalhe no conjunto de populações.
Mas vamos ao caso em análise. No caso do sexo, bem, em primeiro lugar cuidado. O termo sexo na acepção geral diz respeito a duas coisas diferentes. A reprodução e a recombinação genética. Não têm de estar intimamente (trocadilho não intencional) associados, e na natureza há abundantes exemplos de não estarem.
Vamos-nos concentra na recombinação genética seguindo a linha inicial de raciocínio. A reprodução também tem óbvias vantagens evolutivas FUTURAS, aliás tem a derradeira vantagem, que poderá encerrar aliás a origem da vida, mas isso fica para outro dia.
A teoria da rainha vermelha é verosímil. Mas a vantagem evolutiva que encerra é futura. Na exacta mesma medida que a vantagem do aumento da variabilidade é uma vantagem futura. Aliás penso que “all in all” são a mesma coisa. A resistência a parasitas é um caso particular da vantagem que a variabilidade trás. O ponto central é que em ambos os casos são vantagens futuras.
Claro que não encerro o problema de perceber a existência do sexo no segundo sentido. O problema do sexo não está nas suas vantagens mas nas suas desvantagens e como subsiste apesar delas…
José “Darwin puro e duro para sempre” Simões