Mais evoluído?
A única situação em que o termo mais evoluído poderia fazer algum sentido (mas de forma bem capenga, e certamente substituível por um termo melhor) é se compararmos duas sequências genéticas, determinando a que sofreu mais modificações a partir da sequência original (ancestral). Mas nunca para nos referirmos a comparações entre dois indivíduos, muito menos entre duas espécies.
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Gerardo Furtado
Gerardo Furtado é professor de biologia no ensino secundário, e autor do blog Biologia Evolutiva. Escreve ficção e não ficção, especialmente divulgação científica. Interessa-se não só pelas ciências da vida mas pelos mais diversos ramos da ciência, e é encantado por tudo que tenha a ver com a exploração do espaço, desde o projeto Mercury até a Estação Espacial Internacional.
4 comentários
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Desculpe, mas essa afirmação aí em cima (não existe o conceito de “mais evoluído” na Biologia) está completamente equivocada. Sou biólogo por formação e o conceito de evolução nos permite SIM responder a pergunta “qual é o mais evoluído”, considerando o conceito biológico de evolução. A resposta é que provavelmente não agradaria a maioria das pessoas: o mais evoluído sempre é o mais adaptado ao ambiente. Independente da sua complexidade biológica. Nesse contexto, tanto bactéria quanto mamífero podem ser mais evoluídos, dependendo do ambiente que se encontram para desempenhar suas capacidades reprodutoras, repassar seus genes aos descendentes e preservar sua espécie. Como o meio ambiente é mutável, nossos genes também devem ser para que o nosso fenótipo adapte-se nessa constante inconstância que é a vida. Portanto, aquele que designamos mais evoluído pode rapidamente mudar, dependendo do estágio de adaptação da espécie (ou do indivíduo, se for o caso). O problema é que essa resposta TAMBÉM gera falácias, e fica mais fácil dizer que tal comparação não é permitida. E não é por aí.
Pergunta A: Diga um número menor que 1?
Resposta A1: A pergunta não pode ser respondida (não faz sentido) Se tiver 1 ovelha e me roubarem, não fica nenhum número de ovelhas.
Resposta A2: Zero, e uma infinidade de números negativos, inteiros ou não. Nenhum é inteiro positivo, claro, pelo que a resposta 1 tem algum mérito.
Pergunta B: Qual a raiz quadrada de menos 1?
Resposta B1: A pergunta não pode ser respondida (não faz sentido) . Não existe nenhum número cujo quadrado seja um número negativo.
Resposta B2: Existem duas r.q. de menos 1. A saber, mais i e menos i. Nenhuma delas é um número real, claro, pelo que a resposta 1 tem algum mérito.
Pergunta C: Quanto é cinco dividido por zero
Resposta C1: A pergunta não pode ser respondida (não faz sentido) . Se existisse esse número, 7 era igual a 99.
Resposta C2: É um símbolo de impossibilidade. Não é um número claro, pelo que a resposta 1 tem algum mérito.
Pensam que estava a falar de matemática? Não estava a falar de biologia e da da facto mais geral de se confundir definições com a realidade.
Muito interessante o seu artigo. Se evolução, em biologia, tem um significado mais próximo dos termos “transformação” ou “mudança”, talvez tenha sido mal empregue desde o início do desenvolvimento da teoria, uma vez que costumamos associar à palavra “evolução” o conceito de “desenvolvimento”, “aperfeiçoamento” ou “transformação gradual e progressiva”. Independentemente do significado que a biologia dá à palavra “evolução”, podemos constatar que ao longo da crolonolgia evolutiva do planeta existe, efectivamente, um desenvolvimento gradual e generalizado da complexidade dos organismos e da sua capacidade para compreender e manipular o seu habitat. Será que conceitos como “mais complexo” ou “mais consciente” fazem, neste contexto, algum sentido em Biologia?
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Oi, Artur,
a questão não é que o termo evolução tenha sido mal empregado quando a biologia evolutiva se originou. Na verdade, é quase o contrário: a biologia evolutiva é que escolheu um termo inadequado, porque a palavra “evolução” já existia (do latim evolvere) em inglês desde 1620, e significava exatamente “se desenvolver, tornar-se mais complexo”. Aliás, é por essa razão que Darwin não usa a palavra evolution uma vez sequer na “On the origin of species”. Além disso, em medicina, evolução já significava desenvolvimento, e até hoje esse uso é possivel (como por exemplo quando um médico fala da “evolução de um verme”, referindo-se ao ciclo vital do organismo).
Já a segunda parte do que você falou é algo mais complicado. O aumento da complexidade que se vê na história evolutiva da terra é uma contingência, e não uma obrigatoriedade. Lembre-se que linhagens se formam, mas linhagens também desaparecem. Estruturas se tornam mais complexas, mas também podem se tornar mais simples. É bastante comum uma dada linhagem reduzir ou mesmo perder uma dada estrutura. O nome disso não é “involução”, palavra que por sinal não existe em biologia, mas sim “evolução”!
Abraço,