Um Oceano Interior em Ganímedes?

Esta semana, numa conferência de imprensa da NASA, foram apresentadas observações realizadas pelo Telescópio Espacial Hubble que sugerem a existência de um oceano interior em Ganímedes, a maior lua de Júpiter. Ganímedes é a maior lua do Sistema Solar, maior inclusive do que o planeta Mercúrio. Tem também a particularidade de, tanto quanto sabemos, ser a única lua com um campo magnético. Na Terra, a existência de um campo magnético protege a atmosfera e a superfície, da radiação ionizante proveniente do Sol e do resto do Universo. O campo tem origem no movimento de ferro, níquel e outros metais liquefeitos no núcleo do planeta — um efeito semelhante a um dínamo.

Representação artística de auroras em Ganímedes, com o gigante Júpiter à distância. Crédito: NASA, ESA e G. Bacon (STScI).

Representação artística de auroras em Ganímedes, com o gigante Júpiter à distância. Crédito: NASA, ESA e G. Bacon (STScI).

A presença do campo é denunciada, por exemplo, pela utilização de uma bússola ou, mais espectacularmente, pela observação de auroras. Este fenómeno deve-se ao choque de partículas como electrões e protões provenientes do Sol que são encaminhadas pelo campo magnético terrestre até aos pólos magnéticos (junto aos pólos geográficos). Aí, as partículas colidem com átomos e moléculas de oxigénio, nitrogénio e outras espécies químicas na atmosfera provocando a sua fluorescência.

A estrutura interna de Ganímedes. Até ao estudo hoje publicado, pensava-se que a fonte do campo magnético da lua era o seu núcleo central de ferro. Crédito: NASA, ESA e A. Feild (STScI).

A estrutura interna de Ganímedes. Até ao estudo hoje publicado, pensava-se que a fonte do campo magnético da lua era o seu núcleo central de ferro. Crédito: NASA, ESA e A. Feild (STScI).

Ora, o que a equipa de cientistas da NASA tinha de tão importante para nos dizer era que observações realizadas com o Hubble no ultravioleta permitiram detectar auroras em Ganímedes! Mais ainda, o campo magnético da lua encontra-se imerso no gigantesco campo magnético de Júpiter e interage com ele, provocando oscilações na orientação das auroras. Curiosamente, os dados do Hubble mostram que a amplitude destas oscilações é bem mais pequena (cerca de 2 graus) do que o esperado se o campo magnético da lua fosse gerado apenas pelo seu núcleo de ferro (cerca de 6 graus).

A amplitude das oscilações provocadas pelo campo magnético de Júpiter na orientação das auroras em Ganímedes. À esquerda, sem incluir os efeitos de um oceano interior; à direita, assumindo a existência de um oceano interior. As observações do Hubble confirmam o segundo cenário. Crédito: NASA, ESA e A. Feild (STScI).

A amplitude das oscilações provocadas pelo campo magnético de Júpiter na orientação das auroras em Ganímedes. À esquerda, sem incluir os efeitos de um oceano interior; à direita, assumindo a existência de um oceano interior. As observações do Hubble confirmam o segundo cenário. Crédito: NASA, ESA e A. Feild (STScI).

O que poderia, então, explicar estas observações? A equipa calculou que a existência de um oceano salgado (condutor de electricidade) abaixo da superfície de Ganímedes, seria uma explicação possível para os dados recolhidos pelo Hubble. Esse oceano induziria um campo magnético secundário que atenuaria a amplitude das oscilações provocadas pelo campo magnético de Júpiter. Os dados permitem inclusive calcular a quantidade de água necessária, bem como a sua distribuição no interior da lua, para provocar o efeito observado. O resultado obtido pela equipa é notável: o oceano interior de Ganímedes deverá ser constituído por mais água do que toda a disponível na superfície da Terra, terá uma profundidade de 100 km e estará escondido por debaixo de uma crusta, maioritariamente formada por gelo, com 150 km de espessura!

(Fonte: STScI)

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  1. […] da mitologia grega), contém um oceano de água salgada, em fase líquida, no seu interior, ao observar, muito atentamente, o comportamento de auroras polares nessa Lua […]

  2. […] principal satélite do maior planeta do Sistema Solar tem um oceano salgado sob o espesso manto de […]

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