ALMA observa pela primeira vez formação de galáxias no Universo primordial

Com o auxílio do Atacama Large Millimeter/submillimeter Array (ALMA) foram detectadas as nuvens de gás de formação estelar mais distantes observadas até hoje em galáxias normais no Universo primordial.
As novas observações permitem aos astrónomos começar a ver como é que as primeiras galáxias se foram construindo e como é que limparam o nevoeiro cósmico durante a era da reionização.
Esta é a primeira vez que tais galáxias são observadas com melhor detalhe do que simples manchas ténues.

ALMA observa formação de galáxias no Universo primordial. Crédito: ESO/R. Maiolino

ALMA observa formação de galáxias no Universo primordial.
Crédito: ESO/R. Maiolino

Quando as primeiras galáxias se começaram a formar algumas centenas de milhões de anos depois do Big Bang, o Universo estava cheio de um nevoeiro de hidrogénio gasoso. Mas à medida que mais e mais fontes brilhantes — tanto estrelas como quasares alimentados por enormes buracos negros — começaram a brilhar, este nevoeiro foi desaparecendo tornando o Universo transparente à radiação ultravioleta. Os astrónomos chamam a este período a época da reionização, no entanto pouco se sabe acerca destas primeiras galáxias e, até agora, apenas se tinham observado como manchas ténues. Estas novas observações obtidas com o poder do ALMA estão a mudar esta realidade.

Uma equipa de astrónomos liderada por Roberto Maiolino (Cavendish Laboratory e Kavli Institute for Cosmology, University of Cambridge, Reino Unido) apontou o ALMA a galáxias que se sabia estarem a ser observadas a cerca de apenas 800 milhões de anos depois do Big Bang. Os astrónomos não estavam à procura da radiação emitida pelas estrelas, mas sim do fraco brilho do carbono ionizado emitido pelas nuvens de gás a partir das quais se formam as estrelas. A equipa pretendia estudar a interacção entre uma geração de estrelas jovem e os frios nodos de gás que se estavam a formar nestas primeiras galáxias.

A equipa também não estava à procura de objetos raros extremamente brilhantes — tais como quasares e galáxias com elevada taxa de formação estelar — que tinham sido observados anteriormente. Em vez disso, o trabalho concentrou-se em galáxias muito mais comuns, galáxias que reionizaram o Universo e se transformaram na maior parte das galáxias que vemos hoje à nossa volta.

Vindo de uma das galáxias — chamada BDF2399 — o ALMA captou um sinal fraco mas claro de carbono brilhante. No entanto, este brilho não vinha do centro da galáxia, mas sim de um dos lados.

O co-autor Andrea Ferrara (Scuola Normale Superiore, Pisa, Itália) explica a importância desta nova descoberta: “Trata-se da detecção mais distante deste tipo de emissão de uma galáxia “normal”, observada a menos de mil milhões de anos depois do Big Bang, o que nos dá a oportunidade de observar a formação das primeiras galáxias. Estamos a ver pela primeira vez galáxias primordiais não como pequenos pontos, mas como objetos com estrutura interna!”

Os astrónomos pensam que a localização deslocada do centro desta emissão deve-se ao facto das nuvens centrais estarem a ser desfeitas pelo meio inóspito criado pelas estrelas récem formadas — tanto pela sua radiação intensa como pelos efeitos de explosões de supernova — enquanto o carbono está a traçar gás frio recente que está a ser acretado do meio intergaláctico.

Ao combinar as novas observações ALMA com simulações de computador foi possível compreender em detalhe processos chave que estão a ocorrer no seio das primeiras galáxias. Os efeitos da radiação emitida pelas estrelas, o sobreviver de nuvens moleculares, o facto da radiação ionizante se escapar e a estrutura complexa do meio interestelar podem agora ser calculados e comparados às observações. A BDF2399 é muito possivelmente um exemplo típico das galáxias responsáveis pela reionização.

“Durante muitos anos tentámos compreender o meio interestelar e a formação das fontes de reionização. Conseguir finalmente testar previsões e hipóteses em dados reais do ALMA é algo extremamente excitante e que nos abre um novo conjunto de questões. Este tipo de observação clarificará muitos dos difíceis problemas que temos tido com a formação das primeiras estrelas e galáxias no Universo,” acrescenta Andrea Ferrara.

Roberto Maiolino conclui: “Este estudo teria sido simplesmente impossível sem o ALMA, uma vez que nenhum outro instrumento consegue atingir a sensibilidade e resolução espacial necessárias. Embora esta seja uma das observações mais profundas do ALMA realizada até agora, estamos ainda longe de atingir todas as capacidades deste telescópio. No futuro o ALMA fará imagens da estrutura fina das galáxias primordiais, mostrando em detalhe a formação das primeiras galáxias.”

Este é um artigo do ESO, que pode ser lido aqui.

3 comentários

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    • Rita Pinto Leite on 24/07/2015 at 21:16
    • Responder

    ok claro, mas às vezes tudo parece um “dejá vu” 🙂

    Obrigada Carlos

    • Rita Pinto Leite on 24/07/2015 at 17:26
    • Responder

    Carlos, quer dizer que o passado o presente e o futuro existem ao mesmo tempo?
    É que se sim tenho muitas perguntas e factos que se passam comigo em que sinto isso mesmo

    1. Sempre que olhamos para o espaço, estamos a ver como eram as coisas no passado, porque a luz demora a cá chegar.

      Quando olhas para o Sol, vês o Sol como era há 8 minutos atrás (foi esse o tempo que a luz demorou a cá chegar) e não agora.
      O passado e o presente não coexistem. Simplesmente no teu presente tu vês o passado de outros 🙂

      beijinhos!

  1. […] formarem os primeiros átomos (os mais simples, os de Hidrogénio, que são os mais abundantes) e as primeiras galáxias terão surgido no segundo grande período de reatribuição de carga eléctrica ( o primeiro foi o […]

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