Grande Mancha Vermelha de Júpiter continua a encolher

mapa_Jupiter_WFC3_Hubble_190115Mapa da atmosfera de Júpiter construído com imagens obtidas pelo telescópio espacial Hubble, a 19 de janeiro de 2015.
Crédito: NASA/ESA/Goddard/UCBerkeley/JPL-Caltech/STScI/adaptado por Sérgio Paulino.

Uma equipa de investigadores usou o telescópio espacial Hubble para produzir um conjunto de mapas detalhados da atmosfera tumultuosa de Júpiter. Estes novos mapas são os primeiros a serem produzidos pelo Outer Planet Atmospheres Legacy (OPAL), um projeto dedicado a criar uma série de retratos anuais dos 4 planetas gigantes do Sistema Solar, com o objetivo de ajudar os cientistas a compreender a evolução e dinâmica das atmosferas destes mundos distantes.

Os retratos agora divulgados foram construídos com imagens captadas pela Wide Field Camera 3 com um intervalo de 10 horas (aproximadamente o equivalente ao período de rotação de Júpiter), o que tornou possível a determinação da velocidade dos ventos jovianos e a identificação de fenómenos atmosféricos raramente observados no planeta. “Cada vez que olhamos para Júpiter, obtemos pistas intrigantes de que está a acontecer algo verdadeiramente emocionante”, disse Amy Simon, investigadora do Centro de Voos Espaciais Goddard da NASA, nos Estados Unidos, e membro da equipa do projeto OPAL. “Esta vez não é exceção.”

GMV_antes_depois_Jupiter_WFC3_Hubble_190115Movimento das nuvens de Júpiter num período aproximado de 10 horas. Em baixo são visíveis destacadas duas pequenas imagens da Grande Mancha Vermelha, em comprimentos de onda na banda do azul (à esquerda) e do vermelho (à direita).
Crédito: NASA/ESA/Goddard/UCBerkeley/JPL-Caltech/STScI.

As novas imagens confirmam que a Grande Mancha Vermelha (GMV) continua a encolher, mantendo assim a tendência que se tem verificado nas últimas duas décadas. A tempestade tem agora cerca de 16260 km de comprimento – aproximadamente menos 240 km do que tinha em 2014. Nos últimos 3 anos, o eixo maior da tempestade diminuiu a um ritmo superior ao de anos anteriores, no entanto as mudanças agora observadas são mais consistente com a tendência a longo prazo.

A GMV continua mais laranja do que vermelha, e o seu centro, normalmente com uma cor mais intensa, apresenta-se agora menos proeminente. Nas novas imagens podemos observar um fino filamento estendendo-se por quase a totalidade do comprimento do vórtice central. Esta estrutura roda e distorce-se no período de 10 horas que separa os dois conjuntos de imagens, movendo-se pela ação de ventos que sopram a velocidades entre os 360 e 540 km/h!

onda_CEN_Jupiter_WFC3_Hubble_190115Estrutura em forma de onda observada na Cintura Equatorial Norte de Júpiter. Imagem em cores falsas obtida pelo telescópio espacial Hubble, a 19 de janeiro de 2015. As setas mostram a localização dos ciclones, enquanto que as barras indicam a onda.
Crédito: NASA/ESA/Goddard/UCBerkeley/JPL-Caltech/STScI.

Na Cintura Equatorial Norte, os investigadores descobriram ainda uma estrutura invulgar em forma de onda, até agora apenas observada em imagens do planeta captadas em 1979 pela sonda Voyager 2. Esta estrutura parece viajar numa região ponteada por ciclones e anticiclones e tem uma morfologia semelhante às ondas baroclínicas observadas na atmosfera terrestre, em locais onde se formam ciclones.

“Pensámos até agora que a onda observada pela Voyager 2 poderia ter sido uma mera casualidade”, disse Glenn Orton, investigador do Laboratório de Propulsão a Jato, nos Estados Unidos, e membro da equipa responsável por este trabalho.”Como se constantou, é apenas um fenómeno raro!” De acordo com os investigadores, a onda poderá ter origem numa camada límpida sob as nuvens, tornando-se apenas visível quando se propaga para o lençol de nuvens na camada superior.

Além de Júpiter, foram observados ainda Neptuno e Urano. Os mapas destes 2 planetas deverão ser disponibilizados em breve no arquivo público do projeto. Saturno será adicionado posteriormente. “É realmente emocionante o valor a longo prazo do programa OPAL“, afirmou Michael H. Wong, investigador da Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos, e membro da equipa responsável pelo trabalho. “A coleção de mapas que iremos acumular ao longo do tempo vai ajudar os cientistas a compreender não só a atmosfera dos nossos planetas gigantes, como também a atmosfera dos planetas que estão a ser descobertos em redor de outras estrelas, e a atmosfera e os oceanos da Terra, também.”

Este trabalho foi publicado na semana passada na revista Astrophysical Journal e pode ser encontrado aqui.

2 comentários

  1. Talvez não estejam encolhendo e sim mudando sua posição de forma rotatória produzindo imagens diferentes em tamanho na lente. Ilusão de ótica?

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