O halo resplandecente de uma estrela zombie

O VLT mapeia os restos da refeição de uma anã branca.

Impressão artística do disco de material resplandecente em torno da anã branca SDSS J1228+1040. Crédito: Mark Garlick (www.markgarlick.com) & University of Warwick / ESO

Impressão artística do disco de material resplandecente em torno da anã branca SDSS J1228+1040.
Crédito: Mark Garlick & University of Warwick / ESO

Os restos de uma interação fatal entre uma estrela morta e um asteróide foram estudados pela primeira vez com todo o pormenor por uma equipa internacional de astrónomos que utilizou o Very Large Telescope situado no Observatório do Paranal do ESO, no Chile.

Este estudo ajuda-nos a prever como será o futuro distante do Sistema Solar.

Impressão artística que compara o disco de material em torno da SDSS J1228+1040 com Saturno.Crédito: Mark Garlick & University of Warwick / ESO

Impressão artística que compara o disco de material em torno da SDSS J1228+1040 com Saturno.
Crédito: Mark Garlick & University of Warwick / ESO

Uma equipa de investigadores liderada por Christopher Manser, um estudante de doutoramento da Universidade de Warwick no Reino Unido, utilizou dados do Very Large Telescope do ESO (VLT) e doutros observatórios para estudar os restos destruídos de um asteróide em torno de uma estrela morta — uma anã branca chamada SDSS J1228+1040 (a designação completa da anã branca é SDSS J122859.93+104032.9).

Usando vários instrumentos, incluindo o Ultraviolet and Visual Echelle Spectrograph (UVES) e o X-shooter, ambos montados no VLT, a equipa obteve observações detalhadas da radiação emitida pela anã branca e pelo material que a rodeia durante um período de 12 anos — entre 2003 e 2015. Foram necessárias observações de longa duração para estudar o sistema sob vários aspectos.

“A imagem que criámos a partir dos dados processados mostra-nos que estes sistemas são claramente do tipo de discos e revela muitas estruturas que não poderiam ter sido detectadas com uma única observação,” explica o autor principal do trabalho Christopher Manser.

A equipa utilizou uma técnica chamada tomografia Doppler — semelhante à tomografia médica que é utilizada para observar o corpo humano — a qual permitiu mapear em detalhe, e pela primeira vez, a estrutura gasosa resplandescente que resta da “refeição” da anã branca e que a orbita.

Enquanto as estrelas grandes — mais massivas do que dez vezes a massa do Sol — sofrem no final das suas vidas um clímax espectacularmente violento sob a forma de explosão de supernova, as estrelas mais pequenas não têm um fim tão dramático. Quando as estrelas como o Sol chegam ao final das suas vidas, consomem todo o seu combustível, expandem-se nas chamadas gigantes vermelhas e mais tarde expelem as suas camadas exteriores para o espaço. Os seus núcleos quentes e muito densos — uma anã branca— é tudo o que resta do objeto.

Mas poderão os planetas, asteróides e outros corpos do sistema sobreviver a tal provação? O que restará? As novas observações ajudam a responder a estas questões.

É raro as anãs brancas terem em órbita discos de material gasoso — apenas foram encontradas até à data sete nestas condições. A equipa concluiu que um asteróide se aproximou perigosamente da estrela morta, tendo ficado desfeito pelas enormes forças de maré a que foi sujeito, formando por isso o disco de matéria que vemos agora.

O disco que orbita a estrela formou-se de maneira semelhante aos fotogénicos anéis que vemos em torno de planetas próximo de nós, como Saturno. No entanto, apesar da J1228+1040 ter um diâmetro sete vezes menor que o de Saturno, tem uma massa 2500 vezes superior. A equipa descobriu que a distância entre a anã branca e o seu disco é também muito diferente — Saturno e os seus anéis caberiam confortavelmente no espaço entre eles.
(Embora o disco em torno desta anã branca seja muito maior que o sistema de anéis de Saturno, é ainda assim minúsculo quando comparado com os discos de restos situados em torno de estrelas jovens onde se formam planetas).

O novo estudo a longo termo efectuado com o VLT permitiu à equipa observar a precessão do disco sob a influência do forte campo gravitacional da anã branca. A equipa descobriu ainda que o disco está ligeiramente torto e não se tornou ainda circular.

“Quando descobrimos este disco de restos em órbita da anã branca em 2006, não podíamos imaginar os detalhes extraordinários que vemos agora nesta imagem, criada a partir de 12 anos de dados — valeu definitivamente a pena esperar,” acrescentou Boris Gänsicke, co-autor do estudo.

Restos como a J1228+1040 dão-nos pistas importantes para compreender o meio que se forma quando as estrelas chegam ao fim das suas vidas. Este facto ajuda os astrónomos a perceber melhor os processos que ocorrem em sistemas exoplanetários e até a prever o destino do Sistema Solar quando o Sol chegar ao fim dos seus dias daqui a cerca de sete mil milhões de anos.

Os movimentos do material em torno da anã branca SDSS J1228+1040. Crédito: University of Warwick/C. Manser/ESO

Os movimentos do material em torno da anã branca SDSS J1228+1040.
Crédito: University of Warwick/C. Manser/ESO

Este é um artigo do ESO, que pode ser lido aqui.

2 comentários

  1. Aproveitando o tema estrelas, gostaria de saber porque vejo no céu estrelas com colorações diferentes, por exemplo, sempre vejo uma que parece ser vermelha.

    1. Olá Diana,

      As colorações podem ser aparentes ou não.
      Por exemplo, pode ser devido à atmosfera terrestre, de ter, supondo, mais cinzas vulcânicas.
      Mas também podem ser colorações intrínsecas (ou quase, assumindo que os nossos olhos veem as cores certas). O mais provável é estar a ver uma estrela gigante vermelha, como Betelgeuse ou Arcturus. São estrelas gigantes, no final das suas vidas. Com uma temperatura superficial mais baixa (e daí, vermelha).
      Também vê estrelas mais azuladas, como Rigel.

      abraços

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado.

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Fica a saber como são processados os dados dos comentários.