O pé de um dos gémeos, na constelação homónima, esconde um objecto de grande beleza estética e interesse astrofísico — a Nebulosa da Medusa (IC 443). Situada a cerca de 5 mil anos-luz, a nebulosa é o remanescente de uma supernova, tudo o que resta de uma estrela maciça que explodiu há dezenas de milhares de anos. No interior da nebulosa foi descoberta uma fonte pontual de raios-X, designada por CXOU J061705.3+222127, cujas características são semelhantes às de um pulsar — uma estrela de neutrões em rotação rápida e com um campo magnético intenso.
Os astrónomos pensam que este pulsar será tudo o que resta do núcleo da estrela que explodiu. Mas esta interpretação tem as suas dificuldades. Durante muito tempo assumiu-se que estas explosões seriam essencialmente simétricas. Neste cenário, seria expectável que os pulsares resultantes se mantivessem no centro do remanescente em expansão. No entanto, nas últimas décadas, e com o benefício de mais e melhores observatórios na Terra e no espaço, tornou-se evidente que tal não é sempre o caso. São conhecidos vários exemplos de remanescentes com pulsares “descentrados” , frequentemente movendo-se a grande velocidade.
O CXOU J061705.3+222127 é um destes pulsares enigmáticos. A imagem mostra claramente que se encontra longe do centro da nebulosa. Observações com o telescópio Chandra, em raios-X, mostram que o pulsar é rodeado de uma nebulosa energizada pelo seu poderoso campo magnético, ele próprio alimentado pela rotação frenética da estrela de neutrões. Estas nebulosas são designadas tecnicamente por Pulsar Wind Nebulae. Nebulosas semelhantes foram detectadas em torno de vários pulsares. Na Nebulosa do Caranguejo (Messier 1, o remanescente da supernova de 1054), por exemplo, uma tal nebulosa constitui mesmo a fonte principal de iluminação.
A elevada resolução conseguida com o Chandra permite observar uma estrutura em forma de anel em torno do pulsar e o que parece ser um putativo jacto de partículas relativísticas, perpendicular ao plano do anel. Os astrónomos pensam que o anel poderá ser uma onda de choque, o local onde o vento de partículas emitido pelo pulsar colide com o material circundante. A forma assimétrica da nebulosa em raios-X sugere o movimento para a parte inferior direita da imagem, mas esta trajectória, extrapolada para trás no tempo, levaria o pulsar para longe do centro do remanescente.
O aparente paradoxo pode ser resolvido assumindo que a própria nebulosa não se está a expandir de forma simétrica, e que o seu centro seria originalmente mais para a esquerda (na imagem) do que o é actualmente. De facto, existe forte evidência de que este é o caso. A imagem seguinte mostra a vizinhança do remanescente. Como se pode observar, existe uma maternidade estelar imediatamente adjacente cuja nuvem de hidrogénio molecular (a matéria prima de que fazem as estrelas) está a condicionar a expansão da nebulosa nessa direcção. Por outras palavras, o remanescente expande-se mais livremente (e rapidamente) para a direita da imagem, pelo que a estrela que explodiu e lhe deu origem estaria originalmente mais próxima da parte esquerda e mais luminosa da IC443.
(Fonte: NASA)
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