Carlos F. Oliveira é astrónomo e educador científico.
Licenciatura em Gestão de Empresas.
Licenciatura em Astronomia, Ficção Científica e Comunicação Científica. Doutoramento em Educação Científica com especialização em Astrobiologia, na Universidade do Texas.
Foi Research Affiliate-Fellow em Astrobiology Education na Universidade do Texas em Austin, EUA.
Trabalhou no Maryland Science Center, EUA, e no Astronomy Outreach Project, UK.
Recebeu dois prémios da ESA (Agência Espacial Europeia).
Realizou várias entrevistas na comunicação social Portuguesa, Britânica e Americana, e fez inúmeras palestras e actividades nos três países citados.
Criou e leccionou durante vários anos um inovador curso de Astrobiologia na Universidade do Texas, que visou transmitir conhecimento multidisciplinar de astrobiologia e desenvolver o pensamento crítico dos alunos.
Professor, no filme dizem que o buraco negro não “suga” nada para dentro dele mas, isso é diferente de tudo que já li e ouvi a respeito. Já vi, inclusive, simulações de uma estrela sendo “sugada” para dentro de um buraco nego. O senhor pode explicar isso? Um abraço.
Sim, essa é uma das conceções erradas que se vêem em demasia nos filmes.
O “sugar” é só a força da gravidade.
A gravidade é dada pela massa de um objecto (também se deve considerar a distância a que o objecto “sugado” está… mas vamos esquecer isso).
Ou seja, tudo depende da massa.
Vamos supôr: um objecto com massa 5 tem mais força (“suga”, “puxa” mais) que um objecto com massa 3.
Não interessa que nome chama ao objecto.
Uma cadeira com massa 5 tem mais força gravitacional que um planeta de massa 3.
Um objecto com massa 3 tem a mesma força gravitacional que outro objecto com massa 3.
O nome que se dá aos objectos é irrelevante.
Assim, se retirar o Sol e colocar lá uma cadeira com a mesma massa do Sol, a força gravitacional (e consequentemente o efeito nos planetas) é exactamente o mesmo. Porquê? Porque é a mesma massa do Sol. O nome do objecto é irrelevante.
Da mesma forma, se retirar o Sol e colocar lá um buraco negro com a mesma massa do Sol, a força gravitacional (e consequentemente o efeito nos planetas) é exactamente o mesmo. Porquê? Porque é a mesma massa do Sol. O nome do objecto é irrelevante.
Um buraco negro, ou qualquer outro objecto, com uma determinada massa, tem o mesmo efeito sobre os corpos que o orbitam.
Se a Terra se aproximar perigosamente do Sol, vai acabar “sugada” por ele. Não se diz “sugada”, mas diz-se que vai colidir com o Sol. Como se assume que um buraco negro não tem superfície, então no caso do buraco negro diz-se “sugar”, mas pode dizer colidir que é a mesma coisa.
Até aqui tá percebido?
Agora existe um “pequeno” detalhe.
É que quando se fala em buracos negros a “sugar” objectos, está-se na verdade a falar de buracos negros supermassivos no centro das galáxias.
Ora, o buraco negro na nossa galáxia tem uma massa 4 milhões de vezes superior ao nosso Sol. Isso faz com que as velocidades dos corpos a orbitar perto do buraco negro sejam enormes. Isso faz com que o “poder de atração” do buraco negro também seja muito maior que perto do Sol. Isso faz até que se possam prever alguns efeitos da Teoria da Relatividade. Isso faz com que o “efeito esparguete” seja uma realidade mensurável, como é explicado no vídeo.
Isto não quer dizer que nos outros corpos, como o Sol ou a Terra ou seja o que fôr, estas coisas também não aconteçam.
Mas devido à enorme massa destes buracos negros supermassivos, estes efeitos são muito mais mensuráveis.
Daí ter-se inventado um novo termo, “sugar”. E daí nos filmes eles parecerem ser “diferentes” na forma como se comportam com os objectos ao seu redor.
Mas na verdade, é só uma questão de massa: tendo mais massa, têm mais força gravitacional.
Se forem buracos negros estelares, com a mesma massa das estrelas, então comportam-se da mesma forma que as estrelas em termos gravitacionais.
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3 comentários
Muitíssimo obrigado, sua explicação foi completa, elucidativa e extremamente gentl. Mais uma vez, obrigado.
Professor, no filme dizem que o buraco negro não “suga” nada para dentro dele mas, isso é diferente de tudo que já li e ouvi a respeito. Já vi, inclusive, simulações de uma estrela sendo “sugada” para dentro de um buraco nego. O senhor pode explicar isso? Um abraço.
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Olá Marconni,
Sim, essa é uma das conceções erradas que se vêem em demasia nos filmes.
O “sugar” é só a força da gravidade.
A gravidade é dada pela massa de um objecto (também se deve considerar a distância a que o objecto “sugado” está… mas vamos esquecer isso).
Ou seja, tudo depende da massa.
Vamos supôr: um objecto com massa 5 tem mais força (“suga”, “puxa” mais) que um objecto com massa 3.
Não interessa que nome chama ao objecto.
Uma cadeira com massa 5 tem mais força gravitacional que um planeta de massa 3.
Um objecto com massa 3 tem a mesma força gravitacional que outro objecto com massa 3.
O nome que se dá aos objectos é irrelevante.
Assim, se retirar o Sol e colocar lá uma cadeira com a mesma massa do Sol, a força gravitacional (e consequentemente o efeito nos planetas) é exactamente o mesmo. Porquê? Porque é a mesma massa do Sol. O nome do objecto é irrelevante.
Da mesma forma, se retirar o Sol e colocar lá um buraco negro com a mesma massa do Sol, a força gravitacional (e consequentemente o efeito nos planetas) é exactamente o mesmo. Porquê? Porque é a mesma massa do Sol. O nome do objecto é irrelevante.
Um buraco negro, ou qualquer outro objecto, com uma determinada massa, tem o mesmo efeito sobre os corpos que o orbitam.
Se a Terra se aproximar perigosamente do Sol, vai acabar “sugada” por ele. Não se diz “sugada”, mas diz-se que vai colidir com o Sol. Como se assume que um buraco negro não tem superfície, então no caso do buraco negro diz-se “sugar”, mas pode dizer colidir que é a mesma coisa.
Até aqui tá percebido?
Agora existe um “pequeno” detalhe.
É que quando se fala em buracos negros a “sugar” objectos, está-se na verdade a falar de buracos negros supermassivos no centro das galáxias.
Ora, o buraco negro na nossa galáxia tem uma massa 4 milhões de vezes superior ao nosso Sol. Isso faz com que as velocidades dos corpos a orbitar perto do buraco negro sejam enormes. Isso faz com que o “poder de atração” do buraco negro também seja muito maior que perto do Sol. Isso faz até que se possam prever alguns efeitos da Teoria da Relatividade. Isso faz com que o “efeito esparguete” seja uma realidade mensurável, como é explicado no vídeo.
Isto não quer dizer que nos outros corpos, como o Sol ou a Terra ou seja o que fôr, estas coisas também não aconteçam.
Mas devido à enorme massa destes buracos negros supermassivos, estes efeitos são muito mais mensuráveis.
Daí ter-se inventado um novo termo, “sugar”. E daí nos filmes eles parecerem ser “diferentes” na forma como se comportam com os objectos ao seu redor.
Mas na verdade, é só uma questão de massa: tendo mais massa, têm mais força gravitacional.
Se forem buracos negros estelares, com a mesma massa das estrelas, então comportam-se da mesma forma que as estrelas em termos gravitacionais.
abraços!