Extinções precoces poderão explicar o paradoxo de Fermi

Representação artística da superfície do exoplaneta Gliese 667Cd, uma super-Terra potencialmente habitável.
Crédito: ESO/M. Kornmesser.

Em 1950, o físico italiano Enrico Fermi colocou uma importante questão acerca da existência de civilizações extraterrestres: “Onde estão eles?” Tendo em conta a idade e a imensidão do Universo, e a provável abundância de sistemas planetários com condições necessárias ao aparecimento da vida, porque não detetámos ainda evidências de vida inteligente extraterrestre? Conhecida por Paradoxo de Fermi, esta aparente contradição poderá ter afinal uma resposta bastante simples. De acordo com um trabalho publicado na semana passada na revista Astrobiology, a vida noutros planetas poderá ser demasiado efémera para que possa evoluir para formas multicelulares mais complexas.

“O Universo está provavelmente cheio de planetas habitáveis, pelo que muitos cientistas pensam que deveria estar repleto de extraterrestres”, disse Aditya Chopra, investigador da Universidade Nacional da Austrália e primeiro autor deste trabalho. “As formas de vida primordiais são frágeis, pelo que pensamos que raramente evoluem de forma suficientemente rápida para sobreviverem. A maioria dos ambientes planetários primitivos são instáveis. Para produzirem um planeta habitável, as formas de vida precisam de regular os gases de efeito de estufa, como a água e o dióxido de carbono, para manterem estáveis as temperaturas na superfície.”

Há cerca de 4 mil milhões de anos, Vénus, Marte e a Terra tinham provavelmente reunido quantidades muito semelhantes de água – um dos ingredientes fundamentais para a vida tal como a conhecemos. No entanto, centenas de milhões de anos depois, os três planetas sofreram evoluções radicalmente distintas. Localizado no interior da zona de Goldilocks do Sistema Solar, a Terra tornou-se gradualmente num planeta luxuriante, onde a vida foi prosperando em formas cada vez mais complexas. Vénus, por seu lado, transformou-se rapidamente num mundo infernal sufocado por uma densa atmosfera de dióxido de carbono, enquanto que Marte, pequeno e mais distante, perdeu progressivamente a sua fina atmosfera húmida, o que o tornou no deserto seco e gelado que hoje conhecemos.

“A vida teve provavelmente um papel fundamental na estabilização do clima da Terra”, explicou Charley Lineweaver, professor do Instituto de Ciência Planetária da Universidade Nacional da Austrália e coautor deste trabalho. Marte e Vénus, por sua vez, não conseguiram gerar formas de vida capazes de estabilizar um ambiente em rápida transformação, pelo que, se alguma vez existiram, enfrentaram uma extinção precoce.

“O mistério de não termos encontrado ainda sinais extraterrestres pode ter menos que ver com a probabilidade do aparecimento de vida ou de inteligência, e relacionar-se mais com a raridade com que surgem com rapidez mecanismos de regulação biológica dos ciclos de retroação [ambientais] nas superfícies planetárias”, afirmou Chopra. De acordo com Chopra e Lineweaver, os planetas rochosos com fontes de energia e ingredientes moleculares essenciais para a vida são provavelmente muito vulgares no Universo. Contudo, quando a vida emerge num planeta, só muito raramente evolui com rapidez suficiente para regular os gases de efeito de estufa a níveis que permitam manter temperaturas na superfície compatíveis com a presença de água no estado líquido. A esta possível solução para o paradoxo de Fermi, os dois investigadores deram o nome de “modelo do gargalo de Gaia”.

“Uma previsão intrigante do modelo do gargalo de Gaia”, disse Lineweaver, “é que a vasta maioria dos fósseis no Universo são provavelmente [vestígios] de formas de vida microscópicas extintas, e não de espécies multicelulares como os dinossauros ou humanóides, [organismos] que levam milhares de milhões de anos a evoluir.”

Podem encontrar todos os detalhes deste trabalho aqui.

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