Júpiter “amigo” e “inimigo”

jupiter vac clr

Popularmente está enraízada a ideia de que Júpiter é um “planeta amigo”, um planeta que protege a Terra de asteroides que poderiam vir na nossa direcção. O poderio gravitacional de Júpiter altera a trajectória de asteróides, fazendo com que alguns deles colidam com o grande planeta (ou os atire para longe) e assim não apresentem perigo para a Terra.

Infelizmente, as coisas não são assim tão lineares.
Desde há mais de 10 anos que leio artigos e que assisto em conferências a estudos que colocam em causa esta noção popular. E tenho dado conta disso aqui no blog, até para desmistificar essa concepção popular errada do papel de Júpiter no sistema solar.

E há uma semana atrás, saiu mais um artigo sobre esta temática na revista científica Astrobiology. Júpiter pode ser “amigo” e “protetor” quando faz com que asteroides que venham para o sistema solar interior, sejam desviados da sua rota, e para longe da Terra. Mas Júpiter também pode ser “inimigo” quando altera a rota de asteroides, que inicialmente não tinham a direcção da Terra mas que após serem gravitacionalmente influenciados por Júpiter passam a vir na direcção da nossa casa planetária – até asteroides e cometas que inicialmente se mantinham no sistema solar exterior podem ser influenciados a dirigirem-se para o sistema solar interior.

Júpiter é, assim, uma “faca de dois gumes“: “bom” e “mau” para nós.

Mas esta problemática é ainda mais complexa do que um simples “bom” ou “mau” que queremos incutir em Júpiter, como se o planeta tivesse consciência do seu efeito na Terra.

É que mesmo quando, aparentemente, ele é “mau”, e envia cometas e asteroides na direcção da Terra, quando inicialmente esses objectos iriam passar longe da Terra… mesmo nessas alturas, o efeito até pode ser positivo para a vida terrestre. É que no início do sistema solar, essa “malvadez” do grande planeta pode ter feito com que materiais necessários à vida tenham sido trazidos para a Terra. Assim, o papel de Júpiter pode ter sido benéfico para a formação da vida no nosso planeta.

E mesmo para o desenvolvimento da vida na Terra, o papel de Júpiter é mais complexo do que um simples “bom” ou “mau”.
Aparentemente, sempre que existem extinções em massa devido a asteroides influenciados por Júpiter, tendemos a dizer que Júpiter foi péssimo para a vida na Terra.
Mas a verdade é que, após extinções em massa, existe um incremento da diversidade biológica, e foram essas extinções que permitiram, ao fim de milhares de milhões de anos, o desenvolvimento do Homem.

Por isso, mais uma vez, o papel de Júpiter não é tão claro como à-primeira vista poderíamos defender. Devemos reconhecer a existência de muita complexidade e nuances quando debatemos o papel que Júpiter tem para a vida na Terra.

1 comentário

    • Samuel Junior on 12/02/2016 at 15:41
    • Responder

    Sempre achei romantizada esta versão de Júpiter ser nosso “protetor”. Excelente artigo.

Deixe um comentário

Your email address will not be published.

This site uses Akismet to reduce spam. Learn how your comment data is processed.