Nesta altura do ano, a constelação do Leão e a sua luminária, Regulus, são bem visíveis ao anoitecer. Este ano esta estação do zodíaco conta também com a presença do planeta Júpiter que, pelo seu brilho, cativa de imediato a atenção mesmo do observador mais casual. O que a maioria das pessoas desconhece é que encostada a Regulus, e ofuscada pelo seu brilho intenso, podemos encontrar uma das galáxias mais próximas da Via Láctea.
A Leo I, como é conhecida, foi descoberta apenas nos anos 50 durante a realização do Palomar Observatory Sky Survey, um enorme censo da esfera celeste com base em placas fotográficas obtidas com a famosa câmara de Schmidt de 1,2 metros do Observatório do Monte Palomar, nos Estados Unidos. Situada a apenas 820 mil anos-luz esta galáxia pertence a uma classe designada por “galáxias anãs esferoidais”. À primeira vista, parecem galáxias elípticas, sem regiões de formação estelar e sem nuvens de gás e poeira. São, no entanto, anormalmente pequenas — a Leo I tem apenas 2 mil anos-luz de diâmetro — e a sua luminosidade é tão baixa que são difíceis de observar a grandes distâncias; todos os exemplos conhecidos encontram-se no grupo local de galáxias.
Nos últimos anos, os astrónomos descobriram que este tipo de galáxia tem um lado obscuro, literalmente. É que a maior parte da sua massa é formada por matéria negra, um ingrediente fundamental do Universo, 5 vezes mais abundante do que a matéria normal e cuja natureza é ainda desconhecida. O seu estudo tornou-se portanto essencial para os muitos cientistas que tentam encontrar manifestações visíveis da matéria negra que nos possam dar pistas sobre a sua composição.
Observar a Leo I com um telescópio não é tarefa fácil, mas é possível. O maior obstáculo é o brilho intenso de Regulus mesmo ali ao lado, que facilmente ofusca qualquer objecto difuso e menos luminoso na sua vizinhança. Os relatos de tentativas bem sucedidas sugerem de forma sistemática que o observador deve colocar Regulus e qualquer luz parasita dela proveniente, e.g., os raios de difracção devidos ao suporte do espelho secundário num telescópio newtoniano, fora do campo de visão. É crucial também que o céu seja bem escuro e Regulus esteja próxima do meridiano, altura em que a sua luz (e a da Leo I) atravessa uma espessura mais fina de atmosfera. É um bom desafio para a próxima saída nocturna!
1 comentário
Muito bom.