Se você ainda não se esqueceu, no dia 14 de Setembro de 2015, ondas de alta energia viajaram por mais de um bilhão de anos e de forma subtil deram uma chacoalhada no tecido do espaço-tempo perto da Terra. Essas ondas foram produzidas por um par de buracos negros em fusão, foram capturadas pelo LIGO e foram confirmadas como sendo as primeiras ondas gravitacionais detectadas na história, confirmando uma das previsões da teoria da relatividade de Einstein. Até aí, tudo mais ou menos tranquilo, certo?
Pois bem, menos de meio segundo depois, o instrumento chamado Gamma-Ray Burst Monitor, que viaja a bordo do Telescópio Espacial de Raios Gama FERMI da NASA, registou uma fraca e breve explosão de alta energia proveniente da mesma região no céu. As análises concluíram que existe somente 0.2% de chance disso ser uma coincidência. E se for mesmo confirmado será outro marco na astronomia, astrofísica, pois esperava-se que a fusão de dois buracos negros, fosse algo limpo, sem a produção de qualquer tipo de luz.
Os pesquisadores que trabalham com o FERMI acham a descoberta fantástica, mas alertam para o facto que é necessário observar mais explosões provenientes de buracos negros em fusão para poder confirmar com certeza essa afirmação.
O FERMI é um telescópio muito especial da NASA, ele observa o céu como um todo, usando um telescópio de grande campo de visão e é focado em detectar as fontes de alta energia, entre 8000 e 40 milhões de eV. Só para comparação, a energia da luz visível gira em torno de 2 a 3 eV. Com essas características, o FERMI é usado para detectar a luz proveniente das chamadas GRBs, explosões de raios gama, que duram menos de 2 segundos e ocorrem quando objetos compactos em órbita, como estrelas de nêutrons e buracos negros se fundem. O interessante é que esse tipo de fenômeno também gera as ondas gravitacionais.
Se tudo se confirmar, um evento conjunto de raios gama e ondas gravitacionais pode dizer exatamente o que causa as GRBs de curto período, um dos grandes mistérios da astronomia/astrofísica atualmente. Embora ainda não confirmado, as duas observações possuem uma grande sinergia, com os raios gama podendo revelar detalhes sobre as fontes energéticas e o ambiente local e sobre as ondas gravitacionais, fornecendo uma fonte de pesquisa única sobre a dinâmica do evento.
Ainda não é possível definir exatamente de onde vieram as ondas gravitacionais. Existe uma vasta região no céu de onde elas podem ter se originado. Se a explosão de raios gama detectada for mesmo desse evento, isso ajudará e muito a definir de onde vieram as ondas gravitacionais.
Pelo facto de se esperar que não ocorra produção de nenhum tipo de luz a partir da fusão de dois buracos negros pois todo o gás que seria o responsável por emitir essa radiação, deve ser varrido muito tempo antes da fusão final dos buracos, alguns cientistas acreditam que essa detecção é uma coincidência e nada tem a ver com o evento de ondas gravitacionais. Outros pesquisadores propuseram cenários alternativos para a geração dos raios gama e pensam que tanto as ondas gravitacionais como os raios gama foram gerados no mesmo evento.
O que acontece realmente quando dois buracos negros se fundem? Teremos que esperar novas medidas e detecções para responder a essa pergunta de maneira conclusiva.
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