A chamada Idade de Ouro Islâmica, entre os séculos VIII e XIII, foi de extrema importância para a cultura ocidental. Durante esse período, o vasto império foi governado por uma sucessão de califados que proporcionaram as condições para o desenvolvimento das artes e das ciências. Graças ao trabalho de incontáveis estudiosos da época muitos clássicos da literatura, filosofia e ciência do período greco-romano foram cuidadosamente preservados para a posteridade, salvos do colapso civilizacional que se consumou na queda de Roma. Mas os árabes não se limitaram a copiar os clássicos, eles fizeram contribuições muito importantes em várias áreas do conhecimento.
Um dos mais influentes e prolíferos pensadores dessa época foi Ibn Sina, um polímata notável, nascido por volta do ano 980 no que é actualmente o Uzbequistão, que produziu centenas de obras em assuntos tão variados como filosofia, poesia, matemática, astronomia e medicina. Sina serviu de inspiração a uma personagem do livro de Noah Gordon “The Physician”, recentemente adaptado para o cinema com o mesmo nome em que o sábio árabe é interpretado pelo actor Ben Kingsley.
Acontece que, num artigo disponibilizado recentemente, 3 investigadores alemães re-analisaram uma passagem de um dos livros escritos por Ibn Sina, o Kitab al-Shifa ou “Livro da Cura” que, ao contrário do que possa parecer, versa assuntos como física, meteorologia e astronomia. A passagem em causa descreve um objecto brilhante observado no ano 1006 e havia já sido discutida por outros autores que a associaram com a descrição de um cometa brilhante. Os autores do artigo divergem neste ponto, sugerindo que se trata de um relato em primeira mão da supernova de 1006, a mais espectacular dos últimos 2 mil anos. Na nova tradução, Ibn Sina descreve o brilho extremo do objecto bem como a forma como mudou de cor com o passar do tempo. Segundo ele, a supernova tinha inicialmente cor verde-amarelada; mais tarde, durante o período em que esteve mais brilhante, cintilava imenso; finalmente, tornou-se esbranquiçada antes de desaparecer de vez.
A grande supernova de 1006 foi observada em vários pontos do Mundo, com registos na Europa, Marrocos, Egipto, Yemen, China e Japão. A confirmar-se esta nova análise do texto de Sina, junta-se à colecção referida este registo da Ásia Central. Mais importante, o texto descreve o fenómeno com detalhes omissos nas outras observações conhecidas da supernova, nomeadamente no que diz respeito às variações na sua cor.
Os cientistas sabem hoje que a supernova de 1006 foi de tipo Ia, resultante da explosão termonuclear de uma anã branca, e o seu remanescente foi identificado.
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