Astrónomos da Babilónia usaram geometria para calcular a posição de Júpiter

Crédito: Mathieu Ossendrijver, Science/AAAS

Crédito: Mathieu Ossendrijver, Science/AAAS

De acordo com o professor Mathieu Ossendrijver, da Universidade Humboldt, na Alemanha, os astrônomos da Babilônia usaram a geometria para calcular a posição do planeta Júpiter – uma técnica que os historiadores de ciência pensavam que não tinha sido desenvolvida no mínimo 1400 anos depois dos babilônicos.

O professor Ossendrijver traduziu cinco tábuas babilônicas datadas de 350 a 50 a.C. e encontrou que elas continham um cálculo sofisticado da posição do planeta Júpiter.

Essas tábuas foram descobertas no século 19, perto do templo Esagila na Babilônia, e estão agora em exposição no Departamento do Médio Oriente do Museu Britânico, em Londres.

De acordo com o profesor Ossendrijver, elas mostram dois intervalos de tempo, de quando Júpiter apareceu primeiro no horizonte, calculando a posição do planeta em 60 dias e em 120 dias.

Crédito: Mathieu Ossendrijver, Humboldt University / British Museum.

Crédito: Mathieu Ossendrijver, Humboldt University / British Museum.

Os textos contêm cálculos geométricos com base na área do trapézio, e seus lados, maior e menor. Anteriormente pensava-se que os astrônomos babilônios operavam exclusivamente com conceitos aritméticos.

Os antigos astrônomos também calcularam o tempo que Júpiter levou a cobrir metade dessa distância de 60 dias, partindo o trapézio em dois menores de mesma área.

“A ideia de calcular o deslocamento de um corpo como uma área no tempo-velocidade do espaço, normalmente é datada do século 14 na Europa”, disse o professor Ossendrijver, que é o autor do artigo que foi publicado na revista Science.

“Eu mostro que em 4 tábuas da Babilônia antiga, o deslocamento de Júpiter ao longo da eclíptica é calculado como sendo a área do trapézio obtido do desenho do seu movimento diário contra o tempo”.

“Nenhuma das tábuas possuem desenhos, mas os textos descrevem a figura do que seria a área computada de um trapézio. Dois desses textos de trapézios são conhecidos desde 1955, mas o significado deles permanecia incerto, até mesmo depois que duas outras tábuas com essas operações terem sido descobertas em anos recentes”.

“Enquanto que os antigos gregos usavam figuras geométricas para descrever as configurações no espaço físico, essas tábuas babilônicas usam geometria abstrata para definir o tempo e a velocidade”, comenta o professor Ossenfrijver.

As tábuas redefinem os livros de história, revelando que os acadêmicos europeus de Oxford e de Paris do século 14, aos quais normalmente se credita o desenvolvimento desses cálculos, estavam de facto, séculos atrás dos babilônios antigos.

“Esses cálculos antecipam o uso de técnicas similares pelos acadêmicos europeus, mas eles foram feitos, no mínimo, 14 séculos antes”, disse o professor Ossendrijver.

“Os chamados calculadores de Oxford, um grupo de matemáticos acadêmicos, que trabalharam no Merton College, em Oxford, no século 14, são tidos como os criadores do teorema Mertoniano da velocidade média. Esse teorema postula que a distância viajada por um corpo desacelerado uniformemente, corresponde à moderna fórmula S = t*(u +v)/2, onde u e v são as velocidades iniciais e finais”.

“No mesmo século, Nicole Oresme, um bispo e filósofo escolástico de Paris, determinou um método gráfico que permitia provar essa relação. Ele computou S como a área de um trapézio de largura t e alturas u e v”.

“Os procedimentos do trapézio babilônico podem ser vistos como exemplos concretos do mesmo tipo de cálculo”, diz ele.

“Essa descoberta surpreendente muda nossas ideias sobre como os astrônomos da Babilônia trabalhavam e como eles podem ter influenciado a ciência ocidental”.

Fontes: Sci-news, Science Magazine, Artigo Científico

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