Mapa topográfico de Ceres mostrando a localização de Kerwan, uma cratera com 280 km de diâmetro, e de Vendimia Planitia, uma gigantesca depressão com 800 km de diâmetro e cerca de 4 km de profundidade.
Crédito: SwRI/Simone Marchi.
Ceres é o maior objeto da Cintura de Asteroides, uma região tumultuosa encaixada entre as órbitas de Marte e de Júpiter. Nos últimos 4,55 mil milhões de anos, o planeta anão foi atingido por numerosos asteroides e cometas de grandes dimensões. Estes eventos deveriam ter deixado marcas facilmente reconhecíveis na superfície de Ceres, contudo um estudo publicado esta semana na revista Nature Communications revelou uma surpreendente escassez destas enormes cicatrizes na população de crateras de impacto do planeta anão.
“Concluímos que, ao longo de escalas de tempo geológicas, uma população significativa de crateras de grandes dimensões foi obliterada ao ponto de não poder ser mais reconhecida”, explicou Simone Marchi, investigador do Southwest Research Institute, nos Estados Unidos, e primeiro autor deste trabalho. “[Isto] é provavelmente resultante da evolução interna e composição peculiar de Ceres.”
Modelos computacionais sugerem que o planeta anão deveria ter acumulado desde a sua formação 10 a 15 crateras com mais de 400 km de diâmetro e, pelo menos, 40 crateras com mais de 100 km de diâmetro. As imagens obtidas pela sonda Dawn revelam, no entanto, a presença de apenas 16 crateras com um diâmetro superior a 100 km, sendo que nenhuma ultrapassa os 280 km de diâmetro. Esta escassez é ainda mais significativa se consideramos que grandes porções do hemisfério norte de Ceres estão saturadas com crateras com menos de 60 km de diâmetro.
Uma possível explicação para esta discrepância poderá estar na topografia de Ceres. Usando modelos topográficos construídos com dados obtidos pela sonda Dawn, Marchi e colegas identificaram, pelo menos, três planícies circulares na superfície de Ceres, com diâmetros entre os 500 e os 800 km.
“Estas depressões – ou planitiae – poderão ser antigas bacias de impacto remanescentes de grandes colisões ocorridas logo após a formação de Ceres”, disse Marchi. Esta hipótese sugere que as enormes crateras previstas pelos modelos de colisões poderão ter, de facto, existido na superfície do planeta anão, mas foram lentamente apagadas ao longo de milhões de anos. “É como se Ceres curasse as suas próprias grandes cicatrizes de impacto e criasse novas superfícies, uma e outra vez.”
Os investigadores sugerem que estas antigas estruturas de impacto poderão ter sido apagadas pelo relaxamento topográfico das respetivas orlas, causado pela possível presença de uma camada rica em gelo ou em materiais com baixa viscosidade logo abaixo da superfície de Ceres. Uma hipótese alternativa seria a destruição destas crateras num passado distante por fenómenos criovulcânicos generalizados. Este processo seria, no entanto, ineficiente na eliminação das crateras maiores e mais profundas.
“Independentemente dos mecanismos específicos responsáveis pela eliminação das crateras, os nossos resultados requerem que o processo de destruição das crateras de maiores dimensões se tenha mantido ativo até muito depois do Grande Bombardeamento Tardio, há aproximadamente 4 mil milhões de anos”, disse Marchi. “Esta conclusão revela que o registo de impactos em Ceres se encontra indissociavelmente ligado à sua composição peculiar e evolução interna.”
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