No primeiro post desta série expliquei que pretendo dividir em três grupos as pessoas que olham para o mundo com perspectivas incorrectas.
Os três grupos podem ser generalizados em: religiosos, conspiradores e charlatães das terapias alternativas.
O primeiro grupo é dos religiosos fundamentalistas: aqueles que forçam a validação da sua crença religiosa através de enviesamentos científicos.
São pessoas que não acreditam na ciência e constroem, eles mesmos, as suas evidências sem concordância científica. Este grupo não vê problema em afirmar que o Sol está a 8 minutos-luz mas já não aceitam que uma galáxia esteja a 13 mil milhões de anos-luz; aceitam que a Via Láctea tenha um diâmetro de 150 mil anos-luz mas, para eles, o universo tem apenas entre 6 e 10 mil anos; para eles, deus fez o universo apesar de a natureza evidenciar o contrário.
Para alguns, as lacunas na realidade (o que ainda não foi explicado ou descoberto) é a prova de um deus todo-poderoso. As lacunas vão sendo colmatadas com as novas descobertas, mas eles não as aceitam e tentam cavar novas lacunas. Para outros, mais restritos, não interessa se a luz demora muito tempo a viajar; a luz ganhou super-poderes e chegou até nós em 10 mil anos. Ou seja, as evidências que taparam as lacunas adquiriram super-poderes para responder à necessidade de um deus cada vez mais pequeno (este deus é tanto mais pequeno quanto menos lacunas houver).
Normalmente desfaço qualquer dúvida deste grupo com uma questão muito simples: “como é que deus fez o universo?”
Agora terão de responder detalhadamente, mas o maior detalhe com que conseguem responder é este: “fez o universo pela palavra”, o que não diz nada. Não me diz como é que a palavra se transformou em matéria, que processos físicos ocorreram, de onde veio essa palavra, em que radiação foi difundida, etc.
Quem não percebe nada da matéria (cosmologia), não devia pronunciar-se sobre ela…
O método científico tem aqui uma bela oportunidade para ensinar as pessoas deste grupo: se não sei e quero saber, devo aprender. E se a realidade evidenciada não dá jeito ao meu gosto, paciência, que ganhe a verdade!
Além de acharem que deus criou o universo em 6 dias há alguns milhares de anos, também acham que o mundo vai acabar com a vinda do Nibiru ou algum cometa. O fim do mundo é característico deste grupo devido ao relato bíblico do Apocalipse. No entanto, podemos reparar que, neste mesmo ponto, se mescla com o grupo dos conspiradores, embora no grupo dos religiosos esta ideia sirva para ganhar dinheiro com o medo dos mais fracos.
Para uns o Nibiru está a caminho, com ETs a bordo e a NASA está a esconder esta notícia. Para outros o Nibiru está a caminho e é o fim do mundo porque a bíblia o diz.
14 comentários
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Deus é uma crença tão simples de se ter, ninguém precisa abdicar basicamente de nada da realidade, do conhecimento científico, nem tampouco do ceticismo que norteia a ciência.
Mas as pessoas em sua maioria são muito ruins em crer em seu deus – elas não conseguem se contentar em simplesmente: “creio em Deus, e me sinto bem com isso”.
É pouco para elas – aí querem livros sagrados com revelações mágicas que dizem como o deus da religião delas criou as coisas, quando, e o como qualquer explicação serve, até o barro.
Não contentes com isso, ainda ficam indignadas com a existência de pessoas que não se convencem com as revelações escritas. Como pode? está escrito no livro sagrado que aquilo que está ali escrito é a revelação.
Então vem uma tal de Ciência e piora tudo, evidenciando os erros gritantes do livro sagrado, das “revelações” que querem que seja a verdade de deus.
Deus? Deus já não importa mais – não tanto quanto o livro sagrado – pra essas pessoas, agora a idealização de deus é mais importante que deus. Eles pegam a ideia simples e compreensível de um deus e adaptam aos dogmas, e depois querem fazer o mesmo com a Ciência; e se a ciência contraria os dogmas, os seis mil anos do devaneio criacionista de terra jovem por exemplo, está errada. E claro, se uma visão de Deus aceita os fatos científicos que contrariam os dogmas, esta visão também está errada, é profana, é pecaminosa.
Até pra Deus e Jesus, é melhor não contrariar os dogmas… cuidado… vocês não serão mais vocês se fizerem isso.
Basicamente isso; já dizia um bispo: “quanto mais distante das igrejas, mais próximo de Deus”. Provavelmente ele percebeu isso; a coisa que mais destrói o Teísmo puro e simples ante a realidade do mundo não é o Ateísmo, a Ciência ou o Ceticismo, mas o fundamentalismo religioso, o delírio, a paixão cega, os dogmas inquestionáveis, sagrados, escritos.
Abraços
Eu creio em Deus, não sou nenhum fundamentalista graças à Deus.
Reconheço que tanto a verdadeira ciência quanto a verdadeira religião tem seus papeis importantíssimos a desempenhar.
Tenho minha devoção e leio a Bíblia, me sinto feliz. Quando tenho minhas dúvidas de ciências venho a internet, principalmente ao astropt, onde pesquiso, e se houver dúvida pergunto e os professores respondem principalmente o professor Carlos.
E respeito todas as opiniões contrarias.
O assunto é mobilizador. Apenas há uma coisa que tolda a discussão: a primeira é haver algumas bases que não são comuns aos intervenientes na discussão, não tanto na Física, mas sobretudo na essência do fenómeno religioso. As visões religiosas obscurantistas e incultas, não devem ser, sequer, abordadas quando entramos no campo das “últimas causas” – e perdoem-me a estultícia de me envolver nesta senda para qual sei ser absolutamente necessário dispor de “ferramentas” que não tenho e já não vou a tempo de adquirir. Porém, disponho de uma arma poderosíssima e que uso quando me sinto insatisfeito nas proposições de que duvido:- é a de colocar o “por que?” ou “porquê?” e ouvir os “porque”.
Considero importante o sentido pedagógico das explicações que dão a quem, sabemos, está “formatado” por evidentes erros. de educação e formação. Mas sugiro-lhes que, quando o fizerem, não ataquem as suas convicções, antes expliquem os fenómenos da física e os factos a eles inerentes. Saibam que se forem apreendidos esses argumentos, por si, fazem destruir os mitos e desmoronar os erros.
Quanto entramos nos debates, a mais prudente e sábia intervenção, é pensar que há verdades para além daquelas em que acreditamos. Só assim ganharemos e, mesmo que temporariamente inconclusivos, continuemos na senda da procura de eventuais pontos de encontro que só o pensamento induz.
E nestes debates, quando os tivermos, façamos como os romanos quando debatiam o essencial: “Aquila non capit muscas”.
Continuo a segui-los e aprender muito com o que fazem o favor de nos transmitirem.
Um abraço amigo
António
Para mim, analisando o universo que a ciência nos mostra, concluo que Deus é o universo e a natureza e o rumo dos acontecimentos são o reflexo e sua própria consciência.
É livre de acreditar no que quiser 😉
Mas note que essa frase não diz nada, porque poderia se trocar a palavra Deus por Pai Natal / Papai Noel , Unicórnio Voador Invisível , Zeus , Pokémon , ou outra qualquer palavra de ser imaginado, que a frase não perderia o sentido que lhe deu 😉
Exemplo: “Para mim, analisando o universo que a ciência nos mostra, concluo que Goku é o universo e a natureza e o rumo dos acontecimentos são o reflexo e sua própria consciência.”
😉
abraço!
Author
António,
Uma vez que o pensamento crítico não é ensinado, infelizmente, na primária, temos essas vertentes que misturam religião, crenças, com a ciência, realidade. Não censuro quem tende a acreditar em algo para ser melhor pessoa ou para ter força para ultrapassar algum obstáculo. Contudo, quando se crê e se tenta provar essa crença com ciência ou fazer guerras em nome da mesma, já acho mal. Que a crença seja uma coisa pessoal para benefício próprio e de outros, mas sem misturas infundadas. Em suma, cada um no seu sitio sem prejudicar os outros e sem misturas.
Felizmente o pensamento crítico é ensinado em universidades mas os alunos, demasiadas vezes não o praticam. Passo a relatar a breve conversa que tive com uma colega que estava a terminar o curso de engenharia ambiental:
Eu: “então e aquela teoria de que o Homem nunca foi à Lua, pfff, que idiotas…”
Ela: “é verdade! O Homem nunca foi à Lua!”
Eu: (óptimo! Vou adquirir novos argumentos e poder discutir com alguém que tem algum conhecimento científico). Então porquê que não acreditas que o Homem nunca foi à Lua?”
Ela: “Porque o meu namorado me disse! E se ele me disse eu acredito”
Eu: “E ele estudou física…”
Ela: “Não! Ele não percebe nada disso, trabalha nas obras”
Quanto ao criacionismo posso destacar dois casos recentes:
Uma revista disse que (relativamente aos cristãos): “Os professores obrigam-te a estudar algo que sabes que não está certo?” isto significa que o criacionismo está certo…
Outro caso, um pastor disse que deus fez o universo. Eu perguntei como e ele disse “pela palavra!”. Questionei se tinha sido em 6 dias e há cerca de 10 mil anos. Ele respondeu que, eu do fundo sabia que sim mas não queria admitir. E que fez tudo pela palavra usando a ciência…
Parece uma anedota não é? Mas passa-se muitas vezes isto. Por isso não considero demais estas visitas ao pensamento crítico que fazemos no site, não só neste mas noutros idênticos.
António, está certo no comentário quando falas da charlatanice e foi esse o ponto a que quis chegar. Mais do que focar um grupo que mistura ciência com religião, foquei os mais extremistas.
O analfebetismo, a iletracia e a falta das mais elementares bases de cultura,não serve para generalizações, ou para apodar as religiões de obscurantismo. Os radicalismos acéfalos, como o criacionismo, e muitas outras coisas que pululam por esse mundo fora, estão no mesmo pé dos aprendizes de feiticeiro e mergulham nos mesmos mares da astrologia ou nos pseudo físicos que defendem como possível haver mundos tipo “Lord Vader” ou do ET, etc, etc. Até têm programas de grande audiência em canais de Tv, os quais deveriam pautar-se pela seriedade. Mas, caros amigos, se por uma sopa de lentilhas se joga a liberdade, no campo comercial mandam as marcas que querem vender, seja qual o custo a pagar.
Assim vai o mundo…
Caros Dário e Carlos
O obscurantismo, infelizmente, é uma muito grande mancha que tolda a generalidade das pessoas, sejam elas crentes ou não. Na medida do possível, deve ser combatida para a higienização da mente. Creio, no entanto, que não deve ser neste âmbito, já que tal trabalho não vai passar mais do que “chover no molhado”. A verdadeira luta, começa na instrução primária ou na formação inicial, promovendo o “cuidado sentido da curiosidade”, o saber colocar o “por que é assim?” ou o simples “porquê?”, no âmbito de uma reflexão, seja qual a dimensão que ela tiver, e o “porque” ser sempre sugerido sem limitação de caminhos”. Compreendo perfeitamente a denúncia das patranhas que infrenes andam por aí. Mas isso não pode servir para generalizações assente em quaisquer princípios de reserva mental sobre aquilo que se não pode sujeitar ao tempo, mas para além dele, isto é, o “Presente”- que sabemos que existe, mas é inalcançável aos nossos sentidos. O simples olhar altera a realidade que gostávamos de ver. Os grandes enigmas da Física e da Metafísica, talvez se encontrem a montante dos 10^(-24) segundos do primeiro segundo da existência. Para já apenas especulamos, sem certezas de espécie alguma, ou com certezas que já temos connosco, mas que não podemos negar ou afirmar, porque são do domínio do intangível.
Concluo, citando Stephen Hawking: “Se há resultados matemáticos que não podem se comprovados, então há problemas físicos que não podem der previstos. Nós não somos anjos que vêem o universo de fora. Nós e os nossos modelos somos, pelo contrário, parte do universo que descrevemos. Assim, uma teoria física relaciona-se consigo mesma, como no teorema de Gödel. Devemos por isso esperar que ela seja, de uma maneira ou outra, contraditória e incompleta”(Stephen Hawking, “Gödel and the end of Physics” – in Hans Küng “O Princípio de todas as Coisas”)
Grato pela atenção
Concordo em parte com a primeira parte: também opino que tudo passa pela educação/instrução.
No entanto, discordo que não se deve “apontar o dedo” aos que estão errados.
“Para já apenas especulamos, sem certezas de espécie alguma” – se está a falar em geral, discordo veementemente. Já temos muitas certezas. São essas certezas que nos permitem ter internet, por exemplo. Se está a falar do caso particular de saber a origem do Universo, então aí concordo, já que tudo o que dissermos neste momento é pura especulação baseada numa possível crença.
Mas isso não quer dizer que não possamos dizer a alguém que esse alguém não tem evidências de… (a crença dele).
abraços
Não aponto o dedo aos que estão errados .Nem isso me passa pela cabeça e do que escrevi não pode inferir. Aponto o dedo ao sistema que proporciona e quer isso.
É sobre a natureza da “Origem” que eu, de facto, gosto muito de me debruçar, embora tenha consciência das minhas grandes limitações que, felizmente para mim, não chocam com as minhas conviçções…
Se nós permanentemente tocamos no presente que jamais podemos percepcionar, porque quando pensamos poder senti-lo, já é passado e se, desde o nascer, aquilo que fazemos, é egrimir com o futuro, que não existe, ou que só tem existência, quando for passado, resta-nos pensar no Presente, no “Eu sou” que, mexe connosco, mas que somos de todo, incapazes de definir ou expressar por palavras Aquilo que é infinito, enquanto permanecermos na dimensão onde existimos.
Com certeza que há muitas certezas… até na incerteza, como sabe. A dimensão, aquela que está para além das fronteiras que a Física estabeleceu, essa sim é de facto a síntese final pela qual almejamos. No nosso Mundo, abordamo-la na Metafísica que a Física por ser experimental, repudia. Mas quem sabe o futuro? Apenas com humildade nos devemos comportar, porque quanto mais sabemos, mais consciência temos de nada sabermos perante este grande Mistério da nossa Existência.
Cumprimentos.
Pois, discordamos no início e no final 😉
Eu aponto os erros, porque devem ser corrigidos.
E defendo que quanto mais sabemos, mais consciência devemos ter de que sabemos mais. Saber mais sobre algo não leva a que pensemos que não sabemos nada ou que saibamos menos…
abraços
Author
Caro António,
O texto não é uma tese mas sim o explanar de um apanhado de opiniões que fui captando nos últimos anos. Obviamente que cada grupo não refere todas as opções de todas as crenças. Na realidade o que existe é um degradé de opiniões dentro de cada grupo, umas mais próximas do extremismo religioso, outras mais próximas do agnosticismo, do ateísmo, etc.
O meu relato baseia-se nos comentários que tenho lido e ouvido.mas não comporta todo o universo de religiosos, pois há uma infinitude de pensamentos. Apenas escolhi estes. Nos próximos posts vou escolher os charlatães e conspiradores mas não vou comportar todos.
Há muitos religiosos que crêem que o relato do Génesis é literal, e não são poucos. O Criacionismo é um movimento grande e variado.
Obrigado por nos leres, pelo teu comentário. Estamos aqui para ouvir, ler e esclarecer
Texto insuficiente, escudado num deficiente conhecimento das religiões, aqui reduzidas a uma expressão sem qualquer valimento, e na ausência do conhecimento do fenómeno religioso, absolutamente imprescindíveis para um sério debate sobre estes temas, que admito são sempre extremamente enriquecedores para as partes, mas natural mente inconclusivos.
“Numa teoria consistente há proposições verdadeiras que não podem ser demonstradas nem negadas”: o primeiro Teorema da incompletude de Gödel, afirma-nos isto. A “Theory of Everything (TOE) que pretende abranger as quatro forças não foi alcançada, por ser uma impossibilidade “à luz” das incompletudes de Gödel.
O Genesis não pretende ser, nem é, nenhuma explicação científica da criação do Universo. Apenas pretende afirmar que tudo o que existe é criação de Deus. Os treze mil e setecentos milhões de anos da “nossa” existência, são relatados poeticamente por seis dias bíblicos que só mentes primitivas e ignorantes os podem interpretar literalmente. Estes textos são, por vezes, similares a outros textos de outras religiões não abraâmicas.
Para uma discussão culta deste profundíssimo tema, seja em qual campo onde nos situarmos, obriga à humildade e ao respeito e, sobretudo, não confundir a “criação da Física” com a “Criação Teológica”. Estão ambas em campos distintos. Onde eles se tocam…para já(?) não podemos dizer que há um sim, como não podemos dizer o seu contrário… Incompletudes…
A “Theory of Everything” não é uma teoria… logo, não é abrangida pela frase de Gödel. 😉
“O Genesis não pretende ser, nem é, nenhuma explicação científica da criação do Universo.” – e, no entanto, há milhões de religiosos que discordam de si. 😉
“só mentes primitivas e ignorantes os podem interpretar literalmente.” – novamente, está-se a referir a milhões de religiosos 😉
Já agora, leu o texto do Dario com atenção? 😉
É que ele diz textualmente: “O primeiro grupo é dos religiosos fundamentalistas (…)”
Tem mesmo certeza que os religiosos fundamentalistas veem a Bíblia como algo “poético” e que não interpretam as coisas literalmente?
É que me parece que no seu comentário confundiu o conhecimento das religiões com o que os religiosos fundamentalistas pensam.
abraços