Pareidolia Homeopática cria belos Placebos

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Num dos posts anteriores relatei a abordagem que fiz a diversos homeopatas no sentido de saber o porquê das diluições e de bater 3 vezes numa madeira. Nenhum me soube explicar. Alguns disseram que podia fazer desde que acreditasse, outros disseram que estava a questionar e isso era insultar. Enfim, penso que falta uma peça a muitas pessoas que praticam a homeopatia: saber o que é de facto a homeopatia, de onde vem, quais os pressupostos e quais as evidências.

Comecemos pelo início. Samuel Hahnemann, um médico alemão que viveu entre 1755 e 1843, estava revoltado com a medicina medieval que era praticada na altura. As sangrias e as purgas horrorizavam-no e as drogas tinham um grande potencial letal, como o mercúrio. Então, em 1790, fica atraído por um alcaloide, chamado quinino, que se mostrou eficaz contra a malária. Como médico, experimentou esta droga em diversos pacientes e concluiu que provocava sintomas semelhantes aos da doença. Daqui nasce um dos conceitos da homeopatia: “simila similibus” (com a ajuda do semelhante). Em 1810 nasce a homeopatia com a publicação do “Organon der Rarionellen Heikunde”. Para a época, o caminho seguido por Hahnemann podia não curar o doente, mas também não o matava e, desta forma, já era melhor do que a medicina da época. Só que a medicina, que tem base científica, muda com o tempo e transformou-se em algo muito diferente do que era. Ao contrário da homeopatia que manteve o mesmo pensamento e a mesma atitude e, em vez de mudar consoante as evidências, tenta criar evidências para a sua prática. Retirado deste artigo

A homeopatia assenta na similaritude da doença (simila similibus) e na diluição do princípio activo. Hahnemann especificou a diluição-padrão em livro publicado em 1811: 1 parte em 100, repetida 30 vezes, que corresponde a uma gota de substância diluída numa esfera de água com o diâmetro igual à distância que vai da Terra ao Sol.” A resposta dos homeopatas quando os progressos da química tornaram evidente este absurdo foi que a água guardava a “memória” da substância. (Daqui) Para defender esta ideia, a 30 de Junho de 1988, na revista Nature, saiu um artigo de Jacques Benveniste. Oito anos antes, Benveniste conheceu um jovem médico chamado Bernard Poitevin, enquanto investigava no Instituto Nacional de Saúde e Investigação Médica de França. Com a cooperação da investigadora Elisabeth Davenas, Poitevin começou a obter resultados experimentais que pareciam validar a memória da água. Foi neste momento que artigo foi publicado na revista Nature onde o editorial aconselhava prudência na aceitação dos resultados obtidos. (podem ler sobre a experiência no livro “Pipocas com Telemóvel”). Uma vez que havia dúvidas quanto aos resultados obtidos, os investigadores foram chamados a repetir a experiência, desta vez às cegas, para eliminar supostos vícios e truques/erros da equipa. Os resultados não se confirmaram, ou seja, o método experimental não era suficientemente robusto. Apenas um mês depois do primeiro artigo a Nature publica outro como o título “As experiências com diluições elevadas são uma desilusão”Contudo, a herança foi passada para os seguidores que tentam, até hoje, provar a memória da água para dar algum suporte à grande diluição da substância activa. (do livro “Pipocas com Telemóvel”, de David Marçal e Carlos Fiolhais)

Nos anos 90, o Masaru Emoto (fotógrafo) teorizou que a água tinha emoções. Colocou água em tubos de ensaio e escreveu palavras bonitas em frente a alguns desses tubos e nos outros tubos escreveu palavras feias. Os tubos com a água foram congelados. Mais tarde, no microscópio verificou que as águas dos tubos onde havia escrito palavras bonitas tinham formado cristais bonitos e as outras tinham formado cristais feios (sendo que a noção de beleza difere de pessoa para pessoa e de cultura para cultura). Desta forma, Emoto confirmou que a água se emociona, que percebe Japonês e que é muito sensível. Quando tentada a reprodução da experiência os resultados não foram os mesmos: não houve reprodutibilidade. O mago fez o mesmo com potes de arroz. Potes onde o arroz era tratado com palavras de amor ficava conservado e os potes onde o arroz foi tratado com palavras e sentimentos de ódio ou desprezo ficava estragado. Numa experiência é necessário estabelecer grandezas e que as condições possam ser replicadas.

Actualmente, H. Kröplin, no Instituto Aerospacial de Estugarda, descobre (ou pensa ter descoberto) um meio de fazer a estrutura de uma gota de água ser visível, ou seja, cristalizar a água… Após cristalizar a água verificou que todas as gotas apresentavam cristais diferentes e surgiu a pertinente questão: “porque são tão diferentes umas das outras?”. Kröplin fez, então, uma experiência: incentivou diversas pessoas a colocar uma gota de água numa lâmina. Cada pessoa produziu gotas diferentes… Ou será que independentemente da pessoa as gotas já seriam diferentes? Lembro que a questão inicial de Kröplin era “porque as gotas são sempre diferentes?” Agora acha curioso elas serem diferentes. Numa segunda experiência colocou uma flor dentro de água e a retirou. O resultado é uma espantosa pareidolia: uma gota retirada dessa água, que tinha estado em contacto com a flor mostra o que parece ser um rabisco de pétalas. (vídeo) Se a água guarda toda a informação, então porque a informação de esgotos, cacas de pombo, bacalhau, etc, não fica registado? Se esta água com memória selectiva consegue incorporar as virtudes da informação que capta, porque não é eliminada a fome como comida homeopática (leia-se bidons de água que estiveram em contacto com comida)? Não, não é uma piada de mau gosto, é uma ideia vinda directamente dos conceitos base da homeopatia. Se resulta para medicamentos terá de resultar para outros produtos, ou a água é selectiva naquilo que guarda? A água não tem sentimentos, nem necessidades, nem gostos. A água é apenas H2O. Não há evidências de que guarda informação mas muita gente continua a acreditar que sim sem evidências disso, sem evidências dos tratamentos (são apenas resultados de placebo).

Em 2015, foi feito um grande estudo pelo National Health and Medical Research Council, sobre a eficácia da homeopatia. O estudo considerou 176 ensaios clínicos e 57 revisões sistemáticas. A conclusão foi de que a homeopatia não evidenciou qualquer eficácia.

Uma pesquisa na Cochrane Colaboration, uma colaboração internacional que faz revisões da literatura médica, revela que nenhum remédio homeopático passa de placebo. (Podem ler aqui)

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