Uma equipa internacional de investigadores anunciou a deteção de um forte sinal de rádio proveniente da direção da estrela HD164595. Esta estrela tem cerca de mil milhões de anos mais do que o Sol, metalicidade, tamanho e luminosidade semelhantes e localiza-se à distância de 95 anos-luz na direção da constelação de Hércules. O sistema solar é formado por um exoplaneta com 0,05 massa de Júpiter e um período de 40 dias, ou seja: um Neptuno quente (sem condições para a vida tal como a conhecemos), podendo também existir planetas rochosos ainda não descobertos devido à maior dificuldade de deteção pela instrumentação atual.
A deteção do sinal foi efetuada pelo radiotelescópio RATAN-600, localizado na Rússia, construído com desenho invulgar de um anel no chão com diâmetro de 577 metros, que faz com que o seu raio sensitivo seja bastante elíptico. Ora, este facto faz-nos pensar se efetivamente o sinal teve origem na direção anunciada. Acresce outro pormenor: um sinal proveniente de um planeta em rotação é registado com variação da frequência devido ao efeito Doppler. A rotação da Terra é fácil de anular, ficando apenas a variação de sinal resultante da rotação do planeta onde o sinal foi emitido. Porém, dado que o sinal teve uma duração de apenas 2” (e é de banda larga), não é possível concluir acerca da rotação do planeta, podendo até ter sido emitido por uma nave espacial a uma distância muito mais próxima de nós.
O sinal foi recebido a 14 de maio de 2015, à frequência de 11 GHz (2,7 cm de comprimento de onda) e com intensidade de 0,75 Jy (Jansky). Esta equipa demorou mais de 1 ano a divulgar a sua descoberta, o que contraria o Protocolo SETI: que determina que seja solicitada confirmação do sinal por parte de outro observatório.
A observação foi efetuada com uma largura de banda de 1 GHz (que provoca diluição da intensidade do sinal recebido); para efeitos de comparação, o SETI utiliza largura de banda na ordem das dezenas de Hz.
Se o sinal fosse emitido em todas as direções do espaço, a quantidade de energia necessária (10^20 wats) seria absolutamente inalcançável para uma civilização como a nossa, daí falar-se em civilização Kardashev do tipo II. Porém, se fosse emitido apenas na nossa direção, a quantidade de energia necessária seria enorme mas poderia ser proveniente de uma civilização Kardashev do tipo I.
E é precisamente aqui que deve ser feita a análise do sinal. Vamos a contas?
Assumindo que não haverá perdas de sinal relacionadas com pó e poeira existentes no meio interestelar, a perda de percurso entre 2 antenas isotrópicas é:
Estes 412 dB correspondem à potência mínima necessária para fazer uma transmissão à distância de 95 anos-luz, na frequência de 11 GHz.
Para recebermos um sinal, podemos ter um recetor sensível até 120 dB e uma grande antena, como por exemplo a do Green Bank Telescope, com um ganho de 78 dB (considerando uma eficiência de 50%), ou seja: subtraímos 198 dB aos 412 dB.
Restam-nos agora 214, dB para acomodar nas contas do emissor. Uma emissão de 1 milhão de watts corresponde a 90 dB, pelo que os restantes 124 dB seriam o ganho da antena emissora.
E eis que o problema assume proporções “de outro mundo”: a antena emissora com ganho de 124 dB teria de possuir um diâmetro de 19.477 metros:
Mas o problema continua… a resolução deste radiotelescópio (HPBW) seria de:
Em termos teóricos, este valor fantástico, poderia ser obtido recorrendo a interferometria com a antena em órbita do planeta; porém, devido à rotação do planeta, o comprimento dos raios iria variar com o tempo. E como seria possível direcionar este raio para a Terra prevendo exatamente a nossa posição dentro de 95 anos?
A deteção de um sinal só é aceite como proveniente de uma civilização extraterrestre se cumprir 2 critérios:
- Não ser de origem natural, isto é: nenhum processo natural pode estar na sua criação e
- Poder ser verificável, de modo a ser registado várias vezes em locais diferentes e ambos concordarem quanto ao seu local de origem.
Ora, tanto quanto se sabe, o sinal apenas foi detetado uma vez. E como o 2º requisito não se verificou ainda, o sinal é classificado de interessante. Aliás, os seus descobridores afirmam que não deve ser proveniente de nenhuma civilização extraterrestre. Assim sendo, a sua origem poderá estar relacionada com satélites militares, interferências de rádio ou microlentes gravitacionais.
Concluindo, não se pode afirmar que estamos perante um sinal emitido por uma civilização extraterrestre. O facto do comprimento de onda do sinal ser 2,7 cm, fazendo recordar o número de Neper (ou Euler), a base dos logaritmos naturais, é, quanto a mim, mera coincidência. Contudo, sem confirmação, apenas podemos afirmar que o sinal é interessante e irá, seguramente, ser alvo de elevada monitorização.
- Saber mais: Plataforma “Extraterrestres Inteligentes (Eti)”
4 comentários
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Saudações aos pesquisadores que postam neste espaço. Sigo sempre captando informações de alguns estudiosos. O registro astronômico de 30 de dezembro de 1983,(Principais jornais dos EUA e Brasil) foi informação falsa ou é algo realmente registrado por institutos de astronomia da época ? Se verdade,penso que o evento poderia estar afetando muito a Terra. Agradecido. Sigamos no Bem. Elver Teixeira.
É a terceira vez que pergunta, e é a terceira vez que lhe respondo: foi vigarice!
http://www.astropt.org/2012/06/30/o-misterio-da-lua-em-forma-de-u/comment-page-2/#comment-1417871
http://www.astropt.org/2012/12/18/2012-nao-havera-planeta-x/comment-page-1/#comment-1417943
Por favor, pare de fazer spam neste local com a mesma pergunta de sempre. Obrigado.
O novo radiotelescopio da China será capaz de fazer uma observação melhor .
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A área do radiotelescópio FAST (Five Hundred Metre Aperture Spherical Telescope) é igual a 30 campos de futebol, o diâmetro atinge 500 metros. Será o maior radiotelescópio do mundo e quando estiver totalmente funcional, deverá ser capaz de detetar sinais de rádio mais de 1.000 anos luz de distância. Esperemos que traga boas notícias mas acima de tudo que seja logo após a sua descoberta (e não 1 ano depois).