Nesta época em que as noites se alongam e as constelações familiares de Outono aparecem no fim do crepúsculo, um observador mais atento tem a oportunidade de contemplar o Enxame Duplo de Perseu usando apenas a vista desarmada. Trata-se de um objecto ímpar, visualmente espetacular, mesmo em instrumentos modestos, e de grande importância astrofísica.
O Enxame Duplo é tão óbvio a olho nu que era já conhecido na antiguidade. A primeira referência conhecida remonta ao catálogo de estrelas compilado pelo astrónomo grego Hiparco (século II a.C.). Um outro grego, Cláudio Ptolemeu (século I d.C.) incluiu também este objecto no seu tratado seminal, o “Almagesto”, juntamente com o enxame do Presépio (M44) e o enxame globular Omega Centauri (NGC5139). No século X, o astrónomo persa ‘Abd al-Rahman al-Sufi representou-o no seu “Livro das Estrelas Fixas”. No século XVII, o cartógrafo Johannes Bayer atribuiu-lhes os nomes h e χ Persei que perduram até hoje. Curiosamente Charles Messier não incluiu o Enxame Duplo na sua famosa lista de objectos e foi já no século XIX que William Herschel catalogou o objecto como dois enxames, mais tarde incluídos no “New General Catalogue” com os números 869 (h) e 884 (χ).
Para localizar o Enxame Duplo, o leitor deve começar por identificar os asterismos de Cassiopeia e Perseu. Nesta altura do ano, estas constelações aparecem no início da noite, junto ao horizonte Nordeste. O “W” de Cassiopeia, em particular, é inconfundível. Feito isto, o Enxame Duplo é facilmente encontrado seguindo uma linha imaginária que une as estrelas gama e delta de Cassiopeia e termina na estrela eta de Perseu (figura seguinte). Visualmente, tem o aspecto de uma pequena nebulosidade, claramente alongada ou mesmo dupla, dependendo da sua acuidade visual.
Vários estudos recentes coincidem nas conclusões sugerindo uma distância de 7600 anos-luz para ambos enxames, posicionando-os no braço espiral de Perseu, um braço da Via Láctea mais exterior do que aquele em que se encontra o Sol. A luz das suas estrelas é atenuada por poeira interestelar situada na nossa linha de visão em cerca de 1.6 magnitudes. Sem esta interferência seriam ainda mais evidentes no céu nocturno.
A análise da população estelar dos enxames revela que as estrelas mais luminosas são super-gigantes azuis muito luminosas, semelhantes a Rigel em Orionte. Algumas das estrelas mais maciças evoluíram já para a fase de super-gigante vermelha e são facilmente identificáveis pela sua cor mesmo em pequenos telescópios. O estudo destas luminárias bem como das estrelas mais quentes ainda na sequência principal permitiu derivar uma idade de cerca de 14 milhões de anos. A população total de estrelas dos dois enxames é estimada em cerca de 5 mil estrelas, formando o centro de um grande complexo de formação estelar recente que contém entre 13 e 20 mil estrelas!
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