[ET #5] – O sinal Wow! terá sido emitido por uma civilização ET?

O sinal "Wow!". Crédito: Big Ear Radio Observatory e North American AstroPhysical Observatory.

O sinal “Wow!”. Crédito: Big Ear Radio Observatory e North American AstroPhysical Observatory.

Em 15 de agosto de 1977, às 23h16 (hora local), enquanto Jerry Ehman, professor assistente de Engenharia Elétrica e de Astronomia e trabalhador em regime de voluntariado para o programa SETI em Ohio, observava e analisava as entediantes listagens de computador referentes aos registos do radiotelescópio Big Ear, verificou a existência de um sinal fortíssimo de banda estreita. Perplexo, escreveu a notação a vermelho: “Wow!”. Imediatamente reconheceu o padrão de dados, próprio de um sinal captado a atravessar a zona de alcance da antena, em consequência do movimento de rotação da Terra. Esse particular e fascinante sinal faria daquele um dia histórico.

O sinal “Wow!” consiste numa fonte de emissão de rádio caracterizada pelas letras “6EQUJ5”, onde “6” significa que o sinal possui força entre 6 a 7 vezes maior que o ruído de fundo. As letras foram atribuídas para sinais cuja intensidade seria superior a 10. Por exemplo: “E” corresponde a uma intensidade 14 a 15 vezes maior que o ruído de fundo (“E” é a 5ª letra do alfabeto, logo 9 + 5 = 14). Deste modo, a sequência “6EQUJ5” traduz-se nas intensidades: 6, 14, 26, 30, 19 e 5, podendo ser representada graficamente como:

Representação gráfica do sinal do sinal "Wow!"

Representação gráfica do sinal do sinal “Wow!”

Observando a representação gráfica do sinal, verifica-se que o sinal corresponde ao padrão da antena quando deteta um objeto de reduzido diâmetro angular.

Antes de discutirmos as possíveis origens do sinal, convém rever as suas principais características:

  • Sinal de banda estreita: menos de 10,000 Hz (num canal apenas).
  • Duração do sinal: 72 segundos.
  • Deteção efetuada em apenas 1 dos 2 detetores, sem possibilidade de determinarmos qual deles a fez (daí haver 2 valores para a ascensão reta e para as coordenadas galáticas).
  • Deteção única, não tendo sido novamente observada nas tentativas subsequentes.
  • A força do sinal permaneceu constante em intervalos de observação de 10 segundos.
  • A fonte emissora não se moveu em relação às estrelas (conclusão imediata pelo facto do sinal coincidir com o do padrão da antena).

A conclusão típica desta deteção consiste em atribuir a origem do sinal a interferências de rádio. Porém, o raciocínio contraria as características descritas.

Façamos uma análise mais minuciosa sobre as possíveis origens do sinal “Wow!”:

  • Planetas ou luas? Sinais de banda estreita são geralmente produzidos por fontes artificiais, como é o caso das fontes AM, FM, TV, transmissões de satélite ou radar, enquanto que as emissões de banda larga estão associadas a objetos celestes (galáxias, estrelas, quasares, etc), ou seja, fontes naturais. Neste caso, não é esperado que os planetas do sistema solar ou suas luas emitam sinais de banda estreita (as emissões são tipicamente térmicas e estão associadas à temperatura do planeta, com exceção de Júpiter que pode também emitir radiação não-térmica, do tipo sincrotrão). O sinal captado não coincide com o padrão dos mecanismos de emissão térmico e não-térmico, além de que não estava nenhum planeta localizado na direção do sinal recebido.
  • Asteróides? Por serem objetos rochosos de pequenas dimensões, possuem um campo magnético desprezível e como tal praticamente não emitem radiação não-térmica; a emissão térmica seria extremamente reduzida, e como foi dito no ponto anterior, seria de banda larga ao contrário do sinal captado.
  • Satélites? Se um satélite emitisse a 1.420 MHz, o Big Ear conseguiria detetá-lo mal entrasse na zona sensível de alcance do seu raio. Porém, como é sabido, as frequências em torno da linha do hidrogénio estão proibidas e nenhum satélite deve utilizá-las. Adicionalmente, na linha de alcance do RT não se encontrava nenhum satélite conhecido, além disso, o padrão da deteção seria diferente devido ao satélite mover-se em relação às estrelas.
  • Avião ou nave espacial? Tal como no ponto anterior, a banda protegida em torno dos 1.420 MHz não deve ser utilizada por meios aéreos e um avião deslocar-se-ia a grande velocidade quando comparado com as estrelas.
  • Transmissores em Terra? Neste caso, tanto o emissor como o recetor estariam fixos em terra, logo haveria movimento de emissões em relação às estrelas.
  • Lixo espacial? Um transmissor em Terra a emitir perto dos 1.420 MHz (o que não deveria acontecer) e o sinal a ser refletido por detritos espaciais, só poderia ser detetado em condições específicas, nomeadamente: o detrito teria de ser metálico (e talvez fosse), não poderia exibir rotação durante 12 segundos (pouco provável mas possível) e não se mover durante 12 segundos em relação às estrelas (altamente improvável).
  • Lente gravitacional? Este fenómeno associa-se e eventos de duração mais longa (dias ou meses), diferente do registado. Poderá pensar-se que apenas tivemos acesso aos últimos momentos do efeito de lente gravitacional mas seria pouco provável.
  • Harmónicos? É possível que um transmissor em Terra enviasse um sinal de banda estreita a 710 MHz (metade da frequência da linha do hidrogénio) ou 473,33 MHz (metade do valor anterior) … sim, é possível.
  • Cintilação interestelar? Quando observamos as estrelas no nosso céu, verificamos que cintilam (os fotões emitidos percorrem caminhos diferentes da estrela até nós devido ao efeito da atmosfera). O mesmo pode acontecer com ondas de rádio a viajar pelo espaço. Nesse caso, tudo apontaria para um sinal originado a grande distância e eventualmente de origem ET.
  • Extraterrestres inteligentes? Depois de todas as possibilidades terrestres serem excluídas (por serem improváveis), podemos ser levados a concluir que o sinal recebido poderá ter sido enviado por uma civilização ET. Todavia, o facto de nunca mais o termos detetado impede-nos de obter confirmação.

Por estes motivos, o sinal “Wow!” continuará a permanecer um enigma fascinante e um candidato tentador.

 

Vejamos agora a título académico o comportamento dos dados do sinal “Wow!” simulados no cockpit do ART.  O Projeto ART, significa Awesome Radio Telescope, é da minha autoria e consiste na construção de um radiotelescópio amador na banda de micro-ondas, a 11,2 GHz, do tipo radiómetro, dotado de um sistema automático de aquisição de dados do tipo comercial TV-SAT de baixo custo, utiliza uma antena parabólica de 3 metros. O cockpit do ART é uma folha de Excel com informações e cálculos das variáveis envolvidas durante as observações. Nas imagens seguintes podemos ver todos os dados associados à deteção do sinal “Wow!”:

Simulação da deteção do sinal "Wow!" utilizando o Cockpit do ART. Nem todas as variáveis foram atualizadas.

Simulação da deteção do sinal “Wow!” utilizando o Cockpit do ART. Nem todas as variáveis foram atualizadas.

Simulação da deteção do sinal "Wow!" utilizando o Cockpit do ART. Nem todas as variáveis foram atualizadas.

Simulação da deteção do sinal “Wow!” utilizando o Cockpit do ART. Nem todas as variáveis foram atualizadas (correção de fluxo não efetuada).

Simulação da deteção do sinal "Wow!" utilizando o Cockpit do ART. Nem todas as variáveis foram atualizadas.

Simulação da deteção do sinal “Wow!” utilizando o Cockpit do ART. Nem todas as variáveis foram atualizadas.

A descrição pormenorizada do sinal pode ser consultada no link The Big Ear Wow! Signal (30th Anniversary Report), por Jerry R. Ehman.

4 comentários

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    • Roberto M Manini on 10/05/2019 at 20:43
    • Responder

    Wow!!!
    O sinal Wow!, como ficou conhecido, foi detectado pelo astrônomo Jerry Ehman usando o telescópio de rádio Big Ear da Ohio State University, nos EUA – um detector de sinal de rádio que, na época, foi apontado para um grupo de estrelas chamado Chi Sagittarii na constelação de Sagitário em 1977.
    Todos acreditavam que, finalmente, tínhamos provas de vida extraterrestre.
    Durante os últimos 42 anos este sinal foi citado como evidência de que não estamos sozinhos na galáxia.

    Antonio Paris, da Faculdade de St. Petersburg (EUA), professor de astronomia acredita que o sinal poderia ter sido originado de cometas, que até então eram desconhecidos, que transitavam pelo ponto focado pelo telescópio naquele ano. (Cometas: 266P/Christensen e P/2008 Y2) , os quais tinham longas caudas de hidrogênio. Muitos dos objetos astronômicos emitem ondas de rádio. Em alguns casos, em várias bandas e em outros casos em uma frequência bem definida que corresponde com uma linha espectral, por exemplo:
    Linha de HI ou hidrogênio atômico. Centrada en 1,4204058 GHz.
    Linha de CO (transição rotacional 1-0) associada ao hidrogénio molecular. Centrada em 115,271 GHz.
    Os pesquisadores reconhecem que eles não podem afirmar com certeza que o Wow! foi gerado pelos cometas, mas pode-se dizer com boa segurança que teria sido originado pelo cometa.

    As Ondas de Rádio – Comunicação.
    Como qualquer radiação eletromagnética, as ondas de rádio e TV se propagam em todas as direções à velocidade da luz (cerca de 300 mil quilômetros por segundo). No espaço interestelar, que é praticamente vácuo, elas tendem a viajar para sempre, a menos que se choquem com algum objeto e sejam absorvidas ou refletidas.
    Por exemplo, os sinais da primeira transmissão de TV da História, feita na abertura dos Jogos Olímpicos de Munique (Alemanha) em 1936, já podem ter chegado até a estrela Delta da constelação de Vela, a 64 anos-luz de distância da Terra.
    Penso que dentro da questão temporal ficaria impossível termos um presente em ambos os lados, as distâncias são enormes. Um dia, quem sabe, teríamos a comunicação pelos hipotético hiperespaço e elas seriam mais rapidas. Muitas das profecias tecnológicas de nosso passado, tornaram-se realidade e hoje fazem sucesso.
    Enfim, existem várias teorias sobre o que poderia causá-los, incluindo uma estrela de nêutrons com um campo magnético muito forte girando muito rapidamente, duas estrelas de nêutrons se fundindo e até alguma forma de civilização ou espaçonave alienígena.

    Mas a busca continua!

  1. A probabilidade maior (muito maior) é ser algo natural.
    Quando se descobriram os pulsares, também se pensou ser um sinal inteligente, e afinal era natural.

    MAS, tendo em conta os 72 segundos (pouco mais de 1 minuto) que nunca mais se repetiram, convém lembrar que a mensagem de Arecibo, que nós enviamos, durou somente 3 minutos e nunca mais se repetiu. Podemos ter recebido algo “semelhante” de alguém…
    Claro que para isto acontecer, a suposta civilização teria que estar no nosso nível de desenvolvimento… o que em 13,8 mil milhões de anos é uma impossibilidade virtual 😛
    Eu até diria mais: um ET que ainda use radioastronomia, é tão primitivo e burro, que não merece que percamos tempo com “ele” 😛

    1. Carlos,
      A questão é mesmo essa: nível de desenvolvimento tecnológico semelhante … e a probabilidade é L / 13,8 mil milhões de anos (uma vez que a taxa de formação de estrelas surge convertida para anos, embora não seja necessário muito tempo para o aparecimento e desenvolvimento da vida).
      Não basta que existam outras civilizações, elas devem estar equiparadas a nós em termos de desenvolvimento tecnológico para que as possamos reconhecer e o diálogo possa acontecer.
      Os radiotelescópios são máquinas do tempo, captam sinais eletromagnéticos que podem ter viajado dezenas, centenas ou milhares de anos, o que equivale a dizer, podem ter sido emitidos por civilizações já inexistentes no nosso tempo presente. É semelhante a lermos um livro de um Newton ou Einstein. O mesmo se aplica às nossas mensagens; alguém as pode receber num futuro que a nossa civilização já tenha perecido. Também aqui podemos ilustrar com o exemplo de alguém, daqui a mais de 100 ou 1000 anos, estar a ler esta conversa.
      É um desafio temporal e talvez o contacto só tenha uma direção, não chegando a haver lugar a um diálogo.
      Pode dar-se o caso do nível tecnológico ter evoluído de forma diferente e os sinais ETs estarem ao nosso alcance e não conseguirmos detetá-los.
      Para o SETI ter sucesso, não é necessário que as civilizações estejam no mesmo patamar de desenvolvimento tecnológico, mas sim que estejam à distância certa de modo a captarmos as suas emissões primitivas no momento certo, o nosso presente.
      Abraço.

      1. Sim, com esta parte concordo:
        ” o que equivale a dizer, podem ter sido emitidos por civilizações já inexistentes no nosso tempo presente.”

        Aliás, tens um livro muito bom sobre isso: The Listeners, do James Gunn

        abraços!

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