Vi recentemente este filme (com Ben Kingsley), que absurdamente em português teve a tradução de O Físico, em vez de O Médico.
O filme é fantástico e fez-me lembrar muitas vezes o filme Hypatia/Agora.
Ele conta a história do famoso médico (e não só) persa Ibn Sina.
Numa altura em que na Europa se estava na Idade das Trevas (devido à influência da Igreja Católica), no mundo Árabe continuavam a desenvolver o conhecimento dos Gregos.
O filme também mostra como o mundo árabe, através do método científico, conseguiu combater a Peste Negra.
O filme começa por dizer:
“Na Idade Média, as artes curativas desenvolvidas no Período Romano estão esquecidas na Europa. Não há médicos nem hospitais, somente barbeiros itinerantes com poucos conhecimentos. Na mesma época, do outro lado do mundo, a ciência médica prospera.”
Isto é bastante interessante, porque atualmente temos a ideia que “o outro lado do mundo” é mais primitivo do que o mundo ocidental atual. E isso deve-se ao facto deles estarem debaixo de crenças religiosas. Enquanto no Ocidente atual existe liberdade e fomento pela ciência/conhecimento.
Mas historicamente isto nem sempre foi assim. Já se passou precisamente o contrário.
No filme, o aprendiz de médico revê documentos históricos sobre a peste negra e explica:
“Galeno crê que a peste se deveu a uma desproporção dos quatro humores. Hipócrates atribui-a a maus ares subterrâneos depois de terremotos, devido a uma conjunção de Marte, Júpiter e Saturno.”
Hoje lemos isto e pensamos: eles eram tão primitivos…
No entanto, ainda hoje, esquemas vigaristas como reiki, feng shui, astrologia, etc, fazem destas falsas “explicações” o seu ganha-pão. Ainda hoje vemos vigaristas a dizerem que as doenças graves dependem de humores ou que dependem de certas conjunções celestiais. Isto já para não referir os demasiados vigaristas de internet que relacionam terramotos a conjunções de planetas no céu.
Como vêem, ainda hoje vemos este pensamento primitivo presente em muitas pessoas…
Na altura, na Europa, existiam muitos “vendedores de banha-de-cobra”. Os tais “barbeiros itinerantes” que, sem conhecimentos nenhuns, andavam de terra em terra a vender mesinhas de água (e alguns frascos de mijo de cavalo, como é mostrado no filme).
E, para enganarem as pessoas, diziam que esses frasquinhos de água curavam tudo.
“De ossos partidos a dentes podres, passando por cotos inúteis, pústulas nas costas, líquido grosso e negro nos pulmões… todo o mal conjurado pelo Diabo para flagelar os cristãos… eu e só eu detenho a cura.”
Ainda hoje, a homeopatia vive desta vigarice…
Na citação anterior existe mais uma particularidade: o facto de atribuírem as doenças ao Diabo, sendo os pobres cristãos as vítimas. Ou seja, existe um claro fomentar do medo nas pessoas, baseado em crenças religiosas arcaicas.
Este fomentar do clima de medo, baseado na tirania das crenças religiosas vê-se noutras citações:
“Alá atingiu-os com a peste negra devido aos pecados cometidos na universidade, que corrompe a sociedade com o conhecimento.”
Mais uma vez se vê que a tirania religiosa esteve sempre oposta ao conhecimento.
Ainda hoje se vêem muitos exemplos desta perseguição a quem detém o conhecimento.
“Só a graça de Deus pode curar esta mulher.”
Mais uma vez, esta é uma frase típica ainda hoje, no mundo tecnológico em que vivemos, mas em que estes pensamentos primitivos ainda se mantém.
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