Um Cordão de Galáxias na Constelação dos Peixes

Uma das minhas porções de céu favoritas é a região ocupada pelo grupo de galáxias centrado na NGC383, na constelação dos Peixes. Situado a 240 milhões de anos-luz, este grupo tem a aparência de um longo cordão de galáxias brilhantes, rodeadas por muitas outras mais débeis. É espectacular quando observado com um telescópio de 25cm ou mais de abertura.

Imagem do grupo de galáxias centrado na NGC 383. Os números identificam as galáxias no catálogo NGC. Imagem pelo autor.

Os membros mais brilhantes, e que sugerem a forma de um cordão, são: NGC379, NGC380, NGC382, NGC383, NGC384, NGC385, NGC386. Este curioso alinhamento de galáxias é também conhecido por Arp331, devido à sua inclusão no Atlas of Peculiar Galaxies compilado pelo controverso astrónomo americano Halton Arp, na década de 60 do século XX.

O grupo faz parte do chamado super-enxame de Peixes-Perseu, uma gigantesca parede de galáxias a cerca de 200 milhões de anos-luz visível na direcção das constelações dos Peixes, Andromeda, Baleia, Carneiro, Triângulo e Perseu. Esta estrutura estende-se por 300 milhões de anos-luz e é contígua a um enorme vazio inter-galáctico na direcção da constelação do Touro.

A radio-galáxia 3C31 = NGC383 e os jactos relativísticos. Fonte: NRAO

O maior e mais luminoso membro, NGC383, é uma galáxia lenticular colossal, com um quasar extremamente activo no seu núcleo. Dois jactos de partículas relativísticas emergem do quasar em direcções opostas e estendem-se por milhares de anos-luz envolvendo parcialmente as outras galáxias do grupo. Como seria de esperar com um quasar activo no seu centro, a galáxia emite também radiação muito energética como raios ultravioletas e raios X. A figura seguinte mostra, à esquerda, a região central da galáxia fotografada pelo telescópio espacial Hubble. É bem visível o núcleo intenso brilhante rodeado de um “cachecol” de nuvens de poeira. À direita, à mesma imagem é sobreposta a emissão de raios X (a roxo) observada pelo telescópio espacial Chandra. A região nuclear da galáxia está imersa numa nuvem de plasma muito quente que emite os raios X. Um dos jactos do quasar é bem visível nesta região do espectro electromagnético.

Esquerda: a região central de NGC383 fotografada pelo Hubble. Crédito: Wikipedia.
Direita: a emissão de raios X observada pelo Chandra. Crédito: NASA/CXC/Univ. of Bristol/M.Hardcastle et al. & NASA/STScI.