O mítico rio Erídano, representado na constelação homónima, nasce aos pés do gigante Orionte. A nascente é marcada pela estrela β (beta) da constelação, Cursa, cujo nome em árabe é al kursiyy al Jauzah — “O Escabelo de Jauzah (Orionte)” — , referindo-se a um apoio para o pé direito de Orionte. O rio corre então sinuosamente por entre o Touro, a Baleia, a Fornalha e a Fénix, a Oeste, e a Lebre, o Cinzel e o Relógio, a Este, em direcção ao céu austral. A foz do rio é marcada por Achernar, a estrela α (alfa) da constelação, e a décima mais brilhante do céu. Infelizmente está demasiado a Sul para ser visível das latitudes de Portugal continental e Ilhas, mas é-o facilmente para os nossos amigos no hemisfério Sul.
É nas margens deste longo e sinuoso rio celeste que encontramos o par de galáxias em interacção NGC 1531/2, situado a cerca de 60 milhões de anos-luz e provável membro do Enxame de Galáxias da Fornalha, cujo centro se situa poucos graus para sudoeste. A maior galáxia do par, NGC 1532, é uma grande espiral barrada com dimensões semelhantes às da Via Láctea. NGC 1531, por seu lado, é uma galáxia bem mais pequena, de aspecto amorfo, que parece arrastar consigo parte de um braço espiral da companheira. A “valsa gravitacional” das duas galáxias estimulou a produção de novas estrelas nos braços espirais da NGC 1532, repletos de maternidades estelares que brilham pela acção da radiação ultravioleta das estrelas jovens mais quentes.
No passado dia 11 de Novembro foi descoberta uma supernova na NGC 1532 que foi designada por AT2016iae. Um análise do espectro permitiu concluir que se trata de uma supernova de tipo Ic (lê-se “um-cê”). A investigação realizada nas últimas 3 décadas sugere que este tipo de supernova resulta do colapso gravitacional do núcleo de estrelas de Wolf-Rayet, o estágio final da vida de estrelas muito maciças.
Ao longo das suas curtas vidas, estas luminárias extraordinárias dispersam pelo espaço as suas camadas mais exteriores ricas em hidrogénio e hélio, envolvendo-se num casulo de gás quente e expondo regiões mais interiores. Quando finalmente explodem, o seu espectro é peculiar, desprovido de linhas de hidrogénio e de hélio, e rico em elementos mais pesados nelas sintetizados. Sabe-se que algumas supernovas deste tipo dão origem às famosas erupções de raios gama (gamma ray bursts) detectadas diariamente por observatórios espaciais a distâncias cosmológicas. São um dos fenómenos mais energéticos conhecidos.
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