Amostra de rocha do interior da cratera de Chicxulub.
Crédito: ARae@ECORD_IODP.
Impactos catastróficos poderão ter produzido no passado habitats propícios ao desenvolvimento das primeiras formas de vida terrestres. Esta é uma das conclusões resultantes da expedição realizada por um grupo de cientistas ao interior da cratera Chicxulub, uma estrutura de impacto formada há aproximadamente 65 milhões de anos, no que é hoje a península do Iucatão, no México.
No final do período Cretácico, o golfo do México foi violentamente atingido por um objeto com aproximadamente 14 km de diâmetro. O impacto rasgou uma ferida na crusta terrestre com 180 km de diâmetro e eliminou da face da Terra cerca de 75% de todas as formas de vida, incluindo a grande maioria dos dinossauros.
Em abril de 2016, uma equipa de cientistas liderada por Joanna Morgan, do Imperial College London, no Reino Unido, viajou até ao interior da cratera de Chicxulub para recolher amostras de rocha do anel de picos centrais da cratera, agora localizado centenas de metros abaixo dos fundos marinhos ao largo da costa da península do Iucatão. Os picos centrais das crateras complexas são formados por materiais que emergem das partes mais profundas da crusta durante a fase de modificação das crateras, pelo que estas amostras proporcionam um vislumbre sem precendentes sobre os mecanismos envolvidos na formação destas estruturas.
Divulgados na semana passada num artigo publicado na revista Science, os resultados das primeiras análises a estas amostras sugerem que o impacto de Chicxulub deformou as rochas graníticas que originalmente formavam o interior da crusta na região ao ponto de as tornar menos densas e mais porosas que o previsto pelos modelos que descrevem a formação destas estruturas. Os poros formados no seio das rochas permitiram a circulação de água aquecida no interior da crusta terrestre, possibilitando a acumulação de nutrientes fundamentais para o desenvolvimento de formas de vida simples.
Durante as primeiras fases da sua formação, a Terra foi constantemente bombardeada por asteroides e cometas gigantescos, pelo que deverão ter sido criadas na crusta primordial rochas com características muito semelhantes às do interior da cratera de Chicxulub. Morgan e colegas sugerem que estes habitats poderão ter sido fundamentais para a sobrevivência dos primeiros organismos vivos no nosso planeta.
O estudo valida ainda os aspetos principais do modelo de formação de crateras complexas com múltiplos anéis de picos centrais, não só na Terra, mas também em outros corpos planetários do Sistema Solar. Estes primeiros resultados confirmam que o asteroide que formou Chicxulub atingiu a superfície terrestre com uma força tão tremenda, que deslocou violentamente rochas situadas na altura a 10 km de profundidade! No total, estas rochas percorreram em poucos minutos uma distância de 30 km em várias direções, antes de emergirem na superfície para formarem o anel de picos centrais.
“É difícil acreditar que as mesmas forças que destruiram os dinossauros tiveram provavelmente um papel importante, logo no início da história da Terra, na formação dos primeiros refúgios para a vida no planeta”, disse Joanna Morgan, primeira autora deste trabalho. “Esperamos que as próximas análises forneçam mais informações acerca de como a vida poderá existir nestes ambientes subterrâneos.”
A equipa irá agora realizar um conjunto de análises detalhadas a todas as amostras recuperadas do interior de Chicxulub, com o objetivo de melhorarem as simulações numéricas que descrevem a formação da cratera. No final, a equipa irá procurar por evidências de vida presente ou passada no interior dos poros das rochas, e de sinais da presença de formas de vida pioneiras nas camadas sedimentares logo acima do anel de picos centrais.
Podem encontrar todos os detalhes deste trabalho aqui.
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