Alguns Postais do Universo

No passado dia 26, depois de um longo jejum, consegui finalmente ter uma noite para observar o céu. Na companhia de 3 colegas de vício, passámos a longa noite de Inverno a fotografar recantos especiais da esfera celeste. A combinação de câmara CCD e telescópio que usei permite a aquisição de imagens com um campo de visão generoso — cerca de 2º por 1.5º. A minha atenção virou-se para grupos de galáxias ou galáxias próximas que proporcionam composições fotográficas interessantes. Seguem-se algumas das imagens que obtive com uma pequena descrição. Notem ainda que todas as estrelas visíveis nestas imagens pertencem à nossa galáxia, aparecendo próximas ou sobrepostas às galáxias apenas por um alinhamento casual.

O Trio do Leão, como é conhecido, é formado pelas galáxias Messier 65 (esquerda, em cima), Messier 66 (esquerda, em baixo) e NGC3628 (direita). O grupo situa-se a cerca de 35 milhões de anos-luz, na direcção de Chertan, a estrela teta do Leão.

Este par famoso é constituído pelas galáxias Messier 81 (à esquerda) e Messier 82 (à direita), situadas a 12 milhões de anos-luz na direcção da constelação da Ursa Maior. A interação gravitacional entre as duas galáxias provocou um verdadeiro “baby boom” estelar na Messier 82, e é responsável em parte pelo seu aspecto amorfo. Uma terceira galáxia, Holmberg IX, é visível muito debilmente um pouco abaixo de Messier 81.

NGC2403 é uma galáxia espiral que pertence ao grupo de Messier 81 e 82, apesar de estar situada vários graus para oeste, já na constelação da Girafa. Situada à mesma distância de 12 milhões de anos-luz, esta galáxia é riquíssima em maternidades estelares, várias das quais podem ser vistas como manchas difusas nos seus braços espirais.

Situada a 25 milhões de anos-luz, junto a Alkaid, a estrela no fim da cauda da Ursa Maior, Messier 51 é, na realidade, um objecto composto por duas galáxias: NGC5194 e NGC5195. A primeira é uma belíssima espiral (à esquerda). A segunda, é uma galáxia amorfa situada por detrás da extremidade de um dos braços espirais da NGC5194. Os astrónomos pensam que a simetria inusitada dos braços espirais da NGC5194 se deve à interação gravitacional mútua. De resto, na imagem são visíveis caudas de material que parecem extender-se a partir de NGC5195 e que são muito comuns neste tipo de interacção.

Messier 101 faz um triângulo quase equilátero com Alkaid e Mizar, as duas estrelas no fim da cauda da Ursa Maior. Situada a cerca de 22 milhões de anos-luz, trata-se de uma bela e enorme espiral, mas com os braços menos regulares e simétricos do que Messier 51. Em Agosto de 2011, apareceu uma supernova de tipo Ia — a explosão termonuclear de uma anã branca — num dos seus braços espirais que atingiu a magnitude recorde de +9.9, a mais brilhante em décadas.

Situada a cerca de 24 milhões de anos-luz, na direcção da constelação dos Cães de Caça, adjacente à Ursa Maior, Messier 106 é uma bela espiral barrada. Trata-se de uma galáxia de Seyfert, com um núcleo muito activo onde habita um buraco negro com uma massa de 40 milhões de sóis.

Outro belíssimo exemplo de uma galáxia espiral barrada pode ser visto junto a Alterf, a estrela lambda do Leão. Situada a cerca de 30 milhões de anos-luz, NGC2903 é tão brilhante que só por acaso não foi incluída no catálogo de Charles Messier, sendo mais tarde descoberta por William Herschel. A estrutura espiral é facilmente visível num telescópio de 8 ou 10 polegadas.

Mais longe ainda, a cerca de 40 milhões de anos-luz, o “fantasma” da NGC3184 pode ser visto junto à estrela Tania Australis (mu da Ursa Maior). A galáxia é uma bela espiral com baixo brilho superficial e, por isso, é difícil observar muitos detalhes visualmente num telescópio. Este ano apareceu uma supernova de tipo II — a explosão de uma estrela supergigante vermelha — num dos braços espirais, designada por AT2016bkv. A supernova é visível ainda em imagens com mais resolução do que a aqui apresentada.

Finalmente, já no fim da noite, algo diferente. Trata-se do cometa C/2015 V2 (Johnson), descoberto em 3 de Novembro de 2015 por Jess Johnson do Catalina Sky Survey. O cometa tem a particularidade de ter uma órbita hiperbólica o que quer dizer que tem energia orbital suficiente para escapar completamente do Sistema Solar após a passagem pelo periélio. É visível uma pequena cauda com alguns minutos de arco de extensão. Na imagem, as estrelas não são discos perfeitos mas antes pequenos riscos. Isto deve-se ao facto de o cometa se ter deslocado no céu durante o período de 30 minutos em que foi feita a aquisição de imagens.

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