Estará ao alcance de um astrónomo amador ter êxito na deteção de um exoplaneta? A resposta é afirmativa e vamos ver como pode ser feito.
Depois duma passagem pela técnica da velocidade radial, é chegado o momento de evoluir para outro método indireto: o trânsito.
De todas as configurações orbitais possíveis, existe uma em particular que ocorre quando o planeta passa à frente da sua estrela na orientação da nossa linha de visão. Este acontecimento, dá origem a um evento especial que nos permite deduzir vários parâmetros do sistema planetário e é conhecido pelo método do trânsito.
Em termos práticos, o trânsito é o único método de deteção de exoplanetas disponível para o astrónomo amador e o Qatar 1b foi o alvo escolhido: um Júpiter quente, bastante adequado para garantir uma boa relação entre o raio do planeta e o da estrela (~2%), facilitando a fase da fotometria.
Tudo começou pela força de vontade, coragem e determinação do Cédric Pereira, um apaixonado pela astronomia que decidiu alargar os seus conhecimentos e estrear-se no domínio da exoplanetologia. Teremos aqui um futuro caçador de planetas?
1. Aquisição de dados
- Utilização de telescópio remoto em Itália, Celestron C14, através da Virtual Telescope. O custo de utilização deste telescópio é de 25 € por hora; porém, como alternativa, permito-me sugerir o observatório do João Gregório ([email protected]) para fazer a aquisição das imagens;
- Foram feitas 98 fotografias com 90 segundos de integração, das 17h35 às 20h14 (i.e. com início ~30 minutos antes e depois do trânsito).
2. Ficha técnica do sistema em observação
- Descoberta e referências: anunciado em 2011, por Alsusbai K.A., através do método do trânsito;
- Parâmetros orbitais: período de 1,4 dias, ocorrendo um pouco distanciado do equador (83,5°);
- Parâmetros do trânsito: raio semelhante ao de Júpiter (1,164 Rj), duração de 96,7 minutos e profundidade de 2,1%;
- Propriedades estelares: raio inferior ao do Sol (0,823 Ms) e magnitude 12,8 V; e
- Distância: 175 pc.
- Informações pormenorizadas aqui.
3. Fotometria
- A fotometria diferencial foi obtida através da utilização do MuniWin (freeware);
- Foram utilizadas duas estrelas de comparação e uma de referência;
4. Resultados obtidos
- A curva de luz exibe duração e profundidade em linha com os dados de catálogo;
- O raio obtido foi de 1,176 Rj (catálogo: 1,164 Rj);
- A duração obtida foi de 96,5 minutos (catálogo: 96,7 minutos);
- A forma em “V” resulta da inclinação do sistema ser inferior a 90°, o que significa que o trânsito ocorre distante do equador e o efeito de escurecimento do limbo torna-se mais acentuado;
- Os resultados obtidos foram alvo de publicação no ETD (id 5039).
- Os residuais, diferença entre a magnitude e a curva de luz, apresentam desvios absolutos inferiores a 0,015;
- A massa de ar evoluiu desfavoravelmente ao longo da observação, mas sem comprometer os resultados;
- Na vertical (direita), pode verificar-se que o Sol é ligeiramente maior que Qatar e que Júpiter tem um raio semelhante a Qatar 1b. Quanto à inclinação orbital, Júpiter é mostrado a 90° (alinhado com o equador) enquanto Qatar 1b surge a 83,36° (distanciado do equador);
- Na horizontal (inferior), conclui-se que a inclinação orbital medida é bastante aproximada da de catálogo (83,47°);
Das imagens anteriores evidencia-se uma curva de luz do trânsito harmoniosa. Por outro lado, os resultados obtidos estão em perfeita aproximação com os de catálogo, o que nos reconforta e motiva para novas aventuras. A partir da curva de luz, seremos capazes de deduzir todos os restantes parâmetros do trânsito e compreender melhor o sistema planetário: é este o desafio lançado nos próximos artigos, pormenorizando o método do trânsito. Enquanto isso, os interessados em desenvolver atividades práticas, nomeadamente aquisição de dados para deteção de exoplanetas via método do trânsito, podem contactar-me por mensagem através do AstroPT ou do Facebook.
- Saber mais: Plataforma Exoplanetologia.
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