Na última década, com a ajuda de alguns dos maiores e mais sofisticados telescópios do mundo, os astrónomos puderam determinar que as galáxias primordiais, ainda em crescimento, formavam estrelas a um ritmo dezenas de vezes superior ao actual, em verdadeiros “baby booms” estelares. Mas parece que estes embriões galácticos não eram diferentes apenas pela quantidade mas também pelo tipo de estrelas que formavam.
No 229º Encontro da Sociedade Astronómica Americana, os astrónomos Matthew Malkan e Daniel Cohen, da Universidade da Califórnia — Los Angeles, apresentaram uma análise de imagens profundas (designadas por Subaru Deep Field) obtidas com o telescópio Subaru, situado no topo do Mauna Kea, no Hawaii . A análise demonstra que estas galáxias emitiam radiação copiosamente em duas linhas espectrais (designadas por [OIII]) associadas ao oxigénio duplamente ionizado, nos 501 e 496 nanometros, na região verde-azulada do espectro visível. Esta observação é em si extraordinária pois, para retirar dois electrões aos átomos de oxigénio é necessário irradiá-los com fotões extremamente energéticos, do ultravioleta extremo. Estes fotões são produzidos em quantidades apreciáveis apenas quando a temperatura ambiente é superior a 50 mil Kelvin!
Para o leitor ter uma ideia do quão excepcionais estas condições são no Universo actual, as estrelas normais mais quentes conhecidas são as de tipo espectral O (subtipo O2 mais especificamente) com temperaturas na ordem dos 40 a 50 mil Kelvin. Mesmo estas estrelas não conseguem ionizar facilmente o oxigénio interestelar e produzir uma forte emissão nas linhas [OIII]. Temos de procurar com mais cuidado para encontrar locais na nossa galáxia onde essa emissão é visível, por exemplo, em bolhas de gás ejectadas por estrelas raras e extremamente quentes como as Wolf-Rayet e nas nebulosas planetárias iluminadas pela luz ultravioleta intensa de anãs brancas. No centro de algumas maternidades estelares, associada a grupos compactos de estrelas maciças e quentes, é possível observar alguma emissão [OIII], mas nestes locais a emissão de longe mais comum é a associada ao hidrogénio ionizado, de cor rosa, que requer fotões ultravioletas muito menos energéticos e, portanto, temperaturas mais baixas.
O trabalho de Malkan e Cohen mostra, no entanto, que as galáxias primordiais emitiam intensamente nas linhas [OIII]. Isto implica que nessas galáxias as nuvens de gás interestelar devem estar a ser irradiadas com luz ultravioleta extrema. Esta luz só pode ter origem em estrelas jovens que devem, por isso, ser muito mais quentes (e consequentemente mais maciças e luminosas) do que as estrelas jovens no Universo actual. Estas observações são consistentes com a hipótese de que as primeiras gerações de estrelas se formaram a partir de gás interestelar muito deficitário em elementos mais pesados do que o hidrogénio e o hélio, a que os astrónomos chamam de “metais”. Uma tal composição favorece a formação de estrelas muito mais maciças, quentes e luminosas do que as que vemos actualmente no Universo, em que o gás interestelar foi enriquecido em metais por gerações sucessivas de estrelas que os sintetizaram e disseminaram.
As galáxias estudadas por Malkan e Cohen no Subaru Deep Field têm um desvio para o vermelho de z ≈ 3, correspondendo a uma idade de apenas 2 mil milhões de anos após o Big Bang. Isto quer dizer que o comprimento de onda observado para as linhas [OIII] é 4 vezes (1+z) o normal (em repouso) situando-se no infravermelho próximo. A observação directa de radiação proveniente das primeiras gerações de estrelas é certamente uma tarefa para a próxima geração de telescópios espaciais como o James Webb Space Telescope e WFIRST, da NASA, e o EUCLID, da ESA, todos eles optimizados para observar nesta região do espectro electromagnético.
Fonte: Phys.org
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