Trezentas mil vezes mais luminosa e 1400 vezes maior do que o Sol, a super-gigante vermelha VY Canis Majoris é uma das estrelas mais espectaculares da Via Láctea. Se fosse colocada no lugar do Sol, a sua atmosfera difusa estender-se-ia quase até meio caminho entre Júpiter e Saturno! A estrela é tão grande e luminosa que é instável e o seu brilho varia lentamente de forma semi-regular. Este fenómeno está na origem do seu estranho nome. A combinação de letras maiúsculas — no caso “VY” — é utilizada para designar estrelas de brilho variável. O resto do nome — “Canis Majoris” (Cão Maior) — identifica a constelação onde podemos encontrá-la, um asterismo proeminente junto ao horizonte sul durante os meses de Inverno à latitude de Portugal.
Durante algum tempo pensou-se que VY Canis Majoris fazia parte de um grupo vizinho de estrelas jovens que incluiria a super-gigante azul τ (tau) Canis Majoris e o belo enxame que a circunda, NGC 2362, e o sistema binário super-gigante UW Canis Majoris. No entanto, vários estudos recentes sugerem que estes objectos estão na realidade a distâncias diferentes. A distância da VY Canis Majoris, obtida independentemente por duas equipas usando interferometria em ondas de rádio, é estimada em cerca de 3900 anos-luz.
Na sua infância, a VY Canis Majoris terá sido uma estrela muito quente e maciça de tipo espectral O, com 25 a 30 massas solares. Estrelas maciças como estas evoluem rapidamente à medida que a fusão de sucessivos elementos químicos progride no seu núcleo e em camadas adjacentes. Perdem também parte significativa da sua massa, devido a instabilidades internas, ventos estelares e à pressão da radiação por elas emitida. Ao fim de poucos milhões de anos transformam-se em super-gigantes vermelhas moribundas, rodeadas por um casulo de gás que foram expelindo para o espaço.
Observações recentes com o Very Large Telescope mostram que a estrela está a perder massa ao ritmo espantoso de 30 massas terrestres por ano. A temperatura em algumas regiões do casulo de gás é suficientemente baixa para permitir a formação de poeiras (com base em carbono, silício, magnésio e outros materiais refractários) e moléculas simples como H2O (água!), CO e SiO (monóxidos de carbono e de silício), TiO e TiO2 (monóxido e dióxido de titânio), NaCl (sal!), HCN (cianeto de hidrogénio) e mesmo espécies químicas raras como o PN (nitreto de fósforo).
Apesar da sua enorme luminosidade, a estrela tem uma magnitude visual modesta que varia em geral entre 7 e 9. Por essa razão, precisará de uns binóculos para a observar. A explicação para a aparência débil da VY Canis Majoris está no casulo de gás e poeiras em que está embrenhada. Quase toda a radiação emitida pela estrela é absorvida pelo gás e poeiras e é re-emitida sob a forma de radiação infravermelha, invisível para nós.
De acordo com os modelos de evolução estelar, corroborados por observações, a VY Canis Majoris é uma estrela moribunda. No futuro — agora, na próxima semana, ou daqui a milhares de anos, ninguém sabe ao certo — a estrela formará um núcleo de ferro, um beco sem saída na cadeia de reacções nucleares que a fizeram brilhar durante milhões de anos. A estrela explodirá então numa supernova que iluminará a Terra com o brilho de um crescente lunar.
Para saber mais: ESO.
4 comentários
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Como se acaba uma super gigante vermelha como essa?
E sobre o sistema UW Canis Majoris, evoluirá como VY CM?
Todas as super-gigantes acabam rapidamente como supernova 😉
Então professor tanto um quanto o outro sistema: o UW e VY transformar-se-ao em super nova?
Queria ainda ampliar minha pergunta sobre a possibilidade desta gigantesca estrela tornar-se em um buraco negro é possível?
Todas as estrelas massivas tornam-se supernovas.
Depois de supernova, podem tornar-se estrelas de neutrões ou buracos negros. Só as muito massivas acabam como buracos negros. Esta acabará como buraco negro.
As pouco massivas, como o Sol, tornam-se gigantes vermelhas e depois acabam como anãs brancas.
abraços