Dawn deteta presença de compostos orgânicos na superfície de Ceres

A cratera Ernutet vista pela sonda Dawn. Esta composição foi construída com imagens captadas através de filtros para o azul (440 nm) e infravermelho próximos (750 e 960 nm). As regiões a vermelho coincidem com os locais onde foi detetada a presença de compostos orgânicos complexos.
Crédito: NASA/JPL-Caltech/UCLA/MPS/DLR/IDA.

Cientistas da missão Dawn descobriram evidências da presença de compostos orgânicos complexos na superfície de Ceres, o maior objeto da Cintura de Asteroides. A descoberta foi divulgada na semana passada num artigo publicado na revista Science e sugere que o planeta anão poderá possuir condições ambientais favoráveis à produção de componentes essenciais à vida tal como a conhecemos. As moléculas foram detetadas pelo instrumento Visible and Infrared Mapping Spectrometer (VIR) da sonda da NASA, numa extensa área junto a Ernutet, uma cratera com 52 km de diâmetro localizada no hemisfério norte de Ceres.

“Esta é a primeira deteção inequívoca de moléculas orgânicas a partir de uma órbita em redor de um objeto da Cintura de Asteroides”, afirmou Maria Cristina De Sanctis, investigadora da missão Dawn e primeira autora deste novo trabalho. Os cientistas tinham já confirmado a presença de compostos orgânicos complexos nas nuvens de gás que rodeiam os núcleos cometários e em amostras de meteoritos carbonáceos recolhidos na Terra. Ceres partilha muitas das suas características com este grupo de meteoritos, pelo que esta descoberta reforça a ligação destes pequenos objetos com o planeta anão e com outros asteroides com assinaturas espetrais semelhantes.

Os dados recolhidos pela Dawn suportam a ideia de que estes materiais são nativos de Ceres. A deteção de filossilicatos e carbonatos na superfície cereriana tinham já denunciado a presença de um ambiente quente e rico em água no interior do planeta anão, pelo que é possível que estes compostos tenham sido produzidos nas mesmas condições. “Esta descoberta melhora a nossa compreensão acerca das possíveis origens da água e das moléculas orgânicas na Terra”, disse Julie Castillo-Rogez, investigadora da missão Dawn.

Os materiais detetados apresentam características espetrais típicas de moléculas orgânicas alifáticas e encontram-se distribuídos maioritariamente numa área com aproximadamente 1000 km2. O sinal é particularmente intenso no interior e em redor da cratera Ernutet, mas foram observados também pequenos sinais dispersos em áreas mais afastadas da cratera, incluindo numa pequena área no interior da cratera Inamahari, cerca de 400 km a sudeste de Ernutet. Estes locais coincidem com áreas com um aspeto mais avermelhado que a restante superfície de Ceres. “Estamos ainda a trabalhar na compreensão do contexto geológico destes materiais”, afirmou Carle Pieters, investigador da Universidade Brown, nos Estados Unidos, e um dos coautores deste trabalho.

A Dawn encontra-se agora numa órbita altamente elíptica, que a transporta desde uma altitude de 7520 km até aproximadamente 9350 km. No próximo dia 23 de fevereiro, a sonda da NASA subirá até a uma altitude de cerca de 20 mil km, onde iniciará o estudo de Ceres com geometrias de iluminação diferentes. No final da primavera, a Dawn irá prosseguir com a observação de Ceres num ângulo de iluminação próximo de 0º, o que tornará a sua superfície particularmente brilhante, revelando assim provavelmente mais pistas acerca da sua natureza.

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