Na semana passada, a NASA anunciou a descoberta de um sistema planetário com sete planetas do tamanho da Terra, em órbita duma anã vermelha (TRAPPIST-1), a somente 40 anos-luz de distância. Esta descoberta foi alcançada com o método do Trânsito. Vejamos mais em pormenor como a análise dos dados pode ser feita.
A descrição do evento de trânsito pode ser inicialmente descrita de forma qualitativa, evoluindo naturalmente para a sua expressão quantitativa.
Em termos qualitativos, este método apresenta dois parâmetros fundamentais a considerar: o tamanho da estrela e o do planeta, visto que permitirão fazer a interpretação do sistema planetário onde o trânsito irá ocorrer.
Tomemos por exemplo a observação distante de Júpiter a orbitar à frente do disco solar. Este trânsito irá bloquear uma pequena parte da radiação emitida pelo Sol e durará um tempo específico.
Se variarmos o tamanho da estrela e considerarmos uma estrela mais massiva que o Sol, iremos registar duas mudanças. Não só a percentagem de radiação bloqueada pelo planeta (sobre o total de radiação emitida pela estrela) será menor como também o tempo de duração do trânsito será maior. Por outro lado, se considerarmos uma estrela mais pequena (com cerca de um décimo da massa do Sol), o trânsito será semelhante a um eclipse e o efeito será inverso: teremos uma elevada percentagem de radiação bloqueada e um trânsito mais curto.
Outra análise que podemos fazer é relativa ao tamanho do planeta. Se em vez de Júpiter considerarmos um planeta mais pequeno (semelhante à Terra), a sombra será menor e a deteção será muito mais difícil.
Relacionando estes parâmetros, torna-se possível determinar o tipo de estrela e de planeta em observação, o que faz com que o método do trânsito se apresente como o único a dar-nos informações sobre o sistema planetário.
Em termos quantitativos, a análise pode ser feita ao longo do tempo e quanto à forma.
Quanto ao tempo, podemos distinguir as seguintes varáveis:
- delta é a profundidade;
- T é a duração do trânsito, isto é: tempo em que o planeta se encontra totalmente à frente da estrela; e
- tau é o tempo que o planeta demora a entrar totalmente no disco.
A variável deve ser divida em dois momentos distintos: o tempo de entrada no disco (Tii – Ti) e o tempo de saída (Tiv – Tiii), dado que em órbitas mais excêntricas assumem valores diferentes. Como, no caso geral, a diferença é insignificante, vamos considerá-los iguais. O tempo total do trânsito é definido como o tempo de duração do trânsito (T) adicionado ao tempo de entrada no disco:
Antes de passarmos à assinatura do método, vamos assumir algumas simplificações no modelo:
- Mp << M*, a massa do planeta é muito menor que a da estrela (ou seja: não se aplica a sistemas binários);
- Rp << R* << a, o raio do planeta é muito menor que o da estrela e o planeta não pode orbitar muitíssimo próximo da dela;
- b << 1 – k, o trânsito não pode ocorrer nos limites da estrela, precisa de ter uma duração mínima no tempo, onde k = Rp/R*, o raio do planeta a dividir pelo raio da estrela;
- e = 0, a excentricidade é nula.
Para podermos calcular a duração do trânsito da Terra, vamos considerar que a sua órbita é circular, sendo o perímetro dado por 2PIa e T0 o tempo que o planeta demora a percorrer um semicírculo, que corresponde à distância percorrida em 2R. Aplicando a regra de 3 simples, resolvendo em ordem a T0, vamos obter uma duração aproximada de 13 horas (ao longo da linha do equador).
Depois da descrição do trânsito no tempo, vejamos agora a interpretação da curva de luz quanto à forma, nomeadamente a dependência dos seguintes fatores: fases do planeta, profundidade, cor da observação e parâmetro de impacto (distância ao equador).
- As diferenças de fase do planeta vão afetar o fluxo total emitido pelo sistema planetário. A equação do fluxo total pode ser escrita somando o fluxo da estrela (que é assumido constante e igual a 1) ao fluxo do planeta (que é variável durante o seu movimento de translação). No entanto, existem dois momentos particulares: durante o trânsito, será necessário subtrair ao resultado o valor da luz da estrela ocultada pelo planeta; durante a ocultação, teremos de subtrair ao resultado o valor do fluxo do planeta.
- A profundidade do trânsito, delta, é definida pelo quadrado da razão entre o raio do planeta e o raio da estrela.
- Outro aspeto a considerar é a cor da observação. O escurecimento do limbo é um efeito ótico visto em estrelas (incluindo o Sol), onde a parte central do disco aparece mais brilhante do que o bordo ou membro da imagem, e ocorre como resultado de dois efeitos: a densidade e a temperatura da estrela diminuírem do centro para a periferia. O escurecimento do limbo ocorre mais acentuadamente, embora de forma mais lenta, em comprimentos de onda menores, ou seja, no azul, e menos nos maiores, isto é, no vermelho. Por isso, tende-se a utilizar filtros que atuam na banda do vermelho.
- A forma da curva de luz depende da distância da travessia ao equador. Quando o trânsito ocorre no equador (b = 0), a forma da curva tende para U; em trânsitos mais distantes do equador, a curva vai assumindo forma de V (além da natural menor duração). A expressão que determina o parâmetro de impacto é a seguinte:
Depois da descrição do trânsito em termos qualitativos e quantitativos, no próximo artigo iremos abordar os parâmetros físicos do trânsito.
- Saber mais: Plataforma Exoplanetologia.
2 comentários
Obrigado pelo artigo, muito esclarecedor, simples e direto!
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Ricardo, agradeço o comentário. Obrigado 🙂