Que coisa mais bizarra, que implica um rato todo guloso.
Porquê uma nova estirpe?
Numa direcção comporta-se como um sólido semelhante a um cristal, muito mais denso (mais do triplo) do que o betão armado, e nas outras direcções como um superfluido, como um gás sem obstáculos, que flui sem perdas de energia.
Esta estirpe bizarra e rara foi obtida com recurso a condições laboratoriais ultra controladas, desde logo por uma temperatura perto do zero absoluto, na ordem dos nano Kelvin, uma escala científica que se converte para pouco mais do que −273.15 °C .
Para lograrem esta descoberta, os cientistas do Departamento de Física do MIT tiveram de recorrer a técnicas muito sofisticadas de deteção como a reflexão de Bragg, que evidencia uma ordem de longo alcance numa só direcção, típica dum sólido, porquanto consegue manter uma distribuição do movimento extremamente pronunciada nas outras direcções, o que é uma propriedade típica dos superfluidos, ou condensados, leia-se gases, de Bose-Einstein (BEC’s).
Imaginem para efeitos de exemplo que têm um cubo de gelo na mão. Num dos lados este cubo é normal, mas nos outros lados este cubo deixa-vos passar a mão por dentro sem sentirem nada nos dedos.
É de facto muito bizarro, mas a natureza pode evidenciar estes comportamentos bizarros, e esta experiência ultra controlada no laboratório reflecte o comportamento dos átomos ultra frios, como se observam no Universo na sua fase de expansão moderada, que é a fase mais prolongada da sua evolução até ao tempo local de hoje.
Notem que esta descoberta numa escala tão pequena, a dos átomos, tem relevância para a escala descomunal da Cosmologia, da história do gigantesco Universo.
Combinando as designações de Superfluido e de Sólido esta descoberta foi chamada de Super-sólido, dado encorpar materialmente estas duas propriedades antagónicas.
O mecanismo desta estirpe de fase da matéria é o acoplamento do movimento orbital dos electrões, ou o seu movimento ao logo duma direcção, com o seu movimento de rotação intrínseco, ou spin, nas condições controladas referidas.
Esta pesquisa confirma a descoberta publicada em Julho de 2007 na qual cerca de 2% dum cristal de Hélio constituído por 2 mil átomos exibiu um fluído sem fricção ao longo do eixo com deslocação em espiral, conforme apresentada na imagem abaixo.
Esta nova estirpe da matéria, poderemos dizer de matéria paradoxal, permite um muito melhor entendimento sobre os cristais quânticos.
Nestes, a topologia dos materiais é constante, ou seja, é o mesmo que termos um queijo suíço com buracos e o torcermos, ou congelarmos.
O número de buracos desse queijo fica o mesmo, sem embargo de outras propriedades se terem alterado de forma radical.
Esta simetria, ou constância do número de buracos, promete capacidades extraordinárias na transmissão de impulsos eléctricos, e apresenta uma enorme gama de futuras aplicações, desde a promessa do computador quântico de enorme capacidade até à mais quotidiana transmissão de energia eléctrica para as nossas casas sem percas na rede, sem alteração do número de buracos na rede, com recurso a materiais já aplicados.
A grande dificuldade é obter estes comportamentos em temperaturas e em condições do dia-a-dia, mas pelo menos nos ultra sofisticados laboratórios, o que era apenas uma hipótese nos anos 1970 já é uma realidade contemporânea descoberta e confirmada, como atesta o Prémio Nobel da Física de 2016.
Um dia, no futuro, talvez o rato dos computadores percorra deliciado um queijo suíço, gastando quase nenhuma energia e trabalhando, deliciado, no mesmo número de buracos.
Últimos comentários