Quando o Universo nos Prega uma Partida

No dia 9 de Abril de 2017, o observatório GAIA, da ESA, detectou uma “nova estrela” débil nos braços espirais da Messier 63, também conhecida por “Galáxia do Girassol”, na constelação dos Cães de Caça. Alguns dias mais tarde, uma análise do seu espectro permitiu concluir que se tratava de uma supernova de tipo Ia, a explosão termonuclear de uma anã branca, próxima do pico de brilho. Isto criou um imbróglio: à distância da Messier 63 — cerca de 25 milhões de anos-luz — uma supernova deste tipo deveria atingir uma magnitude de 10 e ser visível com um pequeno telescópio. No entanto, a SN2017dfc, como foi designada, atingiu um pico de brilho de apenas magnitude 18, 1600 vezes mais débil do que o esperado. Mais, as linhas no espectro da supernova estão deslocadas para o vermelho por um valor correspondente a z = 0.06, equivalente a uma distância de cerca de 800 milhões de anos-luz. Uma análise detalhada de imagens de arquivo da Messier 63 sugere uma explicação. Junto à posição da SN2017dfc há um objecto com uma tonalidade avermelhada visível através dos braços espirais, provavelmente a galáxia longínqua onde ocorreu a supernova e que, por um acaso raro, se encontra por detrás da Messier 63! Parece que o Universo resolveu pregar-nos uma pequena partida.

A galáxia Messier 63 e a supernova SN2017dfc fotografadas com o telescópio “Elena” do Virtual Telescope.

A imagem acima foi obtida remotamente com o telescópio “Elena”, do projecto VirtualTelescope, durante a noite de 21 para 22 de Abril. Trata-se da combinação de 7 exposições individuais de 600 segundos com um filtro de luminância. O processamento foi feito pelo autor. Os contornos irregulares das estrelas mais brilhantes devem-se a um fenómeno designado por “blooming” — o excesso de carga eléctrica em alguns píxeis do sensor transborda para os píxeis vizinhos. A supernova SN2017dfc é bem visível (assinalada com os traços vermelhos) nos braços espirais da Messier 63.

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