Se só muito recentemente começámos a procurar vida ET, fará sentido falar em Paradoxo de Fermi? No artigo anterior abordámos a perspetiva teórica mas agora perguntamos: o que nos dizem os cálculos?
Consideremos um cenário hipotético de uma civilização ET equipada com um radiotelescópio semelhante ao de Arecibo (Potência: 2 MW; frequência 1.420 MHz; diâmetro da antena: 300 m; eficiência: 0,7; largura de banda: 1 Hz) e aqui na Terra uma antena com o mesmo diâmetro (recetor com temperatura de sistema de 26K; tempo de integração: 2 minutos). Estabelecendo uma relação sinal/ruído de 10, a comunicação teria um alcance máximo na ordem dos 1.970 pc (~6.400 anos-luz).
Esta distância corresponde a um volume sensitivo de:
Se utilizarmos uma densidade estelar de 0,05 pc^-3, vamos obter um resultado de estrelas ao nosso alcance. Recordo que as estimativas da massa da Galáxia apontam para a existência de cerca de 200.000.000.000 de estrelas. A expressão seguinte é válida para distâncias inferiores a 300 pc (aproximadamente a altura do disco galático na zona onde se encontra o Sol):
Ora, dessas estrelas, o nosso radiotelescópio apenas consegue visualizar 110 de cada vez:
o que significa que necessitamos de 53 anos para rastrear todas as estrelas dentro do nosso alcance:
Note-se que os cálculos estão feitos apenas para uma frequência. Isto significa que se pretendermos fazer deteções em 10 frequências diferentes, o tempo de rastreio passará para 530 anos.
Talvez seja este o motivo pelo qual ainda não detetamos sinais extraterrestres, e a ser assim, então não existe paradoxo nenhum.
Mas um dia, num futuro breve, seremos capazes de perscrutar a galáxia a velocidades muito mais elevadas e a distâncias cada vez mais longínquas. E se aí também não tivermos encontrado sinais extraterrestres? Talvez a resposta esteja no último fator da Equação de Drake, a curta existência da vida (L).
A vida na Terra começou há 3,8 mil milhões de anos; o Homo Sapiens Sapiens tem somente 125.000 anos; a civilização tem 10.000 anos e a tecnologia para comunicação existe há menos de 100 anos. Se pudéssemos encurtar o tempo do Universo em apenas 1 ano, o homem moderno teria surgido no dia 31 de dezembro pelas 23:55 e a escrita teria sido inventada 15 segundos antes do final do ano.
A matemática mostra-nos que quanto mais tempo a nossa civilização existir, mais distante conseguirá comunicar (com receção de resposta), aumentando a probabilidade de encontrarmos civilizações alienígenas. O mínimo terá de ser 30.000 anos (equivalente a uma distância de 15.000 anos-luz em qualquer direção) mas isso pressupõe que existam mais 10 civilizações (uniformemente distribuídas) na Via Láctea, cujo desenvolvimento tecnológico seja quase igual ao nosso, o que atualmente pode ser visto como um cenário demasiado otimista. Podemos fazer algumas comparações rápidas:
- a mensagem de Arecibo foi enviada para o enxame de Hércules a 25.000 anos-luz de distância, pelo que a resposta nunca chegará no prazo de 50.000 anos;
- o telescópio espacial Kepler tem um alcance de 6.000 anos-luz na procura de exoplanetas;
- as primeiras mensagens de rádio produzidas na Terra, encontram-se à distância de 100 anos luz.
Novamente um dia, num futuro próximo, seremos capazes de viver até aos 1.000 anos. Teremos novos conhecimentos e um melhor enquadramento do Universo e da nossa existência. E se nessa altura também não tivermos encontrado sinais extraterrestres?
“Qual é a ideia mais assustadora, sabermos que estamos sós no Universo ou que existem outras civilizações inteligentes?” Aqui na Terra temos sido a espécie dominante. E se isso mudasse de repente e fossemos submetidos à vontade de outra civilização mais avançada?
- Saber mais: Plataforma “Extraterrestres Inteligentes (Eti)”
10 comentários
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Obrigada, pela explicação.
Então, superando a angústia que fica! Supondo que existem civilizações muito mais avançadas, ( civilizações, nível 4) com tecnologia muito mais desenvolvida , que a velocidade da luz pode ser superada e que também procuram vida inteligente, pode ou não chegar um sinal?
Não teríamos como detectar ou sequer de saber que tipo de sinais civilizações de nível 4 enviariam.
Nem sequer conseguimos imaginar uma civilização dessas…
abraços
Obrigada pela resposta!
Gabriela
Imagine uma formiga a “falar” com outras (por feromonas) e a tentar adivinhar como os Humanos falam por telemóvel/celular…
Não conseguiria…
Ou melhor, seria como se as formigas nem se dessem conta que existem Humanos… para as formigas, pedras ou humanos seria a mesma coisa.
Se não sabem que existem Humanos, porque não conseguem detectá-los, muito menos pensariam em formas de comunicar… 😉
E, no entanto, estamos mais perto das formigas, do que entidades extraterrestres avançadas estão de nós (em termos evolutivos)…
abraços
Olá
Sim concordo com o ponto de vista!
Não deixa de ser frustrante e tão limitativo!
Mas nós não estamos sós, nesta imensidão de espaço. Não faz sentido! No Universo só o planeta Terra ter vida inteligente,? bem sei que foram condições muito especiais que permitiram vida e que bastava um pequeno desvio em alguns parâmetros para não ter acontecido, mesmo assim!
Bom trabalho.
Não é um ponto de vista. Não é uma opinião.
Uma civilização de nível 4 não seria detectada, compreendida ou sequer corretamente imaginada por nós.
Será que a Terra tem vida inteligente?
A definição de inteligência é subjetiva… aos humanos.
abraços
Olá.
Obrigada pelas correções. Tenho muito para aprender e só posso estar agradecida, aliás neste momento único, toda a humanidade tem de aprender, em sentido lato.
Cuide-se!
Um abraço
Na categoria da Astrobiologia tem muitos artigos sobre esta temática, se estiver interessada. 😉
E nós temos feito várias palestras pelo país, caso tenha oportunidade de assistir (não nesta altura, claro!) 😉
abraços!
P.S.: veja as escalas de Kardashev aqui:
https://pt.wikipedia.org/wiki/Escala_de_Kardashev
Civilizações extraterrestres de nível 4, seriam para nós como deuses. Ou melhor, ainda teriam mais “poderes” que aqueles que atribuímos normalmente a Deus. Por isso, seriam para nós completamente incompreensíveis (quer em termos de poderes, de ética, de comportamentos, de tecnologia, etc), incluindo em termos de detecção. Quem lhe disser que sabe como esses deuses extraterrestres seriam, ou que sabe o que eles quereriam, ou que sabe como eles comunicam, etc, está-lhe a mentir. Não pode saber. Até fisicamente, o nosso cérebro seria incapaz de compreender (ou até imaginar corretamente) algo desse género. Por isso, a resposta mais correta é: não sabemos 😉
https://www.academia.edu/20805621/DEVEMOS_TENTAR_OU_TEMER_UM_CONTACTO_EXTRATERRESTRE
Author
Obrigado João Carlos por partilhares connosco a tua visão :), tornando este contributo bastante mais enriquecedor.