A Cassini mergulhou no passado dia 15 de Setembro, para sempre, na atmosfera de Saturno, terminando a sua missão de exploração planetária ao fim de 20 anos no espaço. Baptizada com o nome do grande astrónomo franco-italiano do século XVII Giovanni Domenico Cassini, ele próprio responsável por várias descobertas relativas a Saturno, a sonda foi lançada em Outubro de 1997 numa longa viagem que aproveitou a gravidade da Terra e de Vénus para a projectar na direcção do planeta gigante, tendo entrado na sua órbita em Julho de 2004. Graças à experiência e competência técnica de milhares de engenheiros e cientistas que participaram no seu desenho e construção, a Cassini ultrapassou largamente os 3 anos previstos de duração da missão, tendo funcionado com um registo quase perfeito.
De facto, o fim da missão não foi ditado por problemas funcionais da sonda mas antes pela quantidade limitada de combustível disponível para controlar com precisão as órbitas por ela realizadas. Os cientistas não quiseram correr o risco de uma colisão futura com algumas das luas de Saturno que podem ter formas primitivas de vida, potencialmente contaminando-as com microorganismos terrestres — existem bactérias na Terra capazes de resistir anos a fio no espaço e os processos de esterilização a que são submetidas as sondas antes do lançamento não são, suspeita-se, 100% eficazes.
Nos 13 anos que passou na vizinhança de Saturno, a Cassini revolucionou o nosso conhecimento sobre o planeta gigante, os seus anéis e as suas luas, em especial Titã. De facto, uma sonda mais pequena, construída pela ESA e designada por Huygens, outro gigante da astronomia do século XVII e descobridor de Titã, viajou encavalitada na Cassini até Saturno e pousou mesmo na superfície da lua em Janeiro de 2005. A missão será lembrada, não tenho dúvidas, como uma das mais produtivas e espectaculares missões planetárias alguma vez realizadas.
O mergulho final da Cassini começou às 8h04m do passado dia 12 de Setembro quando a sonda passou a cerca de 119 mil quilómetros da superfície de Titã. A manobra, programada com uma precisão extraordinária a uma distância de quase 1500 milhões de quilómetros, aproveitou o puxão gravitacional da lua para abrandar a sonda o suficiente por forma a baixar a sua altitude na próxima passagem por Saturno. Condenada a atravessar as camadas superiores da atmosfera do planeta durante o dia 15 de Setembro, a Cassini manteve-se fiel à sua missão e continuou a enviar dados em tempo real provenientes do seu espectrómetro de massa — dados que permitirão aos cientistas determinar a composição atmosférica local — até ter sido perdido o contacto via rádio. Eram 12h55m46s em Portugal Continental.
Referências: os últimos meses da missão Cassini
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