A descoberta recente de ondas gravitacionais e uma erupção de raios gama associadas a uma colisão de estrelas de neutrões na galáxia NGC 4993 confirmou uma teoria que vinha ganhando momento na última década e que sugere que os elementos mais pesados da tabela periódica (e.g., ouro, platina, urânio e tório) são formados maioritariamente nestes eventos.
Eventos como as colisões de estrelas de neutrões são tão extraordinários e distanciados da nossa percepção quotidiana do mundo que nos rodeia que é difícil imaginar que tenham alguma relação connosco ou alguma influência na nossa existência. No entanto, a descoberta referida mostra que tal não poderia estar mais longe da verdade. Senão, veja a imagem seguinte de uma tabela periódica em que se indicam os processos astrofísicos responsáveis pela produção dos vários elementos químicos. O corpo humano precisa de muito poucos elementos pesados, elementos acima do grupo do ferro-zinco (Fe-Zn, na quarta fila), mas um deles é mesmo fundamental: o iodo (símbolo “I”, na quinta fila, do lado direito, o número 53).
O iodo é um constituinte das hormonas que regulam o metabolismo nas células do corpo humano e que são produzidas pela glândula tiróide. As hormonas são designadas por T3 (triiodotironina) e T4 (tiroxina) e é bem possível que tenha já feito análises em que a concentração destas hormonas no sangue foi avaliada. Olhe de novo para a tabela periódica. A maior parte do iodo que existe no Universo foi produzido precisamente em colisões de estrelas de neutrões como a que originou as ondas gravitacionais GW170817, detectadas pelos observatórios LIGO e Virgo, e a erupção de raios gama SGR170817A, detectada 1.7 segundos depois pelo telescópio espacial de raios gama Fermi, no passado mês de Agosto.
O astrónomo e incomparável comunicador de ciência Carl Sagan disse um dia:
“O nitrogénio no nosso ADN, o cálcio nos nossos dentes, o ferro no nosso sangue, o carbono nas nossas tartes de maçã foram feitos nos interiores de estrelas em colapso. Somos feitos de material das estrelas.”
A descoberta da colisão na NGC 4993 mostra que somos também, um pouco, material de estrelas de neutrões há muito desaparecidas!
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