Na noite de 11 para 12 de Novembro aproveitei o bom tempo proporcionado por este Novembro inusitado para fazer mais uns postais do céu de Outono. Esteve uma noite serena, fria e seca. O céu estava particularmente limpo de poeiras devido à parca chuva que caíra dias antes.
O primeiro alvo da minha atenção foi a galáxia NGC 404, situada mesmo ao lado de Mirach, a estrela beta da constelação de Andrómeda. Num telescópio, a galáxia é visível como uma mancha difusa junto à estrela brilhante, dando por vezes a sensação de que se trata de uma reflexão interna no instrumento ou sujidade na óptica. Por este motivo é conhecida por “Fantasma de Mirach”.
NGC 404 é uma galáxia muito interessante. Situada a cerca de 10 milhões de anos-luz, é de um tipo misto entre as “espirais” e “elípticas” designado de “lenticular”. Os astrónomos pensam que este tipo de galáxias se forma em resultado de colisões entre galáxias normais. A NGC 404 é um pouco mais luminosa, mas mais pequena, do que a Pequena Nuvem de Magalhães, uma galáxia satélite da Via Láctea visível a partir de latitudes mais meridionais do que as de Portugal Continental, Madeira e Açores.
No seu núcleo, um buraco negro com algumas dezenas de milhar de massas solares mantém uma actividade moderada detectada por observatórios espaciais capazes de observar em raios-X. A galáxia é também rodeada por um anel de estrelas quentes e jovens pouco conspícuo no visível, detectado pelo observatório de ultravioletas GALEX, da NASA. Os astrónomos pensam que estas estrelas são o resultado de um encontro furtivo com uma outra galáxia há milhões de anos.
O alvo seguinte foi o par de galáxias em interacção Arp 78, constituído pela espiral NGC 772 e a lenticular NGC 770. O resultado dos puxões gravitacionais mútuos é notório na forma amorfa da NGC 770 e na assimetria pouco usual dos braços espirais da NGC 772. O par situa-se a uma distância de cerca de 100 milhões de anos-luz. A espiral é uma galáxia colossal com o dobro do tamanho da Via Láctea, semelhante em dimensão à Galáxia de Andrómeda.
Para além do par central, a imagem contém imensas galáxias e quasares distantes que podem ser identificados na imagem anotada que se segue.
Destaco a galáxia lenticular UGC 1445, com uma região nuclear de brilho intenso, situada ao dobro da distância do par. Os nomes das galáxias provém dos catálogos UGC (Uppsala General Catalogue of Galaxies) e LEDA (Lyon-Meudon Extragalactic Database). De entre os quasares destaco o QSO B0156+187, de magnitude 19, cuja luz demorou 11 mil milhões de anos a fazer a viagem até nós. Por outras palavras, quando a luz capturada pelo sensor saiu do quasar, o Universo tinha apenas 2.5 mil milhões de anos. Outros quasares situados a distâncias semelhantes, descobertos pelo Sloan Digital Sky Survey (SDSS), estão também assinalados.
A última imagem que obtive, antes da Lua ainda gibosa ter aparecido, foi um pedacinho delicioso do enxame das Plêiades — a Nebulosa ou Véu de Mérope. Mérope é o nome de uma das Plêiades, uma das filhas de Atlas e Pleione, um casal de titãs, a velha geração de deuses, na mitologia grega. Trata-se de uma estrela 5 vezes mais maciça e 600 vezes mais luminosa do que o Sol. A idade do enxame, e portanto a de Mérope também, é estimada em 100 milhões de anos. Decorrido tanto tempo desde a sua formação, todo o gás e poeira remanescentes foram dissipados.
A nebulosidade que vemos hoje em torno das Plêiades não é, por isso, original mas antes obra do acaso. O enxame atravessa uma região do espaço ocupada por uma das mais próximas maternidades estelares — a Taurus Molecular Cloud 1 — a cerca de 430 anos-luz. Esta nuvem, bem visível em imagens de longa exposição e de grande campo da constelação do Touro, é rica em gás e poeira interestelar que reflete eficientemente a luz branca-azulada das luminárias do enxame, Mérope inclusive.
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