Como as drogas salvaram a minha vida

Quando fui diagnosticada com Colite Ulcerosa, no auge dos meus 27 anos, da minha carreira profissional e da minha juventude, senti o chão a abrir-se e a engolir-me. Como é possível uma doença para a vida?! Com uma vida pela frente, o desconhecido da doença, o carimbo na testa de doente crónica, sem cura, foi muito dificil de aceitar.

A medicação não parecia ajudar e perante o meu sentimento de impotência comecei a procurar soluções em todo o lado: medicina tradicional chinesa, acupunctura, naturopatia, reflexologia, etc. Alterações na dieta, agulha aqui agulha acolá, gotinhas disto, comprimidos daquilo, e a coisa parecia estar a melhorar.  Como qualquer ser humano, começas a melhorar largas a medicação. Para quê entupir-nos de quimicos, não é? Tomas apenas quando a coisa parece estar a apertar, porque afinal “eu controlo tudo só com a alimentação”.

A dieta restritiva a que fui colocada não demorou muito a mostrar os seus resultados: anemia perniciosa. Basicamente um tipo de anemia que entre outras coisas afecta o sistema nervoso central e que surge por baixos niveis de vitamina b12. Onde se encontra a vitamina b12? Maioritariamente na carne, que o suposto “doutor” me disse para retirar totalmente da dieta. 5 meses a injecções de vitamina b12. Nada simpáticas e com a necessidade de vigiar constantemente valores, porque o meu sistema digestivo deixou de conseguir processar o alimento que não consumia há algum tempo.

Mas claro que a malta diz “a culpa é da doença”, nunca culpa dos “tratamentos” prescritos. E lá vai continuando feliz e contente a controlar tudo com a “alimentação”, diarreia aqui, sangue acolá, mas tudo ok. Mais cego é aquele que não quer ver e, hoje, não podia estar de mais acordo.

Os anos passaram-se, mudei-me para Bruxelas e nem me preocupei com procurar um gastro. Para quê? Estava tudo sob controlo!

Só que… tive uma intoxicação alimentar. Entrei em crise e foi uma coisa dantesca como nunca tinha sido antes. A doença revelou-se em todo o seu esplendor: dores, sangue, sequelas no corpinho, perda de peso, noites sem dormir, etc… até que usei fraldas para conseguir sair de casa. O desespero tolda-nos o racicionio e numa ida a Portugal voltei a passar por um naturopata. Mas… não estava bem, nada ajudava, parecia ter umas fases que tudo estava a melhorar para logo a seguir ter uma gigantesca recaída que nem conseguia levantar-me.

Procurei um outro gastro em Bruxelas que quando lhe mostrei a lista de todos os sintomas, infecções, problemas de pele, olhos, e após eu lhe dizer que “até já começo a sentir-me melhor” nestes 10 meses, me disse: “muito tempo sem tratamento adequado! A doença tornou-se esperta e agora está numa fase sorrateira. A próxima vez que se mostrar, vai ser ainda pior!” Oi? pior?! Pior do que usar fraldas para sair de casa na minha mente nem sequer era concebível! Mas a frase “muito tempo sem tratamento adequado” deixou-me sem chão. Eu podia ter evitado tudo aquilo? Eu podia ter feito melhor?

Sem lamentações, segui o tratamento à risca que me foi prescrito. Demorou algum tempo, porque nestas doenças, as coisas não acontecem de um dia para o outro. As drogas que eu tanto quis evitar e tinha recusado no passado, ajudaram-me a manter o meu intestino intacto, a recuperar a minha vida, a lançar projectos de uma vida e a ajudar outros. As drogas, que eu tanto abdominava e que tantos receiam, salvaram-me o intestino e a vida; ensinaram-me que cada macaco no seu galho: o médico estudou e sabe mais do que eu ou do que os “habilidosos” que apregoam soluções baseadas em coisas que não existem, que não se comprovam, e que só colocam a saúde em risco a médio/ longo prazo. Mesmo que nos sintamos melhor. As aparências iludem e nestas doenças tem tudo que ser como S. Tomé: ver para crer. E quem tem que ver e ajudar é o médico especialista em Doença Inflamatória do Intestino. É quem prescreve tratamentos que têm um nivel de segurança e eficácia controlado e garantido. Não quem prescreve tratamentos inadequados, que causam ainda outros problemas e que são comercializados como suplementos, que lhes garante a ausência de fiscalização, teste e regulamentação.

Chamem-me mente fechada se quiserem. Mas sabem… foi (infelizmente) por experiência que assim me tornei!

 

(Texto originalmente publicado aqui)

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