Nos últimos anos as pessoas têm adquirido uma forma de estar diferente em relação às suas finanças. Quando um produto ou serviço é mais caro do que o que costumam pagar ou mais caro do que um semelhante elas queixam-se. Mas falta a educação de pensamento crítico, o outro ponto de vista. Se eu for arranjar os travões de um carro e, depois de uma mota, é normal que o preço do arranjo dos travões de um carro seja mais caro, mas eu não sei se o da mota é caro porque nunca necessitei de arranjar travões de motas, nem conheço outros casos. Além disso sou leigo nestas coisas de mecânica para saber se me estão a enganar, mesmo estando algo habituado a pagar por arranjos de travões de carros. E é aqui que está um dos problemas e grande evidência da aldrabice das terapias alternativas.
Quando compramos um produto, o preço dele tem de incorporar o custo desde a transformação da matéria-prima até ao produto final, ou seja, edifícios; serviços como água, luz, gás; materiais; funcionários; marketing; etc. Até aqui toda a gente compreende que um produto pode custar € 2 em vez de € 0,02 ou mesmo € 0. Quanto mais investimento há sobre o produto, mais caro ele se torna para compensar os custos. Mas isto é a estória bonita.
À margem existe o lucro excessivo de produtos ou serviços onde não são contabilizados os termos como deveriam. Vou-vos dar um exemplo:
O sr. Jorge tem um táxi com ar condicionado, água e DVD. Tudo para meu conforto… e para poder cobrar € 20 numa corrida de 1Km. O sr. Carlos, por sua vez, tem um carrinho-de-mão para me levar na mesma corrida e cobra o valor de € 50.
O sr. Jorge tem de pagar combustível, revisões, inspecções e arranjos de material que se estraga. No fim da corrida de € 20 o lucro dele pode ficar em € 15. O sr. Carlos arranjou umas rodinhas para não ter de carregar com o peso do carrinho-de-mão e, assim, não gastar tanto em água e mantimentos. Ao não gastar tanta energia também não gasta tanto dinheiro. O lucro do sr. Carlos dificilmente baixa dos € 48.
Depois de uma analogia simples e de fácil compreensão, vou agora entrar na parte interessante: indústria farmacêutica e as terapias alternativas.
De um lado temos a indústria farmacêutica, com equipas de investigação, laboratórios, muito material, investimento em certificações, em acreditações e em estudos. Do outro lado temos as terapias alternativas, com investimento numa breve formação e num consultório. Os medicamentos, como são alegadamente “naturais” não sofrem processos de transformação química. Desta forma o custo de produção e o valor investido é muito baixo. Temos, então, um táxi (indústria farmacêutica) e um carrinho-de-mão (terapias alternativas).
Para quem não entende, ou não percebia o que acontece por detrás da cortina, pagava bem os €50 por um frasco de bolinhas de açúcar, tudo natural, sem os monstros químicos, sem grande parafernália de equipamentos, apenas um espirituoso senhor de boas energias que capta, com todo o respeito, umas folhas de uma amiga árvore, esmaga-as e produz o magnifico medicamento para todas as maleitas (ai se a medicina sabe disto!…). Com o seu doutorado em alternatividades aldrabónicas, mas parco conhecimento científico, vende o milagre financeiro. Talvez haja aqui um qualquer efeito de mercado onde um produto inútil torna-se apetecível quando é caro, tal como acontece com alguns artefactos de arte.
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