A Lua numa imagem obtida pelos astronautas da missão Apollo 17.
Crédito: NASA/Emily Lakdawalla.
Embora a Lua seja atualmente um local inóspito para a vida tal como a conhecemos, é possível que num passado distante as condições ambientais na sua superfície tenham sido suficientemente amenas para sustentarem formas de vida microscópica simples. De acordo com um trabalho recentemente publicado na revista Astrobiology, o único satélite natural da Terra poderá ter passado por dois períodos transitórios de habitabilidade logo após a sua formação. O primeiro terá surgido há mais de 4 mil milhões de anos, quando o manto da Lua era ainda um imenso oceano de magma incadescente, enquanto que o segundo deverá ter ocorrido centenas de milhões de anos depois, durante o pico de atividade vulcânica que esteve na origem das vastas planícies basálticas que hoje podemos apreciar no seu lado vísivel.
Durante estes períodos de intensa atividade vulcânica, a Lua libertou do seu interior grandes quantidades de compostos voláteis superaquecidos, incluindo vapor de água. Neste novo trabalho, os dois investigadores Dirk Schulze-Makuch, da Universidade do Estado de Washington, nos Estados Unidos, e Ian Crawford, da Universidade de Londres, no Reino Unido, sugerem que estes compostos gasosos poderão ter criado uma atmosfera suficientemente densa para permitirem a formação de massas de água líquida estáveis na superfície lunar durante algumas dezenas de milhões de anos. “Se a água líquida e uma atmosfera significativa estiveram presentes na Lua durante longos períodos de tempo, então a superfície lunar deveria ter sido pelo menos transitoriamente habitável”, explicou Schulze-Makuch.
Schulze-Makuch e Crawford assentam a sua argumentação em dados recentemente obtidos pelo espectrómetro M3 da sonda indiana Chandrayaan-1, e na análise detalhada de amostras de rocha e solo lunares, recolhidas pelas missões Apollo e pelas sondas soviéticas Luna. Estes resultados confirmam não só a presença de vastos depósitos de gelo de água no interior de crateras localizadas nas regiões polares da Lua, como também a existência de quantidades significativas de água no manto lunar. Tais reservas foram provavelmente depositadas logo após a formação da Lua, pelo impacto de asteroides e cometas na sua superfície.
A sobrevivência desta hipotética atmosfera teria sido limitada não só pela duração e intensidade dos fenómenos vulcânicos na superfície lunar, como também pela erosão resultante da exposição dos gases atmosféricos ao fluxo constante de partículas subatómicas provenientes do Sol. No entanto, os dois autores fazem notar que, nesse período, a Lua estaria muito provavelmente escudada por um intenso campo magnético global, o que teria reduzido de forma significativa a ação erosiva do vento solar.
Se a vida alguma vez existiu na Lua, é possível que tenha surgido da mesma forma que o fez na superfície da Terra. Contudo, Schulze-Makuch e Crawford pensam que o cenário mais provável é que a vida possa ter sido transportada mais que uma vez para a superfície lunar a bordo de meteoritos provenientes do nosso planeta. Microfósseis de cianobactérias preservados em rochas com 3,5 a 3,8 mil milhões de anos constituem, neste momento, os mais antigos vestígios de vida terrestre. Nesse período, a Terra e a Lua foram incessantemente bombardeados por inúmeros objetos provenientes das regiões mais exteriores do Sistema Solar, pelo que é possível que meteoritos contendo organismos simples como cianobactérias possam ter sido arremessados do nosso planeta para a superfície lunar.
“É muito possível que nessa altura a Lua tenha albergado condições de habitabilidade”, afirmou Schulze-Makuch. “Poderão ter existido microrganismos a proliferar em pequenas poças de água até ao momento em que a superfície lunar ficou seca e inóspita.” Schulze-Makuch reconhece que a única forma de confirmar se a vida alguma vez emergiu na Lua depende exclusivamente “de um futuro programa de exploração lunar mais agressivo”. Este programa passaria certamente por missões espaciais dirigidas para a recolha e análise de amostras de rochas vulcânicas formadas durante o período de intensa atividade vulcânica na Lua, com o objetivo de verificar a presença de água ou de outros compostos marcadores de atividade biológica.
Podem saber mais detalhes sobre este trabalho aqui.
2 comentários
Ainda pode ter.
Sabemos que tem crateras com gelo.
Uma parte do gelo pode derreter diariamente (ou em outros ciclos de tempo) e depois congelar de novo.
Tornando possível uma vida pelo menos bacteriológica, intermitente, no período que ela esta liquida.
Author
Olá Arnaldo,
A Lua não tem atmosfera, pelo que se o gelo acumulado no interior das crateras dos polos da Lua alcançasse temperaturas relativamente elevadas sublimaria de imediato. Ou seja, nunca se criariam condições favoráveis para a vida tal como a conhecemos, inclusivé para formas de vida mais simples.