Upside Down

Upside Down (Amor entre Dois Mundos) é um filme verdadeiramente criativo.

Existem dois planetas gémeos que estão gravitacionalmente “colados”, enquanto orbitam a sua estrela. Cada planeta está invertido em relação ao outro.
Assim, pode-se cair para cima… e subir para baixo.

Os planetas têm as suas superfícies quase coladas um ao outro, sendo que as gravidades puxam em direções opostas: a gravidade de um puxa para o seu centro de massa e a gravidade de outro puxa para o seu próprio centro de massa. Ou seja, cada planeta tem gravidade própria e contrária à do outro planeta.
É como se fosse um único planeta, com duas metades separadas, e com gravidade dupla (cada gravidade para a sua metade). Segundo diz o filme, é o único sistema planetário no Universo com gravidade dupla.

Existem 3 leis na Gravidade Dupla:
– toda a matéria, cada objeto, é atraído pela gravidade do planeta donde veio (e não do outro);
– pode compensar-se o peso dum objeto num dos mundos com a matéria do mundo oposto, ou seja, utilizar matéria inversa;
– após algumas horas de contacto, a matéria em contacto com a matéria inversa entra em combustão.

Adam e Eden são duas crianças que se conhecem quando ambos passeiam sozinhos pelas superfícies montanhosas dos seus planetas. Cada um deles olha para o céu e vê o outro “de cabeça para baixo”.
Anos depois, como jovens teenagers, eles tentam que Eden “suba” até ao planeta de Adam. Mas é proibido as pessoas passarem entre planetas, porque é muito perigoso: as pessoas podem morrer.
Assim, quando são apanhados, são afastados um do outro.

Adam e Eden estão separados pela classe social: Adam vive no “Fundo”, na classe trabalhadora, pobre; enquanto Eden vive no “Topo”, numa sociedade mais evoluída tecnologicamente e mais rica.
Adam e Eden estão separados pelo sistema político: Adam vive no “povo”, enquanto Eden vive na classe dirigente.
Mas sobretudo Adam e Eden estão separados porque vivem em planetas diferentes, com gravidades que os puxam em direções opostas.

10 anos depois, Adam vê Eden na televisão.
Então começa a usar vários truques para poder “subir” até ao planeta de Eden e não morrer enquanto lá está. Ou seja, ele coloca-se em perigo, para poder falar com ela novamente, e quiçá ficarem juntos.

Após algumas desventuras, eles ficam juntos, têm filhos gémeos, e ambos os planetas prosperam juntos.
É o esperado final feliz.

A ideia do filme é muito imaginativa. O filme é bastante criativo.
E por isso, tinha um grande potencial.

Visualmente, o filme é muito bom. Os efeitos visuais são impressionantes.
A forma como aparecem os edifícios, e como os planetas “se tocam” é fabuloso.
Pessoalmente, queria ver mais disto.

Infelizmente, o filme é lamechas, porque se concentra na história romântica entre Adam e Eden.
A tagline/lema do filme é: e se o amor fôr mais forte que a gravidade?
É verdade que é esta história de amor que dá a motivação às personagens do filme, mas, para mim, limita bastante o filme.

O final do filme desiludiu, porque se passa tudo de forma perfeita.
A revolução esperada aconteceu, e a sociedade passa a ser a ideal.

Quanto à ciência… é melhor nem falar, porque cientificamente, o filme é todo um grande disparate.

Adorei os courts de basquetebol que aparecem no final do filme, em que os jogadores passam a bola entre eles, entre o Topo e o Fundo.

Gostei da Torre que une os dois mundos, que é a sede da empresa TransWorld. A Torre também funciona como uma plataforma petrolífera, que permite que o “Topo” fique rico à custa da exploração do “Fundo”. A Torre que une os dois mundos, fez-me lembrar a ideia de um elevador espacial entre a Terra e a Lua.

Gostei igualmente dos escritórios no piso 0 da Torre. O Piso 0 tem pessoas a andarem normalmente no solo e no teto. Cada uma das pessoas olha para as pessoas na superfície oposta como estando de cabeça para baixo.

Gostei também do Café dos Mundos, que tem no seu enorme salão, pessoas a dançarem no chão e no teto.

Gostei bastante da ideia das abelhas cor-de-rosa que recolhem pólen de flores dos dois mundos.
Apesar disto não fazer sentido, tendo em conta as leis do filme.

Gostei do desenvolvimento de um creme anti-envelhecimento que faz com que as rugas desapareçam, já que “voltam para cima”. Ou seja, o creme permite fazer face-lifts. É um produto anti-gravidade, ou melhor, de ser puxado pela gravidade do outro planeta.

Também interessante foi o desenvolvimento da solução híbrida que resiste a ambos os campos gravitacionais, incorporando líquido/matéria de ambos os planetas.

Adorei a parte em que Adam puxa Eden para o seu mundo, e ela fica no teto de uma rocha virada para baixo no “Fundo”. Ela fica invertida, porque a gravidade do seu mundo ainda a afeta e a puxa para ele.
O mesmo se passa com as coisas. Por exemplo, no “Topo”, no Café dos Mundos, servem copos vindos do “Fundo”, sendo assim copos invertidos. Como a bebida também veio do “Fundo”, assim o copo está invertido com a bebida lá dentro (pega-se nele virado para baixo).
Assim, as pessoas e as coisas continuam com a gravidade como seria no mundo deles, mesmo estando no outro mundo (onde estão invertidos).

Uma das mensagens do filme é que quem consegue realmente mudar o mundo, é quem pensa diferente. Apesar de serem alvo de reprovação e até de represálias pela sociedade, que quer manter o status quo, aqueles que pensam diferente são os que conseguem grandes feitos.

Não consigo entender como Adam e Eden conseguem comunicar por voz entre os dois mundos. Existe ar (matéria) a unir e a misturar-se entre os dois mundos?

Quando Adam coloca tiras de matéria do outro mundo em si próprio, para poder ir até ao outro mundo, porque os pés dele ficam mais perto do chão do outro mundo? Deviam ficar ao mesmo nível do resto do corpo. Tal como acontece com Eden da primeira vez que eles se encontram no “Fundo”, em que ela aparece deitada no teto da rocha.

Como é que Eden consegue comer e beber o líquido dentro do copo, no Café dos Mundos? Nem a comida nem a bebida deviam poder descer pelo seu organismo.

Conclusão: apesar de ser um filme soberbo em termos visuais, e de ter uma premissa muito interessante, a verdade é que a história não se desenvolveu bem, tornando-se um filme romântico e lamechas.

É um filme que visualmente nos cativa e que nos desperta o sense of wonder.
Mas depois desilude-nos em termos de história…

Cientificamente, o filme é complexo e confuso. Na verdade, não faz qualquer sentido.

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