Divergente

A trilogia Divergente mostra um mundo pós-apocalíptico.

Supostamente o mundo está destruído, e um oásis nesse deserto é a cidade de Chicago.
Em Chicago, as pessoas estão divididas em fações baseadas em virtudes humanas.

Esta categorização das pessoas, faz com que Chicago tenha ordem, paz e se desenvolva bastante.

As 5 fações/categorias desta sociedade são:
– Eruditos: pessoas inteligentes que privilegiam o conhecimento (ciência), a racionalidade e a lógica. São os cientistas.
– Agricultores (Amity): pessoas que trabalham no campo. São pessoas meigas, amáveis, cordiais, felizes, e estão em harmonia com a natureza. Privilegiam a paz.
– Justiça (Candor): pessoas que valorizam a honestidade e a ordem, acima de tudo. Dizem sempre a verdade. Privilegiam a franqueza. Consideram-se objetivos e imparciais. São os juristas e juízes da sociedade.
– Polícia (Dauntless): são bravos, destemidos, ousados, valentes e corajosos. Aparentemente não têm medo de nada. São um pouco loucos. São intrépidos. Enaltecem a atividade física, e nos seus comportamentos arriscam a vida. Eles vivem no limite. Talvez por isso, os Dauntless são jovens: provavelmente não conseguem envelhecer, porque morrem cedo em comportamentos irresponsáveis. Eles dizem que são o único grupo que realmente são livres: fazem o que querem. São os que protegem a população de Chicago. São similares a soldados (guerreiros) e polícias.
– Abnegados: aqueles que renunciam as suas próprias vontades, em função das necessidades de outras pessoas (generosidade). Rejeitam bens materiais e vaidade. Levam uma vida simples, de ajuda aos pobres. Praticam a caridade. São pessoas altruístas. Assim, são o grupo escolhido para gerir a sociedade (são os políticos, governo).

Cada fação tem um determinado papel na sociedade. Todas as pessoas têm uma função na sociedade.

As pessoas sabem a que grupo pertencem, e ficam felizes por pertencerem a esse grupo.
Aparentemente estamos na presença de uma sociedade utópica.

No entanto, existe uma outra fação, “escondida”, “secreta”, chamada Divergente. Os Divergentes não cabem em somente uma fação: pertencem a várias. Eles não têm sentimento de pertença por somente um grupo. Os Divergentes têm características de várias fações. Assim, a lealdade destes pode ser questionada.
Apesar de serem considerados como raros, eles são vistos como uma ameaça ao governo, ao status quo, às normais sociais, à ordem e à paz.

Por fim, existe ainda outra fação, feita por aqueles que não têm fação. Aqueles que, aparentemente, não fazem parte de qualquer das 5 fações principais ou foram expulsos da sua fação por não serem suficientemente bons para lá estarem, são ostracizados da sociedade utópica e vivem como os sem-abrigo, sem local de pertença. São os Factionless.
Não pertencer a nenhuma fação é: ser invisível na sociedade, viver abandonado em extrema pobreza, não ter quaisquer direitos sociais.

Aos 16 anos, é administrado um teste prático de personalidade aos cidadãos.
Esse teste diz a que grupo, as pessoas vão pertencer para toda a vida.
É um teste de realidade virtual com vários desafios para avaliar as atitudes da pessoa perante diversas situações: será que o/a jovem é inteligente? Meiga? Honesta? Altruísta? ou Corajosa?

Beatrice Prior faz o teste. O teste dela teve situações em que foi abnegada, noutras vezes foi corajosa e ainda noutra vez foi inteligente. Começou por ser inteligente ao questionar que tipo de coisa devia escolher. Passou por abnegada ao deixar-se matar por um cão raivoso. E terminou o teste sendo corajosa ao atirar-se para cima do cão raivoso para salvar outra rapariga. Assim, Tris é uma divergente.
Além disso, em várias situações, Tris resolve os problemas de forma surpreendente, “outside-the-box”, fora do normal. Ou seja, ela pensa de forma diferente: é uma Divergente.
Na Cerimónia de Escolha, Tris, como é conhecida, escolhe a fação Dauntless, de Corajosos. (Ninguém pode/deve ser Divergente) Ela sente-se fascinada pela liberdade dos Dauntless.

O irmão de Tris, Caleb Prior, escolhe os Inteligentes Eruditos.
Os pais, Abnegados, ficam sozinhos (sem os filhos).

Os inteligentes Eruditos promovem um golpe de estado, porque acham que eles, sendo inteligentes, é que deviam governar a população (em vez dos Abnegados).
Assim, os Eruditos criam uma droga que faz com que quem a consome fique mais apto para a sugestão: siga as ordens sem questionar.
Com a droga, criam um exército de Dauntless fanáticos (que seguem as ordens sem questionar).

Existe um genocídio da população, sobretudo da fação dos Abnegados (que estava no poder). A guerra pelo poder estava praticamente ganha.
No entanto, Tris consegue dar a droga que controla a mente a Jeanine, a líder dos Eruditos.
Sob a influência da droga, Jeanine cancela os planos para o golpe de estado.
Tris consegue acabar com o genocídio dos Abnegados.

Gostei bastante do filme.
No entanto, pareceu-me que tem várias semelhanças com o filme Hunger Games (e tem o mesmo público-alvo), e neste caso, prefiro este último.

É um bom filme de entretenimento, com uma excelente premissa: de pensar diferente, por si próprio, sem ser dominado pelo controlo social.
Aliás, estas são as grandes mensagens do filme: o controlo social, o pensamento diferenciado, e a (não) conformidade.

Na prática, o filme diz-nos que somos mais complexos do que um simples rótulo.

Gostei do filme, não pela história em si, mas sobretudo pelas reflexões sociais que o filme invoca.

O filme mostra uma sociedade bastante estruturada, como a nossa. É uma crítica social.

Na sociedade futurista de Chicago, é esperado que as pessoas tenham só uma dimensão. Como se as pessoas tivessem só uma característica. Faz-me lembrar muito a ficção científica com alienígenas. Por exemplo, em Star Trek, os Klingon são os soldados, e os Vulcan são os inteligentes. Muitas das vezes vemos os alienígenas desta forma uni-dimensional: supostamente têm uma só característica, enquanto os Humanos é que as têm todas.

Esta sociedade é considerada como utópica.
No entanto, como vamos percebendo, é uma sociedade distópica.

Existe um fanatismo inerente à sociedade, de endeusarem aqueles que eles caraterizam como “puros”, que têm uma só característica. Esses são os “merecedores” da sociedade.

Os Divergentes são os impuros. Eles não se conseguem incorporar totalmente numa das categorias. Assim, o governo considera-os perigosos, porque não se adequam à conformidade do status quo. Os Divergentes são considerados uma ameaça à sociedade, às normas da sociedade, e sendo assim, quem está no poder quer eliminá-los.
Os mais perigosos são sempre aqueles que pensam por si próprios, que pensam de forma diferente, que têm pensamento crítico. Isso assusta os conformistas no poder porque se sentem ameaçados por aqueles que não conseguem controlar. No caso da sociedade do filme, quem não se enquadra perfeitamente dentro de uma categoria, não consegue ser devidamente controlado dentro “da caixa”.

No filme, é dito que os Divergentes são raros.
Mas esta informação governamental parece ser desinformação de forma a manter a calma das pessoas. Assim, menos pessoas quererão ser Divergentes.
A verdade é que existem vários Divergentes no filme: Tris Prior, Caleb Prior, Natalie Prior, Tobias Eaton, Uriah, e certamente muitos outros que não são personagens principais da história.

Tris é uma Divergente. É uma dissidente social. Ela nasceu assim. Não é culpa dela. O facto de ter nascido com mais de uma característica, não faz dela malvada. E essa característica biológica dela, molda a sua personalidade, mas não é contra ninguém. Em vez de a deixarem ser tal como ela é, a sociedade persegue-a, porque, supostamente, essas não são as normas, os valores da sociedade em que Tris está inserida.
Isto obviamente é uma forte crítica às perseguições das minorias na nossa sociedade. O facto de Tris não perceber porque não a deixam simplesmente ser como é, espelha as conversas, sobretudo sobre homossexualidade, na nossa sociedade.

Além disso, Tris quer mais da vida do que aquilo que se lhe é apresentado. Ela não segue as regras sociais que lhe impõem.
Devido a isso, Beatrice entra numa viagem de auto-descoberta, para superar os seus medos e descobrir quem é de verdade.
Essa viagem, a sua vida, também lhe permite descobrir segredos na sua sociedade aparentemente perfeita. Assim, ela é uma ameaça para essa sociedade e para o status quo – o que é uma característica dos Divergentes (os Divergentes pensam de forma independente e por isso o Governo não os consegue controlar, o que os torna uma ameaça para a ordem social – todas as fações são controladas socialmente e mentalmente).

Gostei do plano falhar: o Governo não é para os inteligentes, mas sim para os altruístas que ajudam os outros. É uma ideia utópica, claro.

No final, qualquer pessoa pensaria em matar Jeanine.
Tris também a podia matado. No entanto, se o fizesse, morriam muitas mais pessoas naquela sociedade. Provavelmente, a sociedade colapsava totalmente.
Tris não a matou. E com isso salvou milhares de pessoas.
Tris pensou de forma diferente, de forma divergente. E, ironicamente, foi o facto de Tris ser Divergente que salvou Jeanine (que, se dependesse dela, mataria todos os Divergentes).

Teoricamente, o que Jeanine defende tem toda a lógica: as pessoas mais inteligentes deviam ser as responsáveis pela governação de todos. No entanto, o mais inteligente (seguro) seria os Abnegados nos governarem.
Parece-me que o filme também dá a entender essa lição…

Supostamente, os Dauntless (Corajosos) são livres.
Mas quando Tris entra no grupo, percebe que não existe liberdade.
Existe uma hierarquia clara. E há quase uma ditadura dentro dessa hierarquia. Toda a gente tem que obedecer. Ninguém pode questionar nada.
Pior do que isso, por vezes têm comportamentos (saltar) em que obedecem “de olhos fechados”. Devido a isto, os iniciados são muito mal tratados.
Ora, isto não é liberdade. Os Dauntless não são livres.
A ideia, a crítica social, parece ser que ninguém é realmente livre. Mesmo aqueles que, aparentemente, são extraordinariamente livres, também estão sujeitos a regras como os outros.

Por fim, é interessante a droga que promove a sugestão e faz com que as pessoas sigam cegamente alguém, sem qualquer sentido crítico.
Isto, claramente, é uma droga que favorece religiões e pseudociências.

Não entendi para que é preciso tanto treino mental para controlar os outros. Afinal, eles têm o soro que faz isso facilmente. Parece-me que existe este paradoxo no filme.

Insurgent é o segundo filme desta trilogia.

Jeanine, líder dos Eruditos, diz que foram os Divergentes a atacar e a massacrar os Abnegados. Por isso, Jeanine declara a Lei Marcial.

Beatrice (Dauntless e Divergente), o irmão Caleb (Erudito e também Divergente), e Tobias (Divergente, Dauntless e namorado de Tris), escondem-se em Amity, nos Agricultores.
Depois, fogem para os Factionless.
Seguidamente, vão para Candor.

Candor (Justiça) tem uma droga que faz com que as pessoas digam a verdade. Quando as pessoas tomam a droga, veem os seus segredos e as suas mentiras expostos para toda a sociedade.

Os Eruditos criam um dispositivo metálico/tecnológico para controlar totalmente as pessoas.

Ficamos a saber que, afinal, o resto do mundo, para além desta cidade dividida em fações, ainda existe.
O mundo pós-apocalíptico foi uma ideia implementada na mente das pessoas, de modo a produzir esta experiência sem as pessoas saberem que faziam parte da experiência.

A mensagem dos fundadores (da cidade) é que a experiência das fações se destina a criar os que transcendem as fações: os Divergentes.

Gostei deste filme, mas o primeiro foi melhor.

Neste filme, percebemos que a ideia do mundo pós-apocalíptico foi só uma manipulação de modo às pessoas aceitarem estar nesta “bolha” chamada Chicago.

Jeanine sobrevive no primeiro filme. Pelos vistos, foi um erro.
Se Tris a tivesse matado, ela já não decretava a Lei Marcial.

Por outro lado, percebe-se bem a manipulação feita pelas pessoas no poder.
Elas (Jeanine) transmitem a informação que querem, mesmo que seja uma enorme mentira.

As pessoas que se comportam, aparentemente (de fora), de forma errada, racionalizam esses comportamentos como sendo certos.
Neste caso, Jeanine assume sempre que está a fazer a coisa certa, pelo bem comum. Para ela, os fins (o bem comum) justificam os meios.
A cientista nos filmes Maze Runner, justifica as suas ações da mesma forma.
É sempre assim.

A mensagem dos fundadores (da cidade) é que a experiência das fações se destina a criar os que transcendem as fações: os Divergentes.
Afinal, os Divergentes não são o problema, mas sim a solução.

Na verdade, os Divergentes são as únicas pessoas “normais”, já que pertencem a várias fações.
Os outros, os supostos “puros”, só têm uma característica de personalidade. Os Divergentes têm várias características de diversas fações. São as pessoas normais, completas.

O último filme foi chamado Allegiant.

Beatrice, Tobias, Christina, Peter e Caleb saem da cidade Chicago.
O planeta parece estar destruído. O solo está radioativo. Está assim há 200 anos. A chuva é vermelha e ácida. A atmosfera é tóxica.
Mas a Humanidade prevaleceu e desenvolveu-se tecnologicamente em vários oásis.

Eles são levados por uma agência misteriosa: Bureau of Genetic Welfare.

No início do século XXI, avanços no conhecimento genético das pessoas fez com que se criassem indivíduos praticamente perfeitos.
Isto levou a uma guerra nuclear mundial (“Purity War”) que quase destruiu a civilização.
Pessoas “puras”, “perfeitas”, com uma só característica, levaram ao quase extermínio da Humanidade. Os Humanos são indivíduos com várias características: as pessoas normais são as Divergentes.

O Bureau criou a experiência de Chicago.
O Bureau controla tudo e todos em Chicago, através de uma vigilância apertada de toda a cidade por meios tecnológicos bastante avançados.

O Bureau parece um local idílico.
Mas as coisas não são assim perfeitas…
Na verdade, o Bureau rapta crianças para as levar para as diferentes experiências. De modo a não se lembrarem da sua vida anterior, as suas memórias são apagadas.
Além disso, as memórias das pessoas nas experiências podem ser periodicamente apagadas, de modo a recomeçar a experiência.

E é isso que o Bureau tenta fazer em Chicago.
Mas Tris vence e não deixa que isso aconteça.

No entanto, no final, David – o líder do Bureau – parece continuar a controlar os comportamentos de Tris e dos outros…

Este filme foi o pior da trilogia.

A tecnologia futurista é excelente!

Evelyn, a nova chefe de Chicago, tem os mesmos problemas que Jeanine: apresenta os mesmos comportamentos e atitudes.
Isto é uma crítica à sociedade: independentemente das boas intenções, e de aparentemente as pessoas serem diferentes, quando se chega ao poder o “diabinho” aparece…

Aparentemente, sem nunca ter aprendido ou sequer visto aquelas tecnologias, Tris rapidamente pilota aviões e luta com armas avançadas. Isto é absurdo.

Os habitantes de Chicago estavam num avançado Big Brother sem saberem.
No Bureau, todos conheciam Tris, Tobias e os outros. Eram estrelas de cinema.
Isto fez-me lembrar o filme Truman Show.

Isto pode levar a conspirações de que estamos todos a ser enganados, a ser controlados e vigiados por outros, como num Truman Show ou num Joe Schmo Show.

Em termos de misticismo, as pessoas do Bureau podem ser interpretadas como deuses. Os deuses vigiam e controlam tudo o que se passa cá em baixo.

Em termos de astrobiologia, podemos discutir a Hipótese de Reality Show, uma das potenciais soluções para o Paradoxo de Fermi. Neste caso, o Bureau seria composto por alienígenas avançados que vigiam a experiência criada por eles: a cidade de Chicago seria o planeta Terra.

No final, Tris vence. O que pode ser interpretado como o povo a derrotar os seus deuses.
Mas tendo em conta a imagem final de David a vigiar Tris, será que o povo realmente ganhou, ou é só mais uma manipulação dos “deuses”?

Estava planeada uma sequela seguinte: um novo filme ou uma série de televisão, de modo a finalizarem a história.
No entanto, ambas as ideias foram canceladas.

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